sábado, 24 de dezembro de 2011

até dia dois

De 23 de Dezembro a 2 de Janeiro é verdadeiro Natal para mim, com férias, muita família em redor, os miúdos e os verdadeiramente sábios partilhando bons momentos. Espero que todos vocês tenham pelo menos o mesmo. Um maravilhoso Natal.


quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

a capa


Estes dias eram sempre uma montanha russa para ela. Sempre o tinham sido. Lembrava-se da alegria difícil que lhe embargava a garganta em pequenina, com a visão das luzes, a perspectiva das viagens a Madrid, a reunião com familiares mais e menos queridos. Durante muito tempo mascarara totalmente a época com uma aura de felicidade: uma boa menina não chora e é forte, não precisa de ninguém, não dá preocupações aos adultos; mas os anos e o conhecimento de si mesma tinham-na levado a tomar consciência e a aceitar todas as emoções associadas. Boas e más emoções que sempre tinham convivido com dificuldade, talvez por ser tão fantasiosa ou procurar contos de fadas em qualquer bocadinho de luz. Hoje, continuava a amar Dezembro mas amava-o sabendo que nem tudo era brilho ou paz. Agora aceitava uma certa tristeza que espreitava sempre nestas alturas, engolia a angústia inexplicável que por vezes lhe apertava o peito, e agradecia, agradecia imensamente ainda ter a casa cheia com os mais velhos para ensinar maravilhas aos mais pequeninos. Autorizava-se a rir e a chorar, sem vergonhas ou complexos. Permitia-se maus humores momentâneos, gargalhadas demasiado sonoras, momentos de melancolia, espaços reservados apenas para si. Havia um restinho de exigência que ainda tinha de deitar fora. Talvez fosse um bom desejo para o ano novo, este de abandonar em definitivo a capa de super mulher. Ficava-lhe demasiado grande quando a vestira por primeira vez e tinha sido trabalho de muitos anos descolá-la da pele, ainda sobravam alguns bocadinhos. Talvez dois mil e doze fosse um bom ano para isso. A mulher suspirou e pediu ao oxigénio que a ajudasse. Tinha um bom desafio para os próximos doze meses.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

oração aos meus filhos



Tropecem; eu prometo que ajudarei a curar o que vier a seguir.
Brinquem; eu prometo que estarei sempre pronta.
Cresçam; eu prometo que vos darei espaço.
Sejam infinitamente curiosos porque a beleza da vida é quase exclusivamente feita disso; eu prometo que abrirei todas as janelas que estejam ao meu alcance.

E acima de tudo, construam em vocês mesmos os alicerces para serem pessoas inteiras.
Quanto a isso não posso fazer nada. A não ser prometer-vos que darei o meu melhor enquanto mãe. 

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

delícia de domingo

O meu aperitivo para esta semana foi esta delícia de filme. Coincidência ou não, vi-o ontem, perto da meia-noite. Passei a noite a sonhar com coisas boas, tele-transportando-me aos anos 20, também a minha época favorita. Isto sim, não foi coincidência.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

homo narrans


Por diversas vezes, já mencionei aqui o blog da jornalista Patrícia Fonseca, Blogkiosk, um dos melhores que conheço e que sigo com a mesma regularidade com que ela escreve.
Num dos seus mais recentes posts faz referência a um texto do escritor sueco Henning Mankel, publicado no The New York Times, intitulado The Art of Listening. Os adjectivos poderiam ser muitos mas parecem-me curtos quando comparados com as palavras que o autor compõe em reflexões maravilhosas. Depois desta leitura apenas me resta calar e ouvir. Ser capaz de ouvir muito. 

"The simplest way to explain what I’ve learned from my life in Africa is through a parable about why human beings have two ears but only one tongue. Why is this? Probably so that we have to listen twice as much as we speak."

"It struck me as I listened to those two men that a truer nomination for our species than Homo sapiens might be Homo narrans, the storytelling person. What differentiates us from animals is the fact that we can listen to other people’s dreams, fears, joys, sorrows, desires and defeats — and they in turn can listen to ours.
Many people make the mistake of confusing information with knowledge. They are not the same thing. Knowledge involves the interpretation of information. Knowledge involves listening."
Tenham um bom fim de semana. De preferência com um pouco mais de silêncio. E de ouvidos bem abertos.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

desejos

Fiz a minha lista de livros desejados e são pelo menos quinze. Anotei os filmes que gostaria de ver ou ter e são cerca de dez. Antigamente sairia de uma certa livraria no Chiado com dois sacos gigantes debaixo dos braços. Agora, não pode ser. Os media dir-me-iam que a isto se pode chamar a minha própria crise causada pela outra que parece ser quase universal. Eu prefiro não fazer-lhes caso e achar que a isto se chama mais controle e, com isso, degustar as coisas uma de cada vez, devagarinho, sem sofreguidão. Mesmo que seja uma ilusão, mesmo que nunca mais me tenha sobrado dinheiro em parte nenhuma, prefiro pensar assim. Não é falta de objectividade, é saber aproveitar a vida. Acho eu.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

alguma vez terei cura?

