quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Adeus 2009

"Prometo o respeito. A mim e a todos. O que é que isto quer dizer? Quer dizer que prometo não falar de ninguém sem antes pensar nos meus actos, não julgar ninguém antes de me questionar a mim, e também não abdicar do que sou, em prol de alguém."
"Prometo o amor. Desmesurado, intenso, desbragado, a qualquer hora, sem motivo ou razão. Porquê? Porque não há força maior."

Com a última uva nos dedos, ela parou e constatou:

"Não quero prometer absolutamente mais nada."

Saboreou o bago demoradamente, sentindo cada fibra da pele, a doçura da polpa e a macieza da grainha, sem perceber que dentro dela morava a promessa escondida de aproveitar cada bocadinho da vida, um de cada vez.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

IV. Antes que o ano acabe...

Atrevam-se a abrir gavetas, levantar tapetes e almofadas. Em sentido real ou figurado, deitem o lixo onde ele pertence, rasguem conceitos anquilosados, abandonem velhas memórias que não fazem bem, ofereçam tudo aquilo que já não faz falta mas que para outros pode representar muita coisa, uma vida melhor, talvez. Lavem, esfreguem, desinfectem, perfumem. Deixem que as lembranças do velho ano vos comovam, vos enfureçam, vos façam chorar, até. E depois, finalmente de cara lavada, abram as janelas para deixar entrar dois mil e dez possibilidades de um ano novo em pleno.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

III. Antes que o ano acabe...

Escolhe um papel de carta e envelope. O mais tocante que encontrares. No envelope, no espaço para o remetente, escreve o teu nome e morada; no espaço para o destinatário, repete o gesto anterior. Isso mesmo. Volta a escrever o teu nome e morada: esta carta é de ti para ti. Depois, alisa com cuidado a folha em branco. Pega na caneta que te for mais querida, mais confortável ou que, apesar de feia, é aquela que nunca desapareceu nos momentos mais importantes. Concentra-te. E finalmente escreve tudo aquilo que desejas para 2010, como se apenas tivesses 365 dias de vida, como se não existissem quaisquer barreiras, como se a palavra impossível não fizesse parte do dicionário. Quando acabares, coloca a folha dentro do envelope, fecha-o com cuidado e entrega a tua carta a um amigo especial, pedindo-lhe que a coloque no correio no mês de Dezembro do próximo ano.
Verás como é engraçado. É que as coisas, aquilo que pedimos, fica cá dentro. E cumpre-se. Não por magia mas porque acreditámos; e o que escrevemos era o realizável. Por nós, obviamente. E porque nos focámos em nós, na nossa verdade.
Vale a pena experimentar. Não se paga nada, não é preciso reenviar a cento e cinquenta amigos ou fazer algo complicado em troca. E nem que seja pela emoção de voltar a receber uma carta na caixa do correio, é bonito.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

II. Antes que o ano acabe...

... Vejam filmes com significados eternos para as nossas vidas. Significados que muitas vezes esquecemos e que são grandes lições a reter para um ano novo que se aproxima. Forrest Gump, é um dos meus. Revi-o nesta quadra com o meu filho mais velho e com o meu marido. Foi bom comover-me com as mesmas cenas e sobretudo olhar para o lado e compreender que o rapaz de treze anos também ficava com a emoção nos olhos.
Forrest Gump é um grande filme. Como são todos aqueles que ficam inesquecíveis por saberem dizer muito daquilo que nos vai na alma mas que não sabemos explicar.

I. Antes que o ano acabe...

... Por favor, pensem na importância que tem cada momento das nossas vidas.
... Por favor, não desvalorizem cada segundo, cada minuto; verão como o tempo se alonga, se torna mais bonito.
... Por favor, registem-nos na vossa memória porque depois só assim poderão voltar atrás.
Parece fácil, mas não é. Mas pelo menos viverão o ano de 2010 como todos merecemos viver a vida, não passando apenas por ela mas sentindo em cada milímetro de pele tudo o que ela nos dá.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O sonho do Natal

Era Dezembro.
O miúdo tinha 5 anos numa das muitas viagens nossas a caminho do colégio. No banco de trás, com voz séria, disse-me:

- Sabes, mãe, já sei que não são os Reis Magos quem nos oferece os presentes no Natal.

"Merda", pensei com um aperto no peito, "quem terá sido o idiota que lhe estragou o sonho do Natal com a verdade?".
Perguntei, a medo:

- Então, quem achas que é...?

- Ó mãe, tu sabes...!: É o Pai Natal!!!!

Suspirei de alívio, a medida da minha felicidade no tom da resposta dele.
Passámos os poucos metros de distância que nos separavam da escola a especular sobre como o dito senhor descia pela chaminé, como fazia quando as casas não a tinham, se tinha ou não de fazer pelo menos um bocadinho de dieta todos os anos para poder caber em lareiras, janelas, buracos na parede ou portinholas de gato.

Natal, é isto mesmo. Acreditar em presentes reais ou fictícios, materiais ou metafóricos, mas sempre, sempre, entregues pelas mãos de alguém bondoso e terno que entra pela casa como que por magia.
Natal, é isto mesmo. Aproveitem, se faz favor. E acreditem, seja qual fôr a idade. Tem muito mais graça.

