segunda-feira, 31 de maio de 2010

Desde quarta-feira

Na quarta-feira passada prometeu a si própria que ficaria sentada no chão, 20 minutos por dia, focando-se na respiração, pensando em nada para apenas ficar ali dentro.
Na quarta-feira passada prometeu a si mesma que faria este exercício de estar consigo e depois escreveria numa folha ou num caderno que não perderia, as razões de alguns medos e de muitas protecções.
Ainda não foi capaz.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Este ano, mais uma vez

A minha cidade vibra. Vibra com a cor, o cheiro e a luz das flores dos jacarandás. Nesta altura do ano podemos ter fado e um fado ainda maior este ano, mas a minha cidade é sempre a mais linda do mundo quando o violeta me indica o caminho. Talvez seja por aqui ou talvez não. O que interessa é esta beleza que me comove especialmente e me faz sentir pequena por saber que isto eu não sei nem nunca saberei fazer.

Este senhor precisa de um editor

Na próxima vida

Peço que na próxima vida Deus me conceda
Viver num jardim plantado à beira dum riacho
Com uma árvore que me fale e me recorde
Muitos segredos agradáveis que desconheço
Que as suas flores, sejam sorrisos
E cada folha, uma lembrança
Que o seu tronco, erecto e firme
Me recorde toda a família
E as raízes, profundas e à superfície
Toda a alma que pressinto na nossa casa
Alberto Quadros
(algum editor deveria interessar-se seriamente por este senhor que acima de tudo é meu pai com letra grande e um escritor com letra também grande, em potência)

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Amor incondicional

O miúdo mais velho está doente e eu preferia estar doente a vê-lo assim. Verdades de La Palisse de uma mãe, absolutamente incontornáveis quando se sente mais outra verdade de La Palisse que é a do Amor Incondicional.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Matthieu Ricard

A Aula Magna está cheia. Cheia de gente diferente, desde os freaks expectáveis aos zen'istas expectáveis, dos normais menos expectáveis aos do género-executivo ainda muito menos expectáveis. Fico arrepiada ao olhar em volta: há de facto muita gente a precisar de algo mais nesta vida. A razão da noite é uma conferência. De um monge budista, Matthieu Ricard. O tema, "Neurociência e Felicidade". Abram os olhos, sim, porque parece ser possível conciliar ciência com o encontro de um objectivo ancestral.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Comida

A comida não é o meu forte, reconheço. Gosto de algumas coisas, não gosto de perder horas à mesa, amo o pequeno almoço. Tenho fobias e vontades exageradas. Passo horas a fio sem me lembrar que tenho aparelho digestivo e depois sou capaz de perder a cabeça com dois croissants. Gosto de sushi porque é bonito, adoro pão desde pequenina porque sempre me cheira a forno de lenha, gosto de saladas no Verão, de legumes transformados em sopa no Inverno, sou doida por cerejas, perco-me por pêssegos gigantes cor-de-laranja por dentro e por fora, daqueles que já muito raramente se encontram. Na comida sou de amores e ódios, de desejos e rejeições, fiel, ou absolutamente ao contrário. Dizem alguns que também sou assim em tudo o resto. Se calhar. O melhor é desculpar-me com o signo; soa sempre bem e, nos tempos que correm, até parece moderno. Balelas.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Apocalypse


Um documentário a não perder, obrigatório para quem tem filhos, para que a memória destes eventos nefastos não se perca. Aos domingos à noite na RTP2.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Have a nice weekend

Facto Magnum

Interrompi o que estava a fazer, achando que a desculpa de comer o primeiro gelado do ano com calor era razão suficiente e necessária. Saí do escritório e debaixo deste sol abrasador, comprei um Magnum Clássico e devorei-o até ao fim. Agora estou enjoada como o caraças. Ráios, descobri um novo facto: já não como gelados como antigamente.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Alexandre Farto



Chama-se Alexandre Farto e é português. Não sei se é nome de família ou se se fartou mesmo de viver num país onde os artistas não têm muitas oportunidades (hoje em dia não são só eles). Certo é que vive em Londres e usa as paredes, as madeiras, os metais ou o que quer que seja que esteja na rua e lhe sirva de superfície, para pintar. Absolutamente brilhante, é daqueles que dá orgulho que seja nosso. Deixo aqui o aperitivo (há mais em www.alexandrefarto.com).

