Tudo começou aqui.
Mentira: tudo começou um pouco mais acima, numa cidade chamada Madrid-Dos-Anos-Cinquenta.
O telefone tocou, a mãe dela, Carmen, bateu á porta
"Carmencita, sal de la ducha de una vez, es Neli al telefono..."
O cabelo louro escorria das mil lavagens vaidosas. Enfiou-o à pressa na toalha e acorreu a falar com a sua melhor amiga. Atendeu com um sorriso cúmplice mas, à medida que ouvia a voz do lado de lá, os lábios mudavam de forma
"Vale, vale, que sí, que voy, bueno..."
Irritada, contou à mãe: o namorado de Neli, um português chamado José Manuel, tinha vindo visitá-la. Não podendo vir sozinho, trouxera o irmão mais novo. Iam almoçar dali a meia hora e a amiga, querendo namorar sem ter que dar demasiada atenção ao estrangeiro desconhecido, decidiu que teria não um, mas dois paus-de-cabeleira. Era a última coisa que a Tita lhe apetecia pero... todo se hace por la amistad.
Em minutos, enrolou o cabelo numa "banana" bem cuidada e ajustou-o cuidadosamente num chapéu cinzento de aba larga. Vestiu-se de acordo, maquilhou a pele branca e os olhos verdes e, contrafeita, chegou com dez minutos de atraso ao restaurante.
Procurando a mesa com o olhar, descobriu sem surpresa a amiga e o namorado que já conhecia. O inesperado sobreveio logo depois: o coração bateu-lhe desenfreadamente no peito à vista do cabelo preto e liso, da tez morena e dos olhos inteligentes daquele que deveria ser o irmão.
Um mês depois anunciou aos pais que se ia casar com o português. E que iriam viver para África. Carmen e Jesus, no seu conservadorismo castelhano e no desespero de ver a única filha-mulher-menina partir para pouco menos que a Lua, deixaram de lhe falar durante dois meses. O coração partiu-se-lhe mas Tita não cedeu: 120 dias depois de se conhecerem, casavam-se com toda a beleza e dignidade do conto de fadas que ela sempre tinha imaginado.
Dias depois partiam para Angola e para uma das maiores aventuras da sua vida.
to be continued...
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