domingo, 29 de dezembro de 2013

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Ano novo, blog novo. A partir de agora em http://abreosteusolhos.wordpress.com/

nostalgias de fim de ano I


Todos os anos, nesta altura, senta-se no passeio e observa. Ela gosta de ver sem dizer nada, os poros das sensações transformando-se em esponjas diminutas absolutamente poderosas.
A calçada está suja como habitualmente, as pessoas também são as mesmas, ano após ano, que tristeza, pensa. A mulher repara nas posturas, na graduação do brilho dos olhos, nas formas de caminhar. A maioria carrega os anos em vez de os ter vivido. Essa não era uma novidade. Talvez ela se sente ali, todos os Dezembros, esperando uma diferença; ou talvez seja algo perfeitamente egoísta e na realidade ela veja na ausência de mudança o espelho de si mesma que um dia esteve bem próximo e que nunca mais quer ver. Hoje sabe que não está ao seu alcance fazer o que quer que seja pela mudança de outrem, ter essa expectativa ou sequer ajudar; ela não tem esse direito, ninguém tem. Apenas a sua lhe é acessível, basta retirar o medo da equação.
A mulher ergue-se do passeio e sacode o pó de um ano que em breve será passado. As partículas espalham-se pelo ar e depois pousam dentro da caixa de veludo que ela entretanto abriu. A mulher deixa que algumas voem para longe enquanto outras ficam firmemente agarradas ao tecido. Finalmente fecha a caixa e fixa mentalmente o local onde deseja colocá-la. O passado não se enterra, digere-se.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

comunicar

Há dias em que parece que quase nada funciona, sobretudo a comunicação. Detesto quando isso acontece. Comunicar faz parte da nossa natureza.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

segunda-feira, dia de todos os papéis

Segunda-feira, dia de correria. Faço a lista dos que-fazeres, resolvo o que ficou por resolver da semana anterior, corro para as aulas, no caminho dou um beijo por telefone á minha mãe, acabo o dia em casa com os miúdos e, esta noite, ainda tenho um enfeite de Natal por decorar com o mais pequeno.No primeiro dia da semana, acumulo sempre todos os papéis. A vida é isto também.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

BEZT weekend

Duas coisas boas para começar bem o final da semana.

(Chama-se BEZT. Espreitem, vale a pena.)



quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

a janela

Pousado na janela, o pássaro espreitou. Andava a rondar aquela casa havia muito tempo. A curiosidade espicaçava-o mas não estava completamente certo de querer entrar. As últimas tinham fechado portas ou sugerido vidraças entreabertas onde pensara que havia luz quando apenas se tratara da chama de uma vela. Confuso, o pássaro agitou as penas como se pretendesse voar para longe. Um ruído sobressaltou-o, olhou de novo. A janela estava agora aberta. Do lado de dentro, um bebedouro. A medo, a ave entrou. Sem perder de vista a janela, teve de admitir que aquilo que via do interior lhe agradava. Saltou e voou rapidamente pelo espaço, não podia perder de vista o mundo lá fora. Por fim, dirigiu-se ao bebedouro e satisfez a sede. A janela continuava aberta. O pássaro sacudiu as asas e avançou para fora, contente.
No dia seguinte, voltou, tornou a entrar, descobriu mais uns quantos detalhes e novamente saiu. Foi regressando à casa em dias seguidos ou intermitentes, encontrando sempre, em cada uma de todas as vezes, a janela sem fechar e o bebedouro, fosse qual fosse a estação do ano.
Numa tarde muito fria, o pássaro sentiu-se tão aconchegado lá dentro que adormeceu. Acordou assustado e irritado consigo mesmo pela distracção: talvez tivesse sido desta. Uma brisa gelada soprou sobre as penas da sua cabeça; apesar de tudo, da temperatura, do gelo, o trinco não tinha sido fechado.
Então, e apenas então, a ave descansou: agora sim, podia deixar-se estar. Nada lhe poderia dar mais vontade de ficar que a eterna liberdade de poder partir.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

rir dos infernos

Para ver se me acalmo e me rio com as coisas que tentam fazer de parte da nossa vida um inferninho.