segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Sôdade

Tenho saudades do meu escritório. Tenho saudades de algum tempo para mim. Tenho saudades da minha outra parte. Tenho saudades do bulício, da falta de rotina, do inesperado, do desafio. Tenho saudades de ter saudades de ficar em casa.
E depois... tenho sempre saudades dos meus filhos, de cuidar da família, da casa, dos meus objectos. Bolas. Não é mesmo fácil ser mulher. Mas não trocava de género por nada deste mundo.

domingo, 30 de agosto de 2009

O desapego

A minha máquina fotográfica chegou sã e salva na sexta-feira. Hoje, deleitei-me a contemplá-la, feliz por tê-la de volta. Não se pense que é um modelo ultra-sofisticado ou mega-caro, daqueles que nos arrepiam em cada disparo só de pensar o quanto nos custou. Nada disso; é uma Canon que imita as dos anos 50, muito fácil de utilizar e com uma nitidez e resolução espantosas. Mas as razões da minha tristeza quando a julguei perdida, não foram essas. Tinham sobretudo a ver com o facto de pensar que teria ficado sem as imagens irrepetíveis dos meus filhos nestas férias.
Não tenho apego às coisas. Aliás, durante muito tempo, primei por uma considerável falta de respeito pelo vil metal, o que me colocava numa categoria bastante perigosa, próxima da insconsciência. Hoje em dia, não sou tanto assim. Tenho filhos e portanto responsabilidades, trabalho por conta própria, cumpro consciente (e infelizmente) com as minhas obrigações de contribuinte. Ainda assim, tenho desapego aos objectos. Para mim, são isso mesmo: coisas. Podem-se substituir, não me dão carinho, companhia e muito menos felicidade, a não ser a momentânea, e podem-se dar a quem precisa delas. Por isso, não consigo ter uma peça de roupa no armário durante duas estações sem a vestir; as minhas amigas adoram as minhas rentrées porque sabem que herdarão certamente muitos vestidos, malas e sapatos. Também por isso, adoro viajar com uma mala pequena que se restrinja ao essencial, sempre bonito, bem escolhido e combinado, claro. Pouco não quer dizer obrigatoriamente falta. É claro que tenho objectos dos quais não me consigo desfazer mas estão sempre ligados a momentos especiais que vivi com alguém. O meu apego é às pessoas, mais nada.
Talvez por isso costumo dizer que, em matéria de objectos tenho tudo aquilo de que preciso e gosto, e até algumas coisas a mais. Em matéria de pessoas, ainda me falta muito por descobrir. Sensação boa.

sábado, 29 de agosto de 2009

Bonsai


Quebravam os ossos do tarso e metatarso para dobrar dedos e pés para dentro. Depois, pegavam em faixas de pano e amarravam as estruturas deformadas. Graças a este hábito cultural, as mulheres da antiga China ganhavam um andar trôpego, como resultado da desproporção e das dores que deviam calar. Esta forma de se deslocarem era considerada sensual pelos homens, imagine-se.


Hoje, tudo isto nos parece uma atrocidade; mas, aos olhos do meu pai, continuamos a cometê-la e a autorizá-la de cada vez que compramos um bonsai. No meu post de ontem, dei por engano esse nome à minha árvore japonesa. O meu pai zangou-se e com toda a razão. É uma pessoa coerente e com princípios que não se alteram consoante o sujeito da acção. Há cada vez menos indivíduos assim; eu tenho a sorte que um deles seja meu pai.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Costurar a vida

O meu computador precioso (sim, este lindo MacBook branco) tem de ir para a revisão e, quem sabe, ser trocado por um de última geração. Esta semana, ainda, sem falta, devo ligar para a EDP para ligarem a luz no escritório. Os livros escolares do miúdo mais velho devem ser recolhidos na livraria do Dafundo, cadernos e mochila nova devem ser comprados. O blog do meu mais recente acordo de parceria tem de ser revisto e finalizado para ser posto em marcha em Setembro. Uma nova ideia para um livro deve ser trabalhada em esqueleto para ver se conduz a lado algum. Um novo projecto germina à velocidade da luz. O meu bonsai gigante, Golias, tem de ser regado, o escritório limpo e arrumado. O bebé reclama atenção permanente. Faço tudo isto com enorme prazer. Serei louca? Não. Apenas adoro costurar a vida e vê-la crescer.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Prolixa

É mesmo assim: chego a casa e as palavras saltam-me dos dedos, perco a preguiça. Neste momento, justiça seja feita, a "culpa" é do meu pai e do último post do seu blogue, no qual coloca um excerto daquele que, espero, seja o seu livro a ser editado em breve. O título é "Pára". Façam favor de o ler todos aqueles que gostam de frases bem escritas e cheínhas de substância; basta ir a sonhoscomsorte.blogspot.com