Onde se esconde a tua criatividade?

O sexto sentido



(querido pai, tu, especialmente, tens de ver isto)

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A loucura do Natal

Estive seis horas nas compras, irritando-me com filas, tempo perdido e a má criação das pessoas. Cheguei a casa com embrulhos por fazer, esgotada e com vontade de outra coisa que não carregar com sacos à chuva. Acho que os meus filhos se ressentiram, graças à minha falta de paciência. Talvez por isso, ambos tiveram pesadelos, não conseguiram dormir; eram quatro da manhã do dia de hoje quando finalmente o mais novo sossegou e me pude preparar para três horas de sono. Adoro o Natal, mas não desta forma. Juro que para o ano que vem não colaboro nesta loucura.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Domingo

Arrumem a lenha, renovem os fósforos, preparem jornais velhos. Tirem mantas macias dos armários, afaguem almofadas e almofadões . Preparem biscoitos, cozam fruta em calda, perfumem a casa com chás aromáticos. Tomem banhos de água quente, massagem a pele com o vosso creme preferido, ofereçam aos cabelos das crianças odores frescos. Escolham roupas prazenteiras, talvez as mais antigas para darem aconchego, vistam meias de lã sem cós. Finalmente, sentem-se nos sofás mais confortáveis e envolvam todos aqueles que amam num dos melhores abraços do ano. O Inverno chega no domingo que vem. Não podia ter escolhido melhor dia.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Para o meu pai



(para te alegrar um pouco do teu dia de hoje, querido Albertinho)

Juro que Te mato

O meu pai deitou-se triste, ontem. Acredito que a minha mãe, também. Mas ele, como ele próprio diz, confessou-se hoje no seu blog. É complicado aos 80 anos ver amigos partir. No caso do meu pai, mais difícil é ver amigos ficarem por cá, perdendo as suas capacidades; sobretudo as mentais, irem definhando aos poucos sem consciência dos disparates, dos actos sem controle, quiçá com a inconsciência a bradar aos céus para os levar o mais depressa possível pela clarividência intuitiva de que não se está bem.
O meu pai é um ser anormalmente inteligente, dotado de um pensamento lúcido, de uma opinião certeira e não raras vezes inovadora. O meu pai é a prova de que a idade não afecta a inteligência; por isso o assusta tanto ver nos outros a perda da mesma porque sei que se pergunta sem nos dizer "e se eu um dia acabo assim?".
Odeio ver os meus pais tristes. Juro por Deus, meu Deus, que Te mato se alguma vez lhes pregas uma partida de mau gosto como esta. Mas sei que não vais fazer isso. Por isso só me apetece dizer palavrões daqueles que uma senhora não diz. Ás vezes é preciso. Para enxotar o Demo (que se se trocar a ordem das letras é meDo) daqui para fora.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O foco

Foco para este lado. Foco para aquele. Foco ainda para outro lado. Volto a focar. Invento mais mil e um focos. Mas chego sempre à conclusão que neste momento é imperativo que me foque para o lado de que menos gosto. Pois é. E é logo aquele que representa um objectivo que nunca tive, que nunca pensei, que sempre me roubou a criatividade, mas que agora parece obrigatório. Será? Ou há alguma mensagem escondida nos céus que não estou a conseguir compreender?

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Presente de Natal

Perguntaram-me ontem o que queria para este Natal. Eu pensei "Tenho Três Reis em casa que todos os dias demonstram a sua Magia sobre mim. São o melhor presente de Natal que alguma vez poderia desejar."

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Mitos retroactivos

Partiu hoje para Marrakesh. Já sinto saudades. Das boas. Daquelas sem ansiedade, sem medos, sem receios, tirando partindo do estar comigo, mesmo se sentindo a falta. Parece que a saudade quando é boa e positiva é pouco portuguesa. Será...? Vamos acreditar que são mitos retroactivos de Estado Novo. A realidade é que eu também não sou inteiramente portuguesa, portanto tenho uma boa desculpa para o que der e vier... Até ao teu regresso feliz, meu amor.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Imaginarium

Nunca tinha preparado uma viagem com tanta antecedência. Sobretudo uma viagem imaginária. Fazia muitas, era certo; mas geralmente as de sonho eram de outro género, mais profissionais, mais daquele tipo da ambição pura que não envolve os mais próximos por ser mais dura ou demasiado alta e por isso mais vulnerável. "Para cair que caia só eu do cimo dos meus sonhos", pensava ela. Desta vez, no entanto, não era assim. Ela queria uma viagem com todos os que não conseguia deixar de abraçar por um minuto que fosse. À distância de mais de seis meses, planeou-a. Sem saber o destino, ou sequer se importar com ele, escolheu vôos, preferiu aquele local em vez do outro, definiu a cor da areia, o tipo de fauna e flora, a intensidade do calor. Depois, fazendo mais uma coisa até esse momento impensável na sua vida, partilhou o seu imaginarium com ele. Ele sorriu e apenas disse ""eu sei onde vamos". Descreveu o lugar que ela já conhecia na sua mente e, afinal, na realidade também; fez com que se arrepiasse. Ela, a viajante indomável, o espírito sempre em fuga, os pés eternamente sem raízes, não tinha sido capaz de vislumbrar o que lhe ia na alma. Ele, sim. Alguém lhe dissera em certa ocasião para ter cuidado com o que desejava muito porque não raras vezes se tornava realidade. Só que desta vez, ela não sabia. Mas ele, sim. Tinha descoberto o lugar onde ela queria voltar. Com ele. Com eles. Para o vestir na pele de todos e perpetuar a sua magia por todo o sempre.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Sentar no chão e brincar

