Quando eu resolvi pousar na barriga da minha mãe os meus pais não viviam nas melhores condições financeiras. Recém-chegados de África, ainda abalados com a perda dos horizontes largos e ensolarados, e procurando passar por cima do provincianismo atarracado do Algarve, eis que recebem a notícia da chegada de mais um filho. A minha mãe chorou. Não que eu não fosse uma boa nova mas trazia o receio de não ter como dar o melhor. A minha avó espanhola fechou a torneira de lágrimas, dizendo "Não te preocupes, Carmencita, um filho novo traz sempre um pão debaixo do braço".
Acho linda a expressão e ainda hoje quando ela a conta ou quando eu a descrevo, vejo-me bebé minúscula e nua, carregando uma baguette francesa e estaladiça debaixo de um dos meus braços diminutos.
Metáfora ou não, é verdade. Sei-o por experiência. O meu filho Tomás trouxe-me uma serenidade que não tinha e uma tolerância que desfez por terra todas as minhas certezas da altura, tornando-me uma pessoa mais aberta e condescendente. Fez-me perceber o quanto gostava de ensinar e de criar em conjunto com alguém bem mais pequenino mas muitas vezes mais sábio. Com ele, inventei linguagens novas, fiz foguetões usando rolos de papel higiénico, lambuzei guardanapos com ketchup, gordura e pizza para servir de convites a uma das melhores festas de anos que ele se recorda de ter.
O Vicente, não sei ainda que outras coisas me trará. Certamente, muitas, e algumas repetidas das minhas experiências felizes com o irmão. Mas o pão novo que já trouxe debaixo do seu braço, mesmo ainda antes de nascer, é a vontade que tenho de contar histórias à velocidade da luz, de convidar uma amiga muito querida para o fazer comigo e assim estarmos mais juntas de novo.
O melhor do mundo são de facto os nossos filhos. E os amigos verdadeiros também.
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