Preguiça

As Minas de S.Domingos são um cenário de filme que alterna paisagens áridas de pedra multicor com "lagos" de cores impensáveis, graças aos minérios que por ali abundam. A Estalagem/Hotel é verdadeiramente confortável e Mértola a vila-museu amorosa que não defraudou as minhas memórias. Mesmo assim, tive preguiça de escrever umas linhas, embrenhada como estava nos quefazeres da família...
De volta a casa, voltam as rotinas, aquelas de que gosto: o meu marido arruma tudo, faz as contas, deambula pelo espaço sentindo a sua energia. O meu filho mais velho joga no computador, matando as saudades depois das férias anuais com desintoxicação tecnológica incluída. O bebé dorme, estranhando de tempos a tempos a sua cama. E eu, volto a sentir o mesmo de sempre: que bom é preparar a ida, ir, e finalmente regressar de novo.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

São Domingos à sombra

Deixámos Sagres para trás e, infelizmente, a minha adorada câmara fotográfica também. Um telefonema rápido para o Memmo Baleeira e agora resta-me rezar para que uma empregada honesta ou um hóspede consciencioso a tenham devolvido à recepção e a possa recuperar sã e salva.

As férias contudo seguem o seu caminho.
Com 34 graus aterrámos nas Minas de São Domingos, Alentejo profundo, mesmo ao lado da linda Mértola. No caminho, um ror de perdizes tôlas escapando a automóveis como se brincassem ao "perigo é a minha profissão", mil e um coelhos , tantas outras lebres escondidas. Vou gostar de estar aqui.

sábado, 22 de agosto de 2009

Sagres - Dia 5

12 graus. Exactamente a doze graus de diferença fica a so-called "Praia dos Tomates" do meu querido Sagres. É um facto: saímos de cá com 21 e chegámos lá com 33. A temperatura do mar também faz muita diferença; é como comparar caldo a um gaspacho bem fresquinho. Pois. Mas eu continuo a preferir este silêncio, este bom gosto, esta privacidade, os muitos metros quadrados que me separam, na praia, do turista mais próximo, a sensação de ninguém conhecer, a total ausência de consumismo no areal. Mais uma vez, viva o Algarve a partir de Lagos. Podem-me chamar snob, se quiserem. Quero lá saber.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Sagres - Dia 4

Prólogo:
Adoro estar aqui. Não me apetece sair daqui a não ser para continuar viagem com a família. Eu sei que quando as férias são grandes não me apetece mais nada nem mais ninguém. Quero gozar cada minuto com os meus filhos e com o meu marido, mesmo se por vezes me cansem ou me possam fazer perder a paciência. Pode parecer exagerado mas, para mim, é a recompensa merecida de muitos meses de trabalho, muitos espaços por preencher, muitos vazios por colmatar. Nem todos pensamos assim. É a vida.
E agora, sim:
No Memmo Baleeira continuamos a sentir-nos em casa; e as praias da zona (benditas Zavial Ingrina e Beliche) enchem-nos as medidas com um mar digno das Caraíbas, promontórios de cortar a respiração e uma afluência de sonho, diminuta, que nem faz crer que estejamos no Algarve, em pleno Agosto.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Sagres - Dia 1

Chegámos ontem, já de noite. A boémia-freak-surfista de Sagres acolheu-nos de imediato. Gosto deste lado do Algarve muito mais do que do outro onde nasci. É genuíno, tem gente bonita, não tem a ânsia de ver e ser visto a altas horas da noite, em máscaras de nada.
Apesar disso, no Memmo Baleeira, é possível ter a ilusão de um Miami perdido neste sul de Portugal; mas é apenas ilusão, felizmente.

domingo, 16 de agosto de 2009

Do que eu gosto

Gosto dos amigos em casa, das gargalhadas que se colam às paredes, do vinho que se entorna com alegria, de esborrachar as saudades com conversas amenas e novidades boas, da partilha das amizades com os meus filhos, dos jantares que acabam com o sentimento positivo de que se aprendeu alguma coisa, nem que seja aprender a juntar gengibre ao caril de camarão.
Do que eu não gosto é precisamente do oposto.

sábado, 15 de agosto de 2009

BA -10; UB - 0

Detesto começar pelo lado negativo das coisas mas hoje, não resisto: homens acima dos 40, famintos de uma mulher qualquer; mulheres acima dos 35 fingindo divertir-se, na realidade à procura de um homem qualquer; mulheres com ar de prostitutas (provavelmente não apenas com o ar) sentadas diante de um copo, abanando as pernas com ar de enfado; música a martelo. Esta pode ser a noite num dos bares-restaurante mais in de Lisboa. Valha-nos o local, branco imaculado, quase virgem, não fosse a frequência. Valha-nos a ideia de recriar um bar de praia, no centro da cidade com um espelho de água que se prolonga para o maravilhoso rio Tejo. Seria muito mais bonito em silêncio acompanhado pelo ruído das águas.