A música comove-me. Comove-me a um ponto sem controlo, diria. A comoção pode chegar a várias cores, mas desenvolve sempre um pequeno nó na garganta que invariavelmente me faz derramar lágrimas, mesmo se danço, mesmo se apenas as soltar por dentro. É a admiração por quem sabe criar algo tão profundo, por quem tem ouvidos suficientemente sensíveis como para servirem de veículo para algo superior que segreda frases musicais em forma de sons ou de palavras.
Os meus filhos sabem que choro sempre que cantam ou tocam música. O mais velho chega a ter vergonha, o mais pequeno ainda se ri. Mas é demasiado forte. São muitas obras perfeitas a juntarem-se numa só voz.
Um médico homeopata um dia explicou que essa é uma das características do meu tipo físico, esta forma violenta como a música me toca. Será? Alguma vez terei cura? Espero que não.


terça-feira, 13 de dezembro de 2011

in a ray



(acordei desta maneira, hoje. há dias assim.)

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

compromisso

O professor distribuiu flores e pequenos doces. Entoou um cântico de agradecimento e renovou os votos a todos. Por fim, disse


- Fazer meditação é o vosso compromisso para com a felicidade. E não é apenas um serviço a vós, é um serviço a todos os seres humanos. Guardem o vosso mantra no vosso coração, reservem-no apenas no vosso interior, ele é a vossa essência, aquela que um dia será clara, se assim o usarem.


A mulher soube que aquele fim de semana iria ser o princípio de muitas outras coisas.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

o bom silêncio

Hoje, amanhã e depois, volto a aprender a meditar.
Deixem-me guardar este bom silêncio até segunda.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

avós e netos

Cada vez que o bebé grita com alegria "Vó!" ela fica luminosa (ainda mais). Cada vez que o miúdo mais velho lhes dá um abraço, o sorriso deles inspira dias de vida. Cada vez que se levantam numa casa cheia com a azáfama de vida de uma família nova, o relógio do tempo avança mais uns segundos, mais uns minutos, mais algumas horas.
Avós e netos deviam viver na mesma cidade, ter contacto permanente. A vida enorme dos primeiros recheia a dos segundos, a força e a inocência dos mais novos empurra suavemente a luz dos avós. São os extremos da existência humana a tocarem-se de forma gentil, tão próximos em tantos aspectos físicos, tão enriquecedores naquilo que a alma de uns e de outros pode trocar.
É por isso que nunca vou querer separar-me fisicamente dos meus filhos. Quando o meu tempo chegar, quero ser avó a tempo inteiro.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

heroes


Três mulheres bonitas de morrer por dentro e por fora resolveram sair da sua zona de conforto, ter ainda mais trabalho por amor a uma causa (o que quer dizer na linguagem deste mundo-que-já-está-a-mudar, a salário zero), juntaram esforços e mais de uma centena de pessoas, puseram-nas a rir (ou a gargalhar que deveria ser o verbo certo) e trouxeram para Portugal um projecto internacional com o lema de que sejamos mais positivos. Chama-se Inside Out Lisboa e, no mínimo, antes de verem, elas merecem que coloquem o vosso Like na página já existente do facebook. O meu, já lá está.
PS: Se quiserem saber mais, não deixem de ver o filme Women are Heroes. Imperdível.


(Joanne, Xana e Isabel, desculpem esta pequena inconfidência mas não aguentei. É demasiado bonito para ficar no segredo por mais tempo.)

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

o saco

Era segunda-feira. 
Era a primeira segunda-feira de muitas segundas, terças, quartas, quintas, sextas, sábados e domingos em que acordava sentindo-se em paz. Nos minutos que lhe restavam antes do despertador tocar de novo, antes de ter de se levantar para erguer a vida à sua volta, reflectiu no motivo. A resposta surgiu naturalmente, sem demoras, sem esforços desnecessários. Aquela paz tinha um nome: assumir responsabilidades. Por momentos, num flashback meteórico, reviu o passado recente e reviu-se  nas múltiplas vezes em que roubara a sua paz e roubara a dos outros por não assumir o que era seu e entregar de bandeja ao outro o que realmente lhe pertencia. O que fizera a diferença era apenas isso. Ela dera A César o que era de César. E, ao fazê-lo, ficara apenas com a sua parte, nada mais lhe pesava nos ombros. Isso era bom, era perder lastro. 
O despertador tocou.
Restavam-lhe cinco minutos antes da casa acordar. Foram suficientes para mais um bocadinho consigo, para pensar em silêncio só mais um pouco. Pensar que quando somos miúdos queremos ser adultos, sem qualquer noção das responsabilidades; quando chegamos à idade adulta, brincamos aos adultos, na verdade nunca quisemos deixar de ser crianças, só que com isso magoamos meio mundo. Na infância, apontar o dedo e atribuir culpas é obra de um momento, no seguinte passa e continuamos amigos para sempre. Na maturidade, actos repetidos desses desgastam, quebram e muitas vezes matam.
Os cinco minutos tinham passado. Levantou-se serena e pegou no seu novo saco de responsabilidades com imenso prazer.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

receita da época

Tirar os objectos da cave. Retirar das caixas, limpar o pó, ficar ligeiramente triste com o que não tiver resistido ao ano de dois mil e onze. Separar as partes, atarrachar, ver crescer. Empurrar o miúdo mais velho para participar. Acompanhar tudo com o meu clássico da época Frank Sinatra's Duets. Colocar a estrela no topo dando a responsabilidade às mãos mais pequeninas. 
Depois, é só esperar pelo acender do brilho dos olhos do bebé. 
Amanhã faço a Árvore de Natal.