A vida profissional, às vezes não é fácil. Há espinhos, há armadilhas, há desilusões, contratempos, momentos menos bons. Mas não deixa de ser uma coisa. Uma coisa que paga as contas, que dá prazer (no meu caso, pelo menos), que nos desafia e completa. Mas uma coisa. Realmente importante é a nossa família, os afectos, a sensação de paz, de receber e dar colo quando chegamos a casa, perdendo capas e outros disfarces que temos de colocar durante o dia por força das circunstâncias. Sentar no chão, descalçar os sapatos, entrar no parque e fazer de brinquedo grande para um bebé. Oferecer um carinho a um filho mais velho, tirar dúvidas e incertezas, sentá-lo nos joelhos quando se sente pequenino. Deixar o tempo passar, abraçando quem decidimos ter ao lado na vida, perdendo as agruras do dia ou saboreando bons momentos. Não há dinheiro que pague nada disto. Ou que justifique a sua perda. Para mim, certamente que não.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Likewise

"Quando alguem que nos é querido sai da sala e se despede, fica. Já sentiram isso?
Quando alguem que nós apreciamos nos dá o último beijo e embarca para a viagem, fica. Não fica ?
Quando alguem que amamos, nos diz adeus e vai, fica. É mentira?
Quando alguem que gostamos de ver ao pé de nós, nos abandona, se despede, embarca, nos dá o último beijo e vai, deixa ficar a saudade a fermentar.
E além da saudade que começa a nascer, fica tambem o extracto etéreo e sublime dos momentos que passámos juntos,das alegrias que partilhamos e dos risos que partilhámos.
E que a nossa alma acumula."

O meu pai disse isto hoje no seu blog, depois do fim-de-semana que passámos em família. Um texto que me comove até ao mais fundo dos fundos. Por não saber dizer melhor, transcrevo-o aqui. Apenas espero que ele saiba que também nós sentimos o mesmo ao partir.

Que chatice é partir

Entrámos no carro, depois do fim-de-semana em família, os avós ainda lá fora nos últimos acenos, e o miúdo mais velho disse: "Bolas, ainda nem partimos e já tenho saudades dos avós". 

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O Avô João


Tenho uma imensa pena de não ter conhecido o meu Avô João. A minha avó Rosa, bem vestida e penteada, e certamente ainda a dançar lá nos céus, que me desculpe. Mas quem eu tenho verdadeira pena de não ter conhecido foi esse homem de cabelo preto azeviche e olhos verdes, chamado João das Dôres Quadros. Pelas histórias que tenho ouvido, sobretudo do meu pai e da querida tia Fernanda, só podia ser um homem extraordinário, dotado de um enorme sentido de humor e com uma visão para lá do horizonte mais próximo; não fosse ele oficial da Marinha, navegante de muitos mares. Além disso, a sua extensa prole é, na maioria dos casos, uma prova real do quanto ele devia ser invulgar. O meu pai é um belíssimo e original exemplo. Mas haviam mais. Havia o tio João, redondo como o planeta Terra, em cujo estômago cabia uma dúzia de ovos e um frango assado ao pequeno almoço, devidamente acompanhados de leite com café, e em cuja garganta moravam mil histórias e gargalhadas, regadas com um brilho nos olhos que iluminava qualquer um. Havia a tia Manuela, que parecia uma rainha das de Inglaterra, que me deixava muda; no fundo, acreditava que ela pertencia a um conto infantil e que apenas vinha emprestada para nos provar que os príncipes e princesas existiam. Havia a sensacional tia Fernanda, de quem já falei e que me ocuparia o resto da página. E finalmente, havia o mais novo, antes do meu pai, o tio Afonso, o meu tio preferido entre os homens por ser a aventura na pele, nos olhos, nos lábios e nos relatos que vinham de todos eles. Cada um deles, tenho a certeza, trouxe um bocadinho deste homem incrível que era o meu Avô. E aqueles que viemos depois, espero que tenhamos herdado pelo menos um ínfimo desse espírito tão especial. Acredito que sim. Por alguma razão, e através desta esta coisa tão moderna que é o Facebook, a família Quadros parece ter ensandecido na descoberta uns dos outros, como se, mais uma vez, ressuscitássemos o seu gene de viajante, adaptando-o ao século XXI. Quem sabe se não é ele lá em cima, numa tempestade de mar de uma dimensão que ainda não podemos imaginar, que agita todas estas águas para que o encontremos de novo, nem que seja ás partes, reunindo vários bocadinhos de cada vez.


