quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

2008

Desculpa, mas não vou ter saudades tuas. Não vou ter, não. Levaste muita gente demasiado cedo, trouxeste conflitos em catadupa que geraram guerras sem quartel, fizeste rebentar muitas crises que deixaste primeiro amadurecer em bolha para depois arderem mais rápido. Foste difícil, imprevisível, irascível, impiedoso. Por tudo isto, não te lembrarei com glória ou com a vontade de que o tempo volte atrás.

Contudo, não sou capaz de não te agradecer. Não sou, não. Todas as pessoas que levaste já não estavam bem aqui. Todos os conflitos que geraste eram necessários. Todas as crises, inevitáveis. O que fizeste foi apenas colocar muitos dedos em muitas feridas. É preferível enfrentar um touro pelos cornos do que não os ver chegar em manada. Deixas uma queimada atrás de ti. Por ela te digo obrigada. 

A terra está quente, libertando-se de porcaria e miséria, aos poucos. Que melhor terreno pode haver para semear e voltar a colher?

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Exercícios de humildade

Existem uns senhores lá em cima que de vez em quando decidem puxar-nos as orelhas e fazer-nos ver que nem sempre pode ser tudo como queremos. É como se lá do alto escolhessem todos os dias uma pessoa e dissessem "esta vai ter que esperar um bocadinho; está mesmo a precisar". Existem, claro que sim. Tive hoje a certeza disso mesmo.

Programámos cada pormenor, o meu marido esforçou-se valentemente para ter todas as coisas prontas a tempo e horas, criou tabelas maravilhosas nas quais dividimos tarefas e fizemos a planificação dos dias... até que esta coisa me contagiou (eu, que nunca estou doente!) e vamos ter de adiar uma mudança com a qual eu sonhava há muito tempo.
É verdade que uma semana não é nada. Mas é tudo para que eu perceba e reconheça humildemente que nem sempre será tudo como eu desejaria. 

Desta vez tocou-te a ti. Aguenta-te, Maria; e cara alegre, se faz favor. 

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Lawrence

O sacana deste vírus não me deixa fazer nada. A febre, em arremessos de arrepios, de espirros e lágrimas, impede-me de ler o último livro de um dos meus escritores favoritos, Salmon Rushdie. Sucumbo ao comando e ligo a televisão. Na maior parte dos canais, uma miséria. Recuso-me a ficar a olhar de cérebro parado para tanta idiotice ou tema desinteressante. Continuo o périplo e aterro no paraíso. O Telecine 3 exibe um dos filmes de um dos realizadores-argumentistas que mais admiro. Um filme que já é um senhor de idade respeitável mas que não deixa de me fazer sentido porque apesar de muitos temas da sua origem não serem os actuais, continuam a sê-lo pelos desastres humanos que provocam.
Estaciono então no The Big Chill, enrolo-me ainda mais na manta com deleite e mando o vírus à fava.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Menina-pardalita-peixinho

Tenho o nariz a pingar, a cabeça zonza, a garganta a arder. 
Mas tu estás ao pé de mim e enches-me de ternura a cada instante. 
Não preciso de mais nada. Acho que vou parar o tempo por alguns momentos.

O tempo é o que fazemos dele

Faltam apenas 3 dias para que o ano acabe. Em 3 dias vamos recuperar histórias antigas entranhadas em objectos guardados há muito tempo, vamos imprimir outras novas naqueles que farão parte do nosso dia-a-dia a partir de agora, vamos perturbar o ambiente de uns e de outros trocando-lhes as voltas, vamos mudar de vida. Ainda dizem que em 3 dias se faz muito pouco.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Intervalo ou a crise que se lixe

Gostei. Confesso que gostei. E muito. De quê? De sair para a rua e ver as pessoas com sacos de compras, de as ver com ar sereno e contente à entrada dos cinemas com os filhos ou dentro das lojas a escolher objectos. Gostei. Acho que pela primeira vez em muitos anos, os portugueses decidiram fazer um manguito ao José, ao Costa e ao Aníbal: puseram tampões nas orelhas, decidiram que realmente era Natal. A política que se lixe. Interessa é a família e os afectos. Já não era sem tempo.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Chocolate caliente con churros

Ás seis em ponto da manhã, os despertadores tocavam. 
Estremunhados, nas nossas diferentes alturas, saiamos do quartos a bocejar. O pequeno almoço era tomado sem vagares, os duches disciplinados e a bom ritmo: era preciso rumar á estrada o quanto antes e o meu pai não admitia atrasos.
Ainda de noite, as malas entravam na bagageira. Finalmente acomodados nos bancos do carro, partíamos, a paciência para as doze horas de viagem em doses diferentes consoante as idades. Os meus pais tinham no entanto bons truques para passar o tempo

"Ainda falta muito, pai?"