quarta-feira, 19 de maio de 2010

O apertão da Isabelinha

A minha amiga Isabelinha Zambujal (publicitária, escritora de livros infantis e em breve de mais algumas coisas, para além de outras mil que é capaz de fazer em simultâneo) é das pessoas que mais admiro pela sua enorme capacidade em se focar naquilo que quer fazer. De cada vez que falo com ela, dá-me apertões generosos que soam parecidos a açoites carinhosos de quem gosta de nós e quer ver-nos seguir em frente. Na sua forma tremendamente cómica de abordar sempre a vida acabou de me dar uma lição, afirmando o seguinte

- Bloqueada?!!! Olha, eu não me posso dar a esse luxo. Ter um bloqueio é ver os dias a passar e nada a acontecer. Portanto, estás bloqueada? Desbloqueia-te, filha!

Pois é. E não são palavras vãs porque ela fez, continua a fazer e fará, sempre em progressão; a subir para cima, como dizem os miúdos. Merece. Merece tudo, nem que seja porque trabalha e re-trabalha o seu talento e empenha-se realmente no que faz. Vou aproveitar o conselho e se mais alguém quiser, faça o favor. Fica o apertão.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Fire

Uma das canções mais sexy da história, na minha opinião. Na versão do boss ou Desiree+Babyface, the choice is up to you. A Primavera está aí, caros amigos.


segunda-feira, 17 de maio de 2010

Domingo no Jardim

Depois das compras e da maré de gente na Feira do Livro, os miúdos e eu fugimos para o Jardim da Estrela. Muito bom sentar com eles na relva, dar lanche ao bebé e ver o mais velho a ler o seu novo livro entre graçolas improvisadas com o irmão. Enquanto isso, o jazz fazia-se ouvir, acrescentando mais um grau à temperatura boa do dia. Sabe bem. Sabe muito bem. É pena que não façamos uso destas coisas para nos classificarmos no rating de uma das cidades mais interessantes da Europa.



(este vídeo é da edição do ano passado mas a deste não é menos cheia de gente e de crianças, tudo numa muito boa)

Sábado na Feira do Livro

Já está. O meu livro tem nova capa, novo título e teve direito a algumas visitas e compras no sábado na Feira do Livro, no meio de muita gente e um frio de rachar.
Assinei alguns livros, intimidei-me com alguns comentários (sou absolutamente maçarica nestas coisas) e fiquei com vontade de passear por ali.
A história que conto, para quem ainda não a conheça é a de várias gerações de uma família, sendo que o narrador é a casa porque tenho esta mania surrealista de achar e acreditar que as casas têm alma.
Para além dela, estão os comentários gentis da Patrícia (Reis) e do Mário (Zambujal) que me fazem sempre corar.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Um bom fim-de-semana

Provas de Resistência

Era a segunda vez em seis meses que se sentava naquela cadeira. Sabendo que iria ter de ter paciência, usava (pela segunda vez também) o seu sorriso mais simpático (pode ser que funcione).
Expôs o seu caso de novo, repetiu a sua história académica, reafirmou a sua vontade de concluir a licenciatura mais de vinte anos depois, voltou a exibir, obediente, a certidão de exames e concluiu que, tal como lhe haviam dito seis meses antes, aqui estava ela para saber o que faltava para terminar o seu curso superior.

- Não, não... (disse a funcionária, pegando na certidão como se fosse papel higiénico), vai ter de voltar lá para Junho e solicitar o re-ingresso.

- Mas não me sabe dizer o que terei de fazer para completar a licenciatura?

- Claro que não minha senhora (repetiu a funcionária, agora usando a certidão como se fosse um leque de plástico usado comprado numa feira). Só após solicitar o re-ingresso é que será avaliada a sua situação por uma comissão de creditação. Depois disso será informada do que terá que completar.

- (ainda paciente) E sabe-me dizer a partir de que dia devo vir para pedir o re-ingresso?

- (franziu a boca como se fosse uma evidência) Não, ainda não tenho datas. Mas a senhora, se tiver acesso, vá visitando o site... deve ser lá para meados de Junho, mais ou menos.