(Nota importante: a família da foto não é a da minha família. Poderia ser mas apenas em número; modéstia à parte, nós somos muito mais bonitos)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Por um segundo apenas

Citando a Patrícia Reis:
"Por outras palavras? A cada segundo há alguém que morre de fome. Combater a fome é crucial. Em Portugal, o Banco Alimentar anunciou que teve um crescimento de mais de 30% de ofertas depois da habitual campanha junto dos supermercados. O problema está nos voluntários para a distribuição. Hoje ajudamos, amanhã alguém nos ajudará."


Façam o favor de ajudar. Nem que seja, assinando a petição em baixo. É o mínimo que podemos fazer, a grande maioria de nós, sentados à secretária, confortavelmente sabendo que ao final do dia, e amanhã, e também depois disso, teremos a despensa cheia. É possível, nem que seja por um segundo apenas, pensar nos outros. É pouco, mas é o mínimo que podemos fazer.
http://www.1billionhungry.org/home/1billionhungry-ok/en/

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Os Senhores

Os senhores lá de cima, não dormem. Não estou a falar de vizinhos, refiro-me a Senhores sem peso corpóreo, Aquele ou Aqueles que nos ajudam, mesmo quando colocam obstáculos do tamanho de elefantes no nosso percurso. Esses mesmos não dormem, estão atentos, e acima de tudo querem que sejamos felizes pois essa é a derradeira meta dos seres humanos. A mim, a nós, deram-nos uma segunda oportunidade. Para sermos mais felizes, eternamente em paz, vivendo o sentimento melhor do mundo em pleno. Ainda bem que soubemos aproveitar. Obrigada a ti, meu amor.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Fantasiar o Natal

Amanhã faço a Árvore, ponho esquilos de brincar por baixo, enfeito a casa de brilhos e deixo que eles se mantenham durante todo o dia e toda a noite até aos Reis se irem embora. O Natal está aí e nem posso esperar por ver os olhos do meu bebé a vibrarem de espanto com a sua primeira quadra, a cara do meu filho mais velho a disfarçar a alegria e o olhar cheio de ternura envergonhada do meu marido. Por isso não esperem de mim outra coisa porque o que mais vou querer é isto. Muito simples e tão bonito. Não fosse eu uma miúda ainda e sempre escondida neste corpo de 44 anos.

A única vez que chorei

Passámos o fim-de-semana a ouvir Queen no iPod do miúdo mais velho que se vai recheando dos mais variados estilos de música. Freddy Mercury era obrigatório; ainda e sempre será uma referência do que é a música construida de raíz, sem recurso de computadores ou falseios de voz. Ele era A voz. Os Queen eram, em muitos sentidos, A banda.
Freddy Mercury nasceu a 5 de Setembro de 1946 e morreu a 24 de Novembro de 1991 com Sida. Acho que foi a única vez que chorei a sério pela morte de um vocalista. God Bless you Farrokh Bommi Bulsara.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Bohemian Rapsody

Confesso que na maioria das vezes, odeio esta coisa moderna das trezentas e cinquenta versões que se fazem das músicas da nossa vida, nos estilos que vão desde o lounge (não tenho nada contra, desde que seja original), ao jazzy (não tenho nada contra desde que seja original), ao slow (não tenho nada contra desde que seja original) ou ao "elevador" (tenho tudo contra). Geralmente, estas versões, salvo raras e honrosas excepções, destroem não só as melodias em si como desvirtuam tudo o que faz ou fez delas algo genial.
Aos senhores que se acham tremendamente criativos ao "criá-las", tenho apenas uma coisa a dizer: Os Marretas já o faziam, muito antes de vocês se lembrarem disso. E ao contrário das vossas, respeitavam harmonias e arranjos, na íntegra. Deixo aqui um exemplo de uma das músicas da minha vida numa versão fiel e, no mínimo, humoristicamente brilhante. Have a nice weekend.

Roubar as dores

Os meus dois miúdos sofrem pelos dentes, estes dias. O mais novo, porque os quartos de leite, incisivos superiores, andam teimosos como se não quisessem ser crescidos e por isso, ora empurram a gengiva, ora fazem tréguas com moinha. O mais velho, porque os definitivos resolveram ser criativos e encavalitar-se uns nos outros, o que levou à colocação dos famosos brackets, tão na moda estes dias, mas tão chatos de suportar imediatamente depois de ser colocados.
Hoje de manhã, levei os meus filhos para a minha cama e dei-lhes colo como se fossem ambos da mesma idade. Dava tudo por poder roubar as dores a ambos. Mesmo se para isso tivesse de fazer crescer dentes de novo e colocar um aparelho logo a seguir. Tudo de uma vez.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Porque os nossos actos têm consequências

Afloat in the Ocean, Expanding Islands of Trash

By LINDSEY HOSHAW

Published: November 9, 2009

ABOARD THE ALGUITA, 1,000 miles northeast of Hawaii — In this remote patch of the Pacific Ocean, hundreds of miles from any national boundary, the detritus of human life is collecting in a swirling current so large that it defies precise measurement.

