quarta-feira, 30 de março de 2011

quando voltar a nascer

Ela pegou no caderno e partiu, rumo à Faculdade, deixando para trás as chatices, a organização de contas para pagar, os telefonemas aborrecidos aos clientes-do-calote, os trabalhos que se fazem apenas com aquele intuito da sobrevivência pura. "Quando voltar a nascer", pensou, "... tão depressa não vou voltar a desejar ser crescida".

terça-feira, 29 de março de 2011

tentação absurda

"Não procures a profundidade logo no início."

Não sei de quem é esta frase, a citação roubei-a à Marta Gonzaga porque me fez um sentido do tamanho do mundo. Absurda tentação esta que temos por vezes as mulheres. Obrigada Marta.

quinta-feira, 24 de março de 2011

o telefonema

Passavam poucos minutos das três da tarde. A mulher recebeu o telefonema, as águas tinham rebentado, o bebé estava prestes a nascer. Arrumou o caderno e o computador na mala de forma apressada, claro que se esqueceu do carregador, e seguiu, cozinhando a angústia de mais um dia de trabalho pela metade, numa semana de cinco este já era o terceiro. Sem saber como iria completar tudo que tinha pela frente (e que tanta falta lhe fazia) acelerou pelas ruas da cidade como se as dores e o parto fossem dela.
Ao chegar a casa percebeu a preocupação da mãe e o receio de quem iria sê-lo pela primeira vez. Uma calma súbita envolveu-a: chamou o taxi, cronometrou os tempos entre contracções, deu força á futura avó e segurança à miúda. O carro chegou e foram-se embora entre sorrisos, boas sortes e promessas de telefonemas assim que a criança chegasse. Fechou a porta, sentou-se na mesa e dispôs-se a trabalhar enquanto o seu bebé dormia. A angústia do tempo limitado apertou-a: de repente sentiu-se muito sozinha.

terça-feira, 22 de março de 2011

explore. dream. discover.

"Twenty years from now you will be more disappointed by the things that you didn´t do than by the ones you did do. So throw off the bowlines. Sail away from safe harbor. Catch the trade winds in your sails. Explore. Dream. Discover."
Mark Twain

segunda-feira, 21 de março de 2011

a mão pequenina

Ainda o despertador não tinha tocado e já fizera a lista do que não ia conseguir fazer, do indispensável que era aquela manhã perdida. A mulher decidiu então abrir os olhos para começar o dia cansada, cheia de angústia. O toque de uma mão pequenina no rosto fê-la deixar-se ficar. Uma festa prolongada, depois outra e ainda mais outra. Abriu os olhos: o bebé fitava-a com olhos de quem tinha visto o desespero escondido atrás das pálpebras. Eram olhos de uma ternura crescida, compreensiva, sem as palavras que estragam tanto o discurso e os actos dos adultos. A angústia da mulher começou a ceder. Abriram as janelas juntos, tomaram o pequeno almoço partilhando torradas, o bebé acompanhou-a ao Banco e ao Supermercado, desarmando todos com a sua simpatia. Quando deu por ela era uma da tarde, tinha resolvido muitos mais assuntos do que imaginara e no lugar da angústia e do cansaço tinha um calor reconfortante que se instalara no peito. Deixou o bebé em casa, cheia de saudades. Ao vê-lo despedir-se à janela, sempre a sorrir, prometeu a si mesma que nunca mais veria como perdida uma manhã daquelas. Ele não merecia. Ela, também não.

terça-feira, 15 de março de 2011

vítima ou decisor

O homem, com uma segurança que raiava o enervante, disse para a audiência

"Vocês podem querer ser uma de duas coisas nesta existência: podem escolher entre ser vítimas da vida ou donos da vossa própria vida.
No primeiro caso, andarão ao sabor de escolhas que não são vossas e lamentar-se-ão eternamente. Devo dizer-vos que esta é uma escolha muito confortável: não assumimos a responsabilidade de nada e sendo eternos descomprometidos com a nossa própria realidade podemos tranquilamente adoptar uma postura de desgraçados, conquistar a pena de alguns e ter sempre uma razão para mais nada fazer porque afinal 'eu tenho tanto azar'.
No segundo caso, quem faz as escolhas, quem decide como e o que quer viver, são vocês. A vida não vos dobra, antes, dão-lhe a volta. Claro que é menos confortável, está-se mais sozinho (até porque os outros invejam de algum modo quem é dono da sua vida) mas pelo menos vive-se sem que a vida passe por nós de forma amorfa, indiferente, rotineira.
A decisão, por mais que vos pareça incrível, é inteiramente vossa. De mais ninguém."

Eu sei qual é e sempre foi a minha decisão. O que me irrita agora é perceber que também me deixei levar com estas tretas de crise, da depressão colectiva e do desânimo que dão tanto jeito a governantes manipuladores que apenas desejam que a inércia cristalize, que o medo perdure e a revolta abrande. Felizmente, estou de cabeça de fora novamente, saindo da manada, recusando o pânico, esbracejando.
Não quero ser uma vítima da vida, nunca tive feitio para isso.

sexta-feira, 11 de março de 2011

até 2ª

Bom fim de semana.

quinta-feira, 10 de março de 2011

psicologia positiva

Todos os dias devo escolher as três melhores coisas do dia. Invariavelmente surgem:
. os risos do meu bebé
. o crescimento sereno e doce do miúdo mais velho
. a minha saúde de ferro
Já é muito bom. Mas confesso que gostaria de ter mais por onde escolher. Há fases assim.

terça-feira, 1 de março de 2011

correr por gosto

Tenho tanto que fazer. Tenho tanto que fazer. Tenho tanto que fazer. Pode parecer masoquista mas gosto.