Abandonou o edifício moderno e bonito da Faculdade com um pensamento a saltar na sua cabeça: 'num país em que a educação faz tanta falta, é extraordinário como é difícil procurar o conhecimento; e se o é para pessoas de 40 anos que realmente querem, como deve ser fácil desistir quando se tem 20 anos, uma fronteira tão perto e o mundo lá fora, cheio de interesses, aos pés.'

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Manual de instruções por Ricardo Costa


Manual de instruções para um país

Caro leitor: se por acaso, mérito ou azar um dia tiver que governar um país em crise, siga estas regras. Não terá glória imediata, acenos à janela nem rotundas com o seu nome. Mas talvez se safe (a si e ao país), o que já não é nada mau.

Se Portugal fosse um electrodoméstico, a esta hora José Sócrates estaria a revirar gavetas à procura do manual de instruções e a praguejar com os assessores por não o terem obrigado a ler o documento. Enquanto não o encontra, deixo-lhe estas dicas:


1. Olhe para o espelho e diga: "porquê eu"? Mas não espere pela resposta, não é boa para si.

2. Vá jantar fora com os amigos, ao cinema (o "Homem de Ferro 2" estreou anteontem) e durma uma boa noite de sono.

3. De manhã, leia os jornais estrangeiros. Não se refugie em Pessoa ou no Padre António Vieira para não achar que está num grande país. Não está.

4. Chame o ministro das Finanças e diga-lhe: agora só nós dois é que governamos.

5. Consolide a despesa dos ministérios e entregue tudo a autorização prévia das Finanças.

6. Crie um gabinete de crise. A gestão de informação é vital.

7. Proíba conferências de imprensa de outros ministros. Só pode haver um discurso.

8. Faça uma lista de tudo o que vai cortar de imediato.

9. Anuncie tudo de uma vez.

10. Revele o impacto orçamental das medidas e anuncie metas claras. Os objectivos devem ser transparentes.

11. Suspenda o TGV, o aeroporto, a nova travessia do Tejo e as novas auto-estradas. Negoceie o adiamento com os consórcios. Se não aceitarem, litigue. O país está do seu lado.

12. Comunique à NATO que precisa de vender (ou ceder o renting) dos submarinos.

13. Suba o IVA um por cento.

14. Tente renegociar prazos de pagamento de alguma dívida, PPP, contratos de fornecimento externos e concessões.

15. Reestruture o sector empresarial do Estado, funda empresas e institutos. Reduza os custos variáveis em 20% este ano com um forecast obrigatório.

16. Não privatize nada enquanto a crise não passar.

17. Não desorçamente nada.

18. Tente financiar-se no mercado interno. É mais barato.

19. Proíba a candidatura ao Euro 2016 e à Ryder Cup.

20. Chame o FMI e diga que não quer nenhum empréstimo.

21. Diga o mesmo, por telefone, a Angela Merkel.

22. Chame as agências de rating e explique-lhes o plano.

23. 20 e 21 de Maio pague 6,9 mil milhões de dívida vencida.

24. Depois, com os mercados calmos, reforce o investimento no parque escolar e na saúde pública. Em tempo de crise vão ser mais procuradas do que nunca.

25. Apoie as exportações (mas esqueça a Venezuela).

26. Obrigue o Estado a ser modesto, sério e implacável.

27. Não leia Keynes por uns tempos. Mais vale ver a Oprah.

Texto publicado na edição do Expresso de 1 de Maio de 2010

Sem comentários

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Pegar fogo

Encontrei esta frase numa página do facebook e não resisti a roubá-la. Fez-me pensar o contrário que toda a vida pensei (para mim sempre foi mais "fireworks before friendship") . Certo é que quanto mais olho para ela e reponho na memória aqueles que verdadeiramente gostei ou os poucos que admiravelmente se amam, mais chego à conclusão de que é uma enorme verdade. Talvez seja essa a razão pela qual, inexplicavelmente para muitos, não consiga deixar de ser amiga de todos aqueles que em alguma medida amei.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Deixem-me

Deixem-me flutuar no meu arco-íris de esperanças
Deixem-me fugir das frustrações do quotidiano
E rebentar com a armadura das convenções
E beijar as mãos e a face sorridente da alegria
Deixem-me,de vez em quando,voltar a pensar como uma criança.