Lindsey Hoshaw for The New York Times

A spotted gray trigger fish was just big enough to fit inside a caulking tube, and became highly protective of its tiny habitat, snapping at approaching fish. Researchers removed the tube from the garbage patch in September and placed it in an aquarium for observation. More Photos »

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Mario Aguilera

DISPOSED Rubbish in the Pacific, where Charles Moore found a large trash patch by accident 12 years ago.More Photos >

Lindsey Hoshaw for The New York Times

Mr. Moore holds a bottle covered with barnacles and algae, indicating it had been in the water for a long time. More Photos >

Readers' Comments

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Light bulbs, bottle caps, toothbrushes, Popsicle sticks and tiny pieces of plastic, each the size of a grain of rice, inhabit the Pacific garbage patch, an area of widely dispersed trash that doubles in size every decade and is now believed to be roughly twice the size of Texas. But one research organization estimates that the garbage now actually pervades the Pacific, though most of it is caught in what oceanographers call a gyre like this one — an area of heavy currents and slack winds that keep the trash swirling in a giant whirlpool.

Scientists say the garbage patch is just one of five that may be caught in giant gyres scattered around the world’s oceans. Abandoned fishing gear like buoys, fishing line and nets account for some of the waste, but other items come from land after washing into storm drains and out to sea.

Plastic is the most common refuse in the patch because it is lightweight, durable and an omnipresent, disposable product in both advanced and developing societies. It can float along for hundreds of miles before being caught in a gyre and then, over time, breaking down.

But once it does split into pieces, the fragments look like confetti in the water. Millions, billions, trillions and more of these particles are floating in the world’s trash-filled gyres.

PCBs, DDT and other toxic chemicals cannot dissolve in water, but the plastic absorbs them like a sponge. Fish that feed on plankton ingest the tiny plastic particles. Scientists from the Algalita Marine Research Foundation say that fish tissues contain some of the same chemicals as the plastic. The scientists speculate that toxic chemicals are leaching into fish tissue from the plastic they eat.

The researchers say that when a predator — a larger fish or a person — eats the fish that eats the plastic, that predator may be transferring toxins to its own tissues, and in greater concentrations since toxins from multiple food sources can accumulate in the body.

Charles Moore found the Pacific garbage patch by accident 12 years ago, when he came upon it on his way back from a sailing race in Hawaii. As captain, Mr. Moore ferried three researchers, his first mate and a journalist here this summer in his 10th scientific trip to the site. He is convinced that several similar garbage patches remain to be discovered.

“Anywhere you really look for it, you’re going to see it,” he said.

Many scientists believe there is a garbage patch off the coast of Japan and another in the Sargasso Sea, in the middle of the Atlantic Ocean.

Bonnie Monteleone, a University of North Carolina, Wilmington, graduate student researching a master’s thesis on plastic accumulation in the ocean, visited the Sargasso Sea in late spring and the Pacific garbage patch with Mr. Moore this summer.

“I saw much higher concentrations of trash in the Pacific garbage patch than in the Sargasso,” Ms. Monteleone said, while acknowledging that she might not have found the Atlantic gyre’s highest concentration of trash.

Ms. Monteleone, a volunteer crew member on Mr. Moore’s ship, kept hoping she would see at least one sample taken from the Pacific garbage patch without any trash in it. “Just one area — just one,” she said. “That’s all I wanted to see. But everywhere had plastic.”

The Pacific garbage patch gained prominence after three independent marine research organizations visited it this summer. One of them, Project Kaisei, based in San Francisco, is trying to devise ways to clean up the patch by turning plastic into diesel fuel.

Environmentalists and celebrities are using the patch to promote their own causes. The actor Ted Danson’s nonprofit group Oceana designated Mr. Moore a hero for his work on the patch. Another Hollywood figure, Edward Norton, narrated a public-service announcement about plastic bags, which make their way out to the patch.

Mr. Moore, however, is the first person to have pursued serious scientific research by sampling the garbage patch. In 1999, he dedicated the Algalita foundation to studying it. Now the foundation examines plastic debris and takes samples of polluted water off the California coast and across the Pacific Ocean. By dragging a fine mesh net behind his research vessel Alguita, a 50-foot aluminum catamaran, Mr. Moore is able to collect small plastic fragments.

Researchers measure the amount of plastic in each sample and calculate the weight of each fragment. They also test the tissues of any fish caught in the nets to measure for toxic chemicals. One rainbow runner from a previous voyage had 84 pieces of plastic in its stomach.

The research team has not tested the most recent catch for toxic chemicals, but the water samples show that the amount of plastic in the gyre and the larger Pacific is increasing. Water samples from February contained twice as much plastic as samples from a decade ago.

“This is not the garbage patch I knew in 1999,” Mr. Moore said. “This is a totally different animal.”

For the captain’s first mate, Jeffery Ernst, the patch was “just a reminder that there’s nowhere that isn’t affected by humanity.”

Travel expenses were paid in part by readers of Spot.Us, a nonprofit Web project that supports freelance journalists.