"Tens de contar trinta touros da Osborne."

Ninguém chegava sequer ao quinto; eu, pelo menos, nunca consegui. O ram-ram do automóvel embalava-me e acabava por sucumbir num sono profundo (também ajudada pelas maravilhosos comprimidos de Vomidrine que evitavam as indigestões desagradáveis da primeira refeição da manhã, causadas pelas curvas e contra-curvas). Quando acordava, era com o sotaque feliz da minha mãe a dizer ya estamos en España. Nessa altura, saltávamos dos bancos para acolher com prazer o cheiro adocicado e forte dos Ducados, misturado com o café con leche da praxe.

Às seis da tarde, dependendo do estado das estradas e da neve que todos rezávamos por ver em Navalcarnero, entrávamos em Madrid. As bocas sucumbiam ao brilho das luzes, os olhos brilhavam de contentamento com a azáfama seca e fria da cidade.
No bairro de Arguelles, o meu abuelo Jesus passeava-se na rua, nervoso, esperando a nossa chegada com impaciência. Na minha visão diminuta tinha muitos metros de altura e uma calvície bem aparada que tapava elegantemente com um chapéu cinzento de aba larga.

"Abueeeloooooooo!!!"...

... Gritávamos do carro, já esquecidos das longas horas, da falta de posição, dos touros da Osborne que pareciam nunca mais acabar. E depois vinham os abraços, os beijos, o olá á porteira de toda a vida, o elevador sempre com o mesmo cheiro... e a abuela Carmen, a querida abuela Carmen, pequenina, mas sempre empoleirada nas cadeiras a pendurar guirnaldas de Natal.
Os dias que se seguiam eram um sem-fim de manhãs acordadas pelo odor do chocolate quente con churros, de tardes ansiosas pela espera dos tios que chegavam de outros pontos de Espanha, do desenferrujar do castelhano em conversas intermináveis de primos que se querem como irmãos.

Não tenho consciência da primeira vez mas sei que assim passei muitos anos da minha vida, celebrando Nochebuena a 24, Navidad a 25, Nochevieja a 31. Que me perdoe o meu lado português mas são nomes muito mais bonitos para as noites das últimas semanas de cada ano. Ou talvez seja o peso das minhas memórias que os recheia de significados doces e de brilhos nas palavras. Não faço a menor ideia nem procuro a explicação: tenho apenas a certeza que é por causa deles que me sinto sempre nostálgica a 23 e que transporto comigo o dever tão grato de conseguir passar aos meus filhos uma lembrança que também eles possam guardar no nariz, na pele e na boca por muitos e longos anos, de forma a espalhá-la por aqueles que serão os seus, para todo o sempre.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Aliança eterna

- Está preparada para que este bebé seja muito mais irrequieto, exigente e provocador que o seu filho mais velho?

- Sim, estou.

- Está preparada para a carga do sistema que ele vai trazer que não é o seu?

- Sim, estou.

- Está preparada para ser a firmeza serena de que ele vai necessitar?

- Sim, estou.

- Também acho. Tal como um bambú, é suficientemente flexível como para poder dobrar-se com o vento; mas tem a estrutura suficiente como para nunca quebrar.

Corei. 
Nunca me tinham feito um elogio tão bonito. 
Nem perguntas tão pertinentes.
De facto, não são necessários padrinhos, testemunhas, conservadoras de Registo Civil ou assinaturas no papel: ter um filho é mesmo um casamento para toda a vida.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Abraço de anjo

Viam televisão de fim-de-semana de férias, os dois deitados no sofá, as pernas dele mais crescidas que as dela, as mãos ainda infantis a esticarem os dedos de dia para dia, sabendo que mais cedo ou mais tarde superariam os da mãe.

- I love you...

Disse ele, passando o braço de doze anos por trás do pescoço dela como um adulto e abraçando-a com o da frente como fazem as crianças.
Confortada, ela sorriu

-I love you too.