(escrito ontem pelo meu pai e só para mim,
o que só demonstra o quão bem me conhece...)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Thoreau says

O que importa

Não é a primeira vez, nem a segunda, nem a terceira, e muito menos será a última que declaro aqui a minha eterna admiração pelos meus pais (e na admiração leia-se amor, por mais que este sentimento seja tomado em igual medida, nos dias que correm, como uma piroseira ou uma banalidade). Que a segunda-feira seja um alento para o resto dos dias, na companhia destas coisas lindas que o meu pai Alberto sabe escrever.

Não me importo

Não me importo com as coisas lindas, lindas, que não comprei,
Não me preocupo com as inúmeras oportunidades que perdi,
Nem sequer me lamento por tantos beijos que não dei,
Apenas me inquieto se um dia não sou capaz
De ter esperança, ilusões e fantasia.
Alberto Quadros

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Ideias ou fogos fátuos

- Uma ideia só é verdadeiramente uma ideia quando posta no papel. Antes disso não passa de um pensamento que se esfuma de cada vez que se conta.

A advogada disse-lhe isto pelo telefone, na sua linguagem objectiva de quem sabe como fazer. Ela ficou cheia de dúvidas, sendo a maior de todas se teria alguma vez coragem de colocar todas as que lhe assolavam a cabeça no papel para que não passassem apenas de fogos fátuos. Recostou-se na cadeira do escritório e os dedos ficaram sem força.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

O lado B

Apaixonar-nos. Ver o amor crescer.
Ter filhos. Vê-los crescer.
Fazer amigos. Ver a amizade crescer e perder a conta dos anos que já lá vão em conjunto e dizer coisas previsíveis como "Eu conheço-te há... bolas não imaginava que fosse há tanto tempo!".
Olhar para pais e irmãos com olhos de adulta, mais tolerantes e despidos de exigências. Vê-los crescer.
Ter uma actividade e muitos hobbies ou muitas profissões que são tão boas que parecem hobbies. Vê-las crescer.
Gostar de nós. Ver esse sentimento crescer, mesmo se a pele já não guarda tanta luz mas compreendendo que ela é maior cá dentro com o passar dos anos.
E tantas outras coisas.
Eu prometi que hoje falaria do lado B. Como estou num dia típico, assim faço.
Não escrevi o dobro mas de certeza que sabe melhor. Ser crescido, afinal, também é bom.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Dia atípico

Passamos uma época inteira da nossa existência a ouvir falar das dores de crescimento. Pessoalmente lembro-me do meu irmão, enorme, de corpo compridíssimo deitado no chão a queixar-se das ditas dores. Mas a realidade é que passamos muitos anos da nossa juventude mais pequenina a desejar ser crescidos. Sonhamos com independência, horas ilimitadas sem controle, à vontade financeiro para comprar o que nos apetecer... pois. Ninguém nos avisa contudo do quanto dói ser crescido. Chegar lá custa muito menos do que lá estar. São as contas, os impostos, as pessoas que temos de aturar, aquelas de que temos de nos despedir antes de tempo, as preocupações. Acreditem, miúdos, ser crescido dói. Claro que também tem muitas outras coisas boas e talvez a culpa seja minha por estar num dia atípico e menos ensolarado. Deve ser da dor de garganta, sei lá. Juro que amanhã escrevo o dobro a falar do resto. Do bom, claro.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Dançar

Tenho saudades de dançar. Dançar até a Lua se cansar e o Sol descobrir o azul do céu. Dançar até mais não poder mas ainda continuar. Dançar até estalarem as barrigas das pernas e rir no dia seguinte por não poder andar. Dançar sem acanhamento, esquecendo a idade, a compostura e a reputação. Dançar com as minhas amigas de sempre, brincando como miúdas de dezasseis anos, esquecendo tudo em volta. Agarra-me querido; ou melhor: não me agarres que eu quero dançar.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

O amor irregular dos Deuses

Algures num livro está uma frase que diz que os deuses levam pessoas jovens desta vida porque as amam acima de todas os outras. Quero crer que seja verdade e que no caso de alguém que conheci e que partiu no Domingo, estejam a cobri-la de flores, carinho e cortesias para que algumas caiam do céu e nos compensem da sua ausência.