This article has been revised to reflect the following correction:

Correction: November 26, 2009
An article on Nov. 10 about garbage patches in the world’s oceans referred incorrectly to the travels of a graduate student researching a master’s thesis on plastic accumulation in the oceans. The student, Bonnie Monteleone, visited the Sargasso Sea, which is part of a feature known as the Atlantic gyre. Thus, it was not the case that she “might not have found” the gyre. (Ms. Monteleone said instead that she might not have found the zone with the highest concentration of trash.)

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Voltei

Espreito pelas janelas de tempos a tempos e o dia cinzento, pingão, traz-me o sentimento do Natal de volta. Agora mesmo, apetecia-me decorar a árvore grande aqui da frente com luzes diminutas daquelas que se enredam a cada volta. Ficaria molhada até aos ossos de tanto que chove; mas juro que não me importava, só para ter a sensação de todos os anos ao ver o piscar das luzes que me faz sentir liliput. Este ano, pensei que a tinha perdido para sempre. Graças a Deus não é assim. Que bom é voltar a ser criança nem que seja uma só vez em cada ano.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Fantasiava George Orwell...?


Vale a pena ouvir para de uma vez por todas entendermos o quanto podemos ser manipulados. Nem que seja para pelo menos uma vez nas nossas vidas pensarmos pelas nossas cabeças e dizermos "não". Com ponto de exclamação e tudo.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Julie&Julia

Já não aguento mais ouvir falar da Gripe A e deste pânico generalizado com o alto patrocínio das empresas farmacêuticas e de jornalistas despudorados que adoram potenciar o drama só para criar notícia. No que me toca, só me preocupo com isso por causa dos meus filhos. E se tiver de ficar em casa com eles durante sete dias, de certeza que aproveito para pôr os mimos ainda mais em alta. Siga a marinha e chega desta conversa. Até porque é muito mais interessante dedicar-se à Gripe Cinema, essa sim, construtiva, muitas vezes apaixonante, fonte de reflexão ou de humor e ternura, como é o caso do filme que fui ver ontem. Julie&Julia é uma pérola de boa disposição. Como se isso não bastasse, são duas histórias verídicas em cena no grande écran, coisa que, pessoalmente, adoro. A arte de cozinhar é o grande mote deste filme de Nora Ephron com, pelo menos, duas interpretações (viva Meryl Streep, ainda e sempre grande camaleão maravilhoso) excelentes. Um conselho: jantar antes ou reservar um restaurante irrepreensível para depois - a fome vai ser mais que muita.

domingo, 22 de novembro de 2009

Acreditar

Tinha o desgosto de nunca ter visto os Massive Attack ao vivo. Ontem, vi-os. Tinha a saudade de um jantar verdadeiramente pleno de sentimentos e verdade, sem defesas. Ontem, tive-o. Tinha a vontade de estar sem reservas, sem receios. Ontem, estive. Que bom é acreditar que o amor, quando é verdadeiro, resiste a tudo.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Ambições de sexta-feira à noite

Cada dia da semana tinha sido um esforço. Começava pelas contas: tira daqui, põe acolá, paga uma despesa, meu Deus como vou liquidar esta outra. Continuava com a sementeira: telefona a este cliente, marca reunião com o da semana passada que não atendeu, alegra-te com o concurso que ganhaste que não vai dar em nada mas-sempre-é-um-pé-lá-dentro. Acabava com as idas para casa, os beijos aos filhos, o aconchego de alguém mais querido. Quando chegou a sexta-feira, decidiu que não iria fazer mais nada. Tinha direito. Não conseguiu: respondeu a dúvidas da contabilidade, fez listas de objectivos para a semana seguinte porque era preciso. Ao final do dia, já não podia mais. "Quero uma banheira linda, um banho quente, mimos perfumados na pele, o clichée absoluto de esticar-me no sofá enrolada numa manta, ouvir o bebé a dormir, sereno, num quarto mais à frente, emocionar-me com um filme qualquer daqueles românticos que espero que um dos canais escolha para mim esta noite. Hoje, não tenho espaço para quaisquer outras ambições."

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A minha esperança é dose

À minha melhor amiga bloqueram-lhe o carro hoje de manhã e ainda conseguiu rir. Eu, estou tesa que nem um carapau, mas desbloqueei verbas de debaixo dos tapetes, almofadas e colchões, e hoje fui buscar um Peugeot novinho em folha, azul noite, lindo de morrer (eu acho, lamento), crossroad, moderníssimo, com um travão de mão que parece uma tecla de computador, em vez da alavanca que as raparigas temos de puxar com as duas mãos em simultâneo, sempre que os homens não estão a ver, para não darmos parte de fracas. Vou passar o resto do dia a contar os tostões. Mas, cara alegre, porque a esperança de tempos muito melhores aqui, nesta cabecita e corpo inconscientes, não é a última a morrer: não morre, mesmo. Nem quando eu me for embora deste mundo, ah lá disso podem ter a certeza ab-so-lu-ta.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Dia de feira

As raparigas do atelier de restauro de móveis acordaram hoje na onda pimba. Sinto-me numa verdadeira feira, com farturas, carrinhos de choque, homens baixinhos de bigode e mulheres de cabelos permanentados, calças de ganga cheias de brilhos e botas brancas com lantejoulas, estilo Ágata. Pode parecer horrível mas é tremendamente cómico; sobretudo porque é acompanhado dos comentários e gargalhadas das "restauradoras" que, de pimba, não têm absolutamente nada. Cada dia neste pátio é uma novidade.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Para quem acredita no Amor (como eu)