Agarrou-se ao filho com força. Não havia dúvidas, nunca as tivera. Aquele menino sempre fora um anjo adivinhador dos momentos mais difíceis. Agradeceu-lhe por alguma vez a ter escolhido. E agradeceu a Deus pela Graça da sua existência.

sábado, 20 de dezembro de 2008

O portão abriu-se e era diferente

O portão abriu-se e os miúdos saíram. A cara do meu repetia-se na dos outros: felicidade absoluta estampada nos sorrisos abertos mostrando dentes brancos, olhos de mil cores brilhando de alegria. Nem as mochilas carregadas ou as despedidas dos amigos faziam sombra; o motivo era importante: adeus primeiro período, adeus aulas, até daqui a 15 dias professores-chatos, professores-bons, professores-moles-a-quem-se-dá-facilmente-a-volta. Olhei para todos e senti inveja boa misturada com nostalgia: tenho bem marcada no meu interior a lembrança desses dias. 
Agora vem um tempo que parece esticar-se um pouco mais, beijos dados sem pressa, leituras em conjunto, partilha. Isto, sim, é Natal.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

A medida do muito

Só quero ficar calada, sorrir inúmeras vezes e estar em paz. É pedir muito?

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Barco eu pudesse

Hoje eu queria ser barco, barco-veleiro silencioso, onde o vento se perde e desnorteia no pano firme das velas.
Hoje eu queria ser barco, barco-veleiro suave, e acariciar a água ao de leve no casco, dizendo adeus aos peixes, saudando as estrelas do mar.
Hoje eu queria ser barco, barco-veleiro corajoso, e perder-me na imensidão do mar esperando terra firme à vista.
Hoje eu queria ser barco. 
Ás vezes é aborrecido ser pessoa. 
Mas é por ser que imaginamos.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A minha vez

Desculpe-me o meu amor por alguma falta de atenção. 
Desculpe-me o meu filho por uma paciência talvez mais curta. 
Desculpem-me os pais e os irmãos por contactar menos vezes nos últimos tempos. 
Desculpem-me os amigos pela ausência repentina. 
Desculpe-me este blog pela falta de palavras.
Ontem não escrevi. 
Foi por uma boa causa: um projecto finalmente completado na certeza de que não poderia ter feito melhor. 
Desculpem-me todos pelo tempo que ele me ocupou. 
Mas valeu muito a pena. 
Hoje, depois das 7 da noite, mereço um doce.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Fico comigo

Quando era pequenina, visitávamos a casa de uma das irmãs do meu pai muitas vezes. Ela vivia na antiga casa do Ramalho Ortigão ali na Calçada dos Caetanos, junto ao Conservatório. A casa raramente estava vazia de gente e se o estava, os salões e os móveis faziam as despesas de muitas conversas. Lembro-me do piano de cauda parcialmente queimado num incêndio e da parede mesmo ao lado que parecia ter sido pintada com os efeitos do fumo e das labaredas. A minha tia dizia que o tio António continuava a tocar, mesmo depois de ter morrido, e que ela falava com ele, noite sim, noite, não. Eu ficava assustadíssima com estes mistérios e a casa parecia duplicar de tamanho. Contudo, todas aquelas coisas me maravilhavam e por isso adorava visitar aquela tia cheia de histórias com ou sem fantasmas. 

A tia Fernanda tinha um cabelo muito preto muito preto, que enrolava em duas tranças finas por cima das orelhas, uns olhos verde-escuro que pareciam de veludo e uma boca que ao sorrir atraía meio mundo. Fazia anos em Dezembro e as festas eram sempre de arromba, sendo que as crianças não ficavam de fora (coisa tão do hábito daquela altura); podiam correr pela casa fingindo susto por causa do Preto-Vicente que, mesmo tendo muita idade para ter juízo, regredia dos seus dois metros aos nossos escassos centímetros para nos entreter com todo o gosto. Uma dessas festas foi tão divertida que fomos os últimos a sair. Eu tinha nove anos e nem um pingo de sono. À saída, o meu pai disse

"Obrigada, Fernanda, que festa maravilhosa. Só tenho pena que fiques sozinha, agora."

Ela riu-se e tudo brilhou em volta

"Sozinha, Alberto? Não fico não, meu querido: fico comigo."

Chamava-se Fernanda de Castro e escreveu muitas outras coisas que ficaram bem mais conhecidas. Mas esta frase marcou-me para o resto da vida.
Hoje lembrei-me especialmente dela porque embora esteja e vá estar grande parte do tempo sem mais ninguém, sinto especial prazer em estar comigo, o que na realidade é bem diferente de estar sozinha.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Uma força só

Quando o projecto chegou, confesso que me senti ofendida. Irritada. Desrespeitada, até. Naquele dia, tive vontade de chorar. Chorei mesmo, para quê dizer o contrário. O que o empenho nos faz... 
No dia seguinte, a fibra estava de volta dizendo-me vamos-lá-embora-deixa-te-de-lamúrias-só-está-nas-tuas-mãos-fazer-o-melhor. Arranquei, substituindo a vítima pela raiva, protegendo a sensação de injustiça com o brio e a vontade de fazer mais que bem. Convidei pessoas para participar, inundei-as com a energia da crença e deitámos mãos à obra. 
Na recta quase final, olho em volta e começo a ter muito orgulho no que começa a tomar forma com pés e cabeça. É bom. É mesmo muito bom. 
Mas o melhor de tudo, aquilo que sempre reencontro com enorme prazer, é a construção que se faz em equipa, o valor invariavelmente acrescentado que de um bom team advém. 
Que sorte tenho de ter pessoas como estas a vibrar com o meu entusiasmo e a empenhar-se como se fossem prolongamentos de uma força só.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Hector

