quinta-feira, 30 de junho de 2011

os temperos das férias

Nos próximos quinze dias quero que a minha mente se ocupe com leituras saborosas, conversas boas, silêncios deliciosos; quero que o meu corpo dedique a carinhos demorados e com tempo a todos aqueles que considero nem que seja por um bocadinho, meus; não quero fazer nada, mas mesmo nada, por obrigação. A isto se chama férias. E as minhas vão ser assim, apenas temperadas com um toque de trabalho que farei enquanto os outros dormem e a casa fica em repouso, mas sempre férias. Começam já amanhã. Até que enfim.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

então, faz.

Não aguento mais estar sentada. Estou farta de não fazer exercício.
- Então, faz.
Obrigadinha, sim?

terça-feira, 28 de junho de 2011

voltar aos 20

Ontem foi a entrega de uma resposta a uma pergunta/exame de uma cadeira. Hoje, a entrega de um trabalho para outra. Irra que isto de voltar aos 20 anos tem o seu custo.
(Mas, diga-se em abono da verdade que dá muito mais gozo e é muito mais fácil)

sexta-feira, 24 de junho de 2011

coisas que gostava de ter escrito

Como é que se Esquece Alguém que se Ama?
Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está?
As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguem antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar.
É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução.
Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha.
Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.
O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar.

Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'

quarta-feira, 22 de junho de 2011

para o vosso corpo de deus

Fica aqui uma das músicas mais sensuais de sempre.
Tenham um bom feriado.

missão







Tenho um filho que toca saxofone e lê pautas de música no carro mexendo os dedos concentrado, ensaiando a solo e em silêncio, como se mexesse os olhos ao ler um livro feito de palavras. Parece simples, mas não é; e é lindo de se ver.
Ainda mais quando a paixão dele por aquele instrumento em concreto nos venceu (antes disso, tinha passado pela guitarra e pela flauta).
É caso para dizer, como diz o pai dele: 'Considero a minha missão cumprida'.

terça-feira, 21 de junho de 2011

blip

O anfiteatro estava cheio. À chegada, todos foram gentilmente obrigados a colocar as suas malas e telemóveis à frente, dirigindo-se depois para as suas cadeiras, apenas com uma caneta na mão. Os professores fizeram a contagem dos alunos, distribuíram as provas e o exame começou. A mulher levou por instinto a mão ao peito: a sensação era a mesma. Mas a dúvida instalou-se: teria a sua memória preservado as suas qualidades ou estaria emperrada pelo tempo, enferrujada pela falta de uso da tarefa de estudante? A leitura do exame fez com que, em poucos segundos, um silêncio absolutamente surdo se instalasse em volta dela, como se o halo de William James se fechasse em torno dos problemas, das questões, da atenção.
Uma hora e meia depois, entregou a sua prova. Apenas ao sair, quando se confrontou com o telemóvel, as caras frescas das raparigas e o carro novo "da-família" que a esperava no parque, compreendeu que deixara de ter dezanove anos e regressara aos quarenta e seis. 'Muitas vezes, tempo e espaço contraem-se num blip', pensou. Que viagem.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

off

Esqueci-me de avisar: até dia 21 estou off.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

o namoro

Faltavam dez minutos para as sete quando ouviu o bebé chamá-la com o seu 'mãe" arrastado e voluntarioso. Levantou-se e dirigiu-se ao quarto dele. O miúdo esperava-a, de pé, agarrado aos seus dois bonecos de dormir, a chupeta na boca e um sorriso de charme, maior que o mundo.

- O sol já não tá a dormir!

Disse ele.
Pegou nele ao colo e abraçou-o com força. O bebé retribuiu com um beijo na face. Minutos depois, deitados na cama grande dela, namoraram como só as mães e os filhos sabem namorar.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

já é de dia

Eram sete da manhã quando o bebé a acordou, chamando por ela. Levantou-se, foi ao quarto dele, encontrou-o de pé, agarrado aos dois amigos de dormir, a chupeta favorita na boca. Ele sorriu com aquele sorriso que lhe fazia vencer a vida e disse:

- Já é de dia!

Entretanto, passaram 12 anos, hoje ele tem um metro e oitenta e as pernas sobram na cama todos os dias. Mas ela continua a vê-lo assim, de cada vez que o acorda. E não consegue disfarçar o sobressalto quando finalmente ele desperta e lhe diz com voz grossa:

- Bom dia, mãe.

terça-feira, 7 de junho de 2011

escribas2011

escribas2011.blogspot.com é o blog que a Patrícia Reis criou para os alunos da sua Oficina. Mais uma vez e generosamente, uma forma gentil de nos 'obrigar' a não deixar de fazer aquilo de que tanto gostamos: escrever. Se tiverem pachorra para mais um, daqui a nada estarei lá.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

soube a pouco

Acabou hoje a Oficina de Escrita Criativa da Patrícia Reis. Muito ficou por perguntar, por aprender, por dizer. Admirável foi a capacidade que ela teve de gestão de um grupo de 63 pessoas ávidas de escrever, de aprender, de partilhar. Soube a pouco. Talvez em Outubro haja mais. Lá estarei.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

assim se vive

Quero ir ao Mercado Biológico do Príncipe Real. Quero começar a correr. Quero passar os dois dias na praia. Quero jantar com os amigos. Quero acabar aquele livro e começar outro. Quero adiantar um trabalho de Psicologia. Quero dar muitos abraços e beijos, dormir descansada, tratar de mim, fazer refeições apetitosas para todos, brincar com o mais pequenino, fazer carreirinhas com o mais velho. Muito para um fim de semana? Talvez. Mas assim se vive. Bom fim de semana.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

a câmara lenta

A mulher saiu do escritório eram nove da noite. Saiu depressa e à pressa desceu as escadas, deixando o telemóvel e o livro de companhia desses dias. Queria chegar a casa o quanto antes, dar um beijo ao marido e aos dois filhos, conseguir ler uma história ao mais novo, antes de o deitar. Ao abrir a porta do prédio, contudo, foi como se a vida começasse em câmara-lenta. Era um fim de tarde daqueles. O sol muito baixo mas ainda presente, o ar que se sentia na ponta dos dedos, cálido, nem demasiado húmido nem demasiado seco. A mulher não conseguiu e refreou o passo, inspirando profundamente o cheiro das flores dos jacarandás no caminho curto para o carro. Lá dentro, o relógio disse-lhe 'estás atrasada'; em esforço, ela despertou. Chegou a casa tarde, um resquício de culpa pairou no ar. Ela não deixou e resistiu; o filho mais velho deu-lhe um beijo, o mais novo chamou por ela. Quinze minutos depois da hora habitual de todos os dias, as partes boas da noite tinham-se cumprido.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

jaaaaaazzzzzzzzzzzzzzzz


Hoje levantei-me assim. Sexy? Sim.