Serendipity - the occurence and development of events by chance in a happy or beneficial way

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Voyeurs da intimidade

Gosto de imaginar caras ao receberem um presente, saber que consegui descobrir o que mais queriam sem nunca o terem dito ou simplesmente porque o deixaram escapar numa situação inusitada, fosse em sonho ou conversa banal. É bonito este exercício de voyeur na intimidade mais escondida de alguém.

domingo, 15 de novembro de 2009

Flashback II - O fingimento do desapego

- Tiraste uma fotografia?
Perguntou-me a V.
- Claro que não. Um carro é um carro! Aliás, não tenho apego a objectos.
Aldrabona. Disse adeus à minha amiga e fechei o portão de casa rapidamente, para não ver o meu querido Mini a despedir-se de mim.
Nem de propósito, o meu filho mais velho comentou
- 60.000 km de boas coisas vivemos nós naquele carrinho, mãe.
Pois foi, pensei eu. Mas sacudindo a cabeça, respondi
- Venha o Peugeot para mais 60.000 de bons momentos.
O que é que querem. Sou mesmo assim.

Flashback I -Um sábado como outro qualquer

Era sábado. Era manhã, não excessivamente cedo. Saí para comprar pão, leite e o jornal. Nada mais trivial mas o certo era que não o fazia há que tempos. Adoro estas saídas de bairro no Outono, com o céu a querer meter medo e os miúdos em casa, em roupa de dormir, a despedir-se de mim, dizendo "quando voltares, pões outra vez o pijama, sim, mãe?".
Fui. Quando voltei, a casa cheirava a café, a mesa da cozinha tinha sido posta pelo mais velho, o bebé ouvia de olhos muito abertos uma melodia de mil anos cantada por Ella Fitzgerald. Tirei as coisas dos sacos, dispusemo-las de forma apetitosa sobre a mesa e tomámos o pequeno almoço, entre graças, risos, pequenas birras e a leitura do "i". Que bom, meu Deus, que sábado mais normal, mas que bom. Tive tempo e vagar (como diria o meu pai) para ler o jornal de uma ponta à outra, um verdadeiro luxo. Nesse processo, pude tomar nota de (mais) livros que quero comprar, irritei-me por já ter perdido três Pessoas grátis às sextas naquele mesmo jornal, e, entre outros, fiquei com um artigo na memória que me vai custar mais uma encomenda à maravilhosa Amazon. O título é "Freud não explicou. Afinal o cérebro dos bebés não é uma folha em branco. - Uma antologia de estudos científicos revela que os bebés até têm noções básicas de física e de matemática". (Quem gostar destas coisas como eu pode ir a www.ionline.pt. O artigo ainda está disponível para consulta.)
O domingo acordou feio e chuvoso. A realidade é que não me importa; tive um fim de semana cheio de prazeres simples a cada minuto. São esses os que dão que contar verdadeiramente na vida.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

I sure do!!


I'm going out tonight-I'm feelin' alright
Gonna let it all hang out
Wanna make some noise-really raise my voice
Yeah, I wanna scream and shout
No inhibitions-make no conditions
Get a little outta line
I ain't gonna act politically correct
I only wanna have a good time

The best thing about being a woman
Is the prerogative to have a little fun (fun, fun)

Oh, oh, oh, go totally crazy-forget I'm a lady
Men's shirts-short skirts
Oh, oh, oh, really go wild-yeah, doin' it in style
Oh, oh, oh, get in the action-feel the attraction
Color my hair-do what I dare
Oh, oh, oh, I wanna be free-yeah, to feel the way I feel
Man! I feel like a woman!

The girls need a break-tonight we're gonna take
The chance to get out on the town
We don't need romance-we only wanna dance
We're gonna let our hair hang down

The best thing about being a woman
Is the prerogative to have a little fun (fun, fun)

Oh, oh, oh, go totally crazy-forget I'm a lady
Men's shirts-short skirts
Oh, oh, oh, really go wild-yeah, doin' it in style
Oh, oh, oh, get in the action-feel the attraction
Color my hair-do what I dare
Oh, oh, oh, I wanna be free-yeah, to feel the way I feel
Man! I feel like a woman!

The best thing about being a woman
Is the prerogative to have a little fun (fun, fun)

Oh, oh, oh, go totally crazy-forget I'm a lady
Men's shirts-short skirts
Oh, oh, oh, really go wild-yeah, doin' it in style
Oh, oh, oh, get in the action-feel the attraction
Color my hair-do what I dare
Oh, oh, oh, I wanna be free-yeah, to feel the way I feel
Man! I feel like a woman!