No princípio, em Janeiro, ela disse-me que este seria um ano de força. Quis saber porquê. Tem a ver com numerología, explicou. 2008 é 1 e bissexto. E? E um é acção, mudança, terra queimada; resultado que se amplia duas vezes por ser um ano divisível por quatro. Nada será como dantes. Fim ás águas mornas, às meias tintas, aos nims da vida. Boas vindas ao vai ou racha. 
Caramba, se tem sido.Para o bem e para o mal todos temos sentido a brutalidade das mudanças que parecem surgir sem pré-aviso e sem piedade, o mundo a tornar-se diferente a cada semana que passa. Temos visto amigos a crescer e outros a sofrer. 
Quero continuar a acreditar no valor da mudança, no sentido deste 1 que tem afectado populações inteiras. Quero crer que é para alguma coisa. E verdadeiramente creio. Mesmo se me custa aceitar que a partida de um amigo provavelmente era o racha que faltava na existência dele, as meias tintas que já não podia suportar e a viagem inevitável que tinha que fazer para se libertar do fardo que era viver neste mundo.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Não me acordem que acordada eu estou




De repente, sonho com cor. Acordada ou a dormir, não interessa para nada o estado. Sonho com cor. Visualizo cor. Toco cor e transformo-me em cor.
Não sei se por necessidade, prefiro pensar que é entusiasmo mas também é outro factor que não importa: o que importa é que cor eu estou. Desconheço o culpado. Sei apenas que tanta cor de espírito me faz sentir bem. 

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

coisas que eu não sei dizer II

"A esperança tem duas filhas lindas: a indignação e a coragem. A indignação ensina-nos a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las."
Santo Agostinho

Arrepiei-me ao ler estas frases talvez por serem a minha prática desde pequenina. Obrigada querida Pat pelo teu "Silêncio de Deus" que, entre outras coisas, me deu esta, dando substância àquilo a que todos sempre designaram como a minha inconsciência. 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

coisas que eu não sei dizer

"Você ganha forças, coragem e confiança a cada experiência em que enfrenta o medo. Você tem que fazer exactamente aquilo que acha que não consegue."

Eleanor Roosevelt

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Um filho sempre de dois

Olhou para ele e sentiu-se segura. O filho era de ambos e era assim que ela o sentia. Por isso não comungava dos sentimentos próprios das mulheres tidas como modernas. O seu melhor amigo era, em simultâneo, cinquenta por cento do seu filho e seu ex-marido. Se havia pai com todas as letras, era aquele. "Que conforto", pensou. "Nunca estarei sozinha nesta tarefa maravilhosa de ser progenitor de alguém".

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Não.

Lá fora, não se fala tanto. Não se queixa tanto. Não se discute tanto. Não. O que há para dizer diz-se, pondo o dedo na ferida, apontando soluções. Em dois artigos no máximo, por jornal. Não se descascam as desgraças até ficarmos exaustos. Não se esticam as infelicidades até nos sentirmos miseráveis. Não se leva o pormenor sórdido ao mínimo denominador comum até termos vontade de fazer as malas e ir embora. Não. Diz-se o que se tem a dizer e o pronto que vem a seguir é anunciar como o país cresce noutros sectores, como se enfrenta a competitividade que vem de outros lados. Deve ser por isso que se vêem pessoas nas ruas com ar satisfeito. Deve ser por isso que continuam a fazer compras e a jantar fora com as famílias. Deve ser por isso que tudo tem um ar arejado e bem arranjado. Deve ser por isso que as ideias continuam a florescer.
Este nosso gene do fado é tramado. Não é o da música. Não. Esse é lindo. É o da miséria e do miserabilismo de que tanta gente se aproveita para nos deitar abaixo, e nós a ver. Graças a Deus tenho outros tantos genes a pular cá dentro. Por isso, volto a dizer: Não. Não á inércia, não ao pessismismo, não ao queixume de café. Há sempre algo a fazer. Exactamente como me disse alguém num destes dias de fim-de-semana prolongado: "sabes, niña, la crisis tambien es mucho lo que hagamos de ella... y lo que dejemos que nos hagan con ella".