I get totally crazy
Can you feel it
Come, come, come on baby
I feel like a woman

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Uma boa equipa

"Fazemos uma boa equipa, sabes?"
Disse-me ela ao telefone
"Somos mesmo uma boa equipa. Complementamo-nos em tudo, seja qual for o lugar ou a situação. Ele sabe do que eu preciso e eu sei também. Nem precisamos de falar. É mesmo bom."
Pois é. Recados destes são esperança no Amor. Bom fim de semana.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Corre que corre

Faço anúncios, escolho imagens, passo horas a fio ao telefone a discutir pormenores, escrevo textos, e só de vez em quando me permito um intervalo de laracha e gargalhada com a minha querida Directora de Arte, Vanessa. Irra que estas coisas são bastante mais fáceis quando se está numa estrutura grande e se delegam tarefas. Mas prefiro mil vezes este corre-que-corre do que depender do humor ou neuras de alguém que se intitule patrão. Corro por gosto e só com aqueles que quero. Mesmo que me canse, não carrego o cansaço de mais ninguém.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Eighties em Santos

Aqui mesmo por baixo, as raparigas da loja de restauro de móveis ouvem música new age dos anos 80, aos gritos. O pátio inteiro faz comentários, desde o Sr. Rebôxo às tias lá do canto, dos manos das flores às pessoas do escritório em frente. Pela parte que me toca, deixo de conseguir trabalhar. Desisto (com um assomo de alívio por ter uma desculpa para uma pausa). Vou beber um café. É muito aconchego junto logo no primeiro dia frio do ano.

domingo, 1 de novembro de 2009

Seja de que maneira fôr

Chegou o primeiro dia de Novembro e encontro-me sem ter celebrado a chegada do Outono. Estranho. Logo eu, que gosto de todas as estações. Não faz mal, mais vale tarde que nunca. E quem quiser, que me ature hoje, com o meu vício desse fruto maravilhoso chamado castanha.
Símbolo do Outono por excelência, para mim significa, em primeiro lugar, os tempos da minha infância no País Basco espanhol. Lembro-me de passear com as minhas primas por entre os castanheiros, as cabeças protegidas por gorros de lã e as mãos brancas de tão frias. Olhávamos o chão, coberto de cogumelos, musgo e humidade, e descobríamos as pequenas bolas pejadas de espinhos verdes. Com os sapatos de borracha, amparávamos as bolas entre os pés; depois, puxávamos por um dos lados para fazer separar os bicos do fruto que colhíamos com prazer. A alegria de encher os sacos de pano era maior quando chegávamos a casa dos meus tios com os narizes vermelhos e a pingar. É que aí vinha o momento da decisão de como as iríamos cozinhar. Não era decisão fácil, essa; ainda continua a não ser.
Um pouco mais tarde, as castanhas passaram a simbolizar o Outono, e também o Inverno, e também Lisboa. Sobretudo nos anos que não vivi aqui, as estações frias e as visitas à capital tinham sempre um quê de nevoeiro, um quê de bruma, fossem elas reais ou fictícias causadas pelos assadores de castanhas. É um cheiro que está gravado no meu nariz e paladar, de tal forma forte que o transmiti ao meu filho mais velho. Não sei se por gene ou por hábito, a verdade é que o vejo a fazer as minhas vezes quando tinha a sua idade e sorrio: o miúdo também não passa sem castanhas no Outono. Falta agora o pequenino Vicente, que ainda não pode deliciar-se com as castanhas mas que pode sentir o seu cheiro. Por isso, vai senti-las assadas e na rua, em plena Lisboa, que é como são mais quentes, mais misteriosas e deixam mais marcas. Mas quando puder, vai saboreá-las de todas as maneiras e descobrir que assadas, piladas, cozidas, em puré, em mousse ou como fôr, a castanha é um dos frutos mais divinos do bosque.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

She's the one

Na consulta de rotina, a médica olhou para ela e perguntou, pela enésima vez naqueles três anos
- Mercedes, que idade tem? Nunca me lembro... sessenta e quantos...?
A senhora sorriu e disse no sotaque castelhano
- Doutora Margarida, que disparate... são setenta e nove.
A médica louvou-lhe mais uma vez a beleza e a vitalidade, tirou-lhe os medos dizendo que os seus pulmão e meio estavam perfeitamente bem e valiam por dois.

A senhora é a minha mãe. A mais linda de todas. A mais corajosa de todas. E de cada vez que ela sai, contente, destas consultas de incógnita e angústia, fico tão aliviada que até me dá vontade de chorar. De alegria, claro.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Tanta perda

Perguntaram ao Dalai Lama:
"O que mais te surpreende na Humanidade?"

Ele respondeu:
"Os homens... porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde.
E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente, nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido."

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Desculpa esfarrapada

Hoje, acabei a tua compota. Eu sei que os portugueses dizem "doce" mas eu habituei-me a chamar-lhes compotas, a minha infância deu-lhes esse nome. Soa melhor, soa mais diferente, algo mais espesso, que fica na língua e no palato e perdura na memória de um dia. Doce é curto, demasiado rápido.
Ofereceste-me um frasco de abóbora, feito por ti. Acabei-o hoje, fazendo como as crianças, rapando o vidro, lambendo os dedos e a colher. Já tenho saudades de ter outro em casa. Mas tudo isto é uma desculpa esfarrapada porque de quem tenho mesmo saudades é de ti, querida amiga.