Antes disso o Bairro Alto: sujo, sim; cheio de meliantes encapotados, também. Mas genuíno na sua mistura de gentes: dreadlocks, gays, miudagem, adultos em amena cavaqueira, lojas alternativas de bom e menos bom gosto, reggae, ritmos latinos. Valha-nos o Bairro. Viva o Bairro. Faz-me sempre sorrir.

Ao primeiro, não volto mais. Ao Bairro Alto, sempre. Já lá vão mais de vinte anos.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

A inércia

V: People should not be affraid of their Governments. Governments should be affraid of their people.

Ontem revi o filme V for Vendetta e relembrei esta frase que me impressionou tanto. Através dela, pensei na nossa realidade e uma questão surgiu: será que a inércia em que o nosso povo anda perdido não é também uma forma de medo? Igualmente paralizante, é. Começa a ser tempo de acordar.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Haja orgulho

Ainda não tinha visto, confesso. Mas foi um prazer descobrir que ainda existem portugueses que se orgulham da sua nacionalidade e que, por isso mesmo, recuperaram objectos marcantes da mesma, colocando-os na categoria de state-of-the-art. De facto, produtos como os sabonetes da Ach Brito já são referências internacionais e temos muito mais com que nos sentir vaidosos de ser portugueses. Um dos meus exemplos mais queridos são as andorinhas de Rafael Bordalo Pinheiro ou os lápis da Viarco; e descobri muitos mais no site de Catarina Portas, em si já uma peça de bom gosto e cuidado extremo. Assim se tratam as nossas raízes e assim deveria o país inteiro ser sentido por habitantes e, sobretudo, políticos. À falta disso, resta a esperança bonita daqueles que puseram mãos à obra e tratam Portugal com o respeito que merece e que muitas vezes apenas devotamos ao estrangeiro.
www.umacasaportuguesa.pt faz agora parte dos meus Bookmarks; ou, por outras palavras, e em bom português, faz parte dos meus Favoritos.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Adultos a dormir que nem bebés

Ao fim de quatro meses e meio esta foi a segunda noite em que descansei ao longo de sete horas seguidas. O meu filho mais recente, graças a uma nova maturidade e com a pequena ajuda de um biberon reforçado à uma da manhã, conseguiu aguentar mais tempo sem necessidade de comer. Que felicidade. Já não me lembrava o que era dormir tanto tempo. Posso dizer que, nestas noites, eu sim, dormi que nem um bebé.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

E vale mesmo

Se não mo tivessem recomendado provavelmente passaria ao lado e julgá-lo-ía injustamente como mais um livreco de auto-ajuda cheio de clichées e frases óbvias, prontas a consolar e dar segurança ao mais básico dos seres humanos. Confesso que o comprei meio descrente e agora engulo com preceito o sapo dos julgamentos à pressa. Vai valer a pena é, em escrita simples e escorreita, um livro que nos demonstra como não sabemos lidar com o casamento, o quão pouco preparados estamos para ele e, mais grave, o ínfimo que fazemos para nos preservar a nós próprios e garantir a nossa felicidade. Mas ali também se percebem as razões para que não saibamos fazer tanta coisa; entre elas, o facto de o casamento ser algo demasiado recente na história da espécie humana e o divórcio ainda mais, o que não nos permite ter armas para poder tomar decisões com segurança. Contudo, o que o afasta do meu preconceito inicial são duas coisas: não se prometem casamentos de contos de fadas para os quais apenas é necessário encontrar o príncipe ou a princesa encantados. Não. Nas letras de Joaquim Quintino Aires, os príncipes e princesas de cada um são eles próprios. E, o que poderia ser também tema fácil (e é-o em muitas edições de conteúdo de revista côr-de-rosa), também não se menospreza o casamento. Mais uma vez, não. O casamento é apresentado como uma das mais perfeitas formas de desenvolvimento pessoal. A diferença é que se insiste ao longo de todo o livro que é isso que ele deve ser; a partir do momento em que se transforme numa fonte de castração ou involução pessoal não deveria ser mantido. Vai valer a pena dá que pensar e pode chegar mesmo a incomodar por nos questionar de maior ou menor maneira. Só que a vida é demasiado curta para se passar por ela sem a ter vivido. É o que eu acho.

sábado, 8 de agosto de 2009

O amor não tem fim

Quando tive o meu primeiro filho pensei como era possível repartir um sentimento tão grande por mais algum. Pensei inclusivamente na minha mãe, progenitora de quatro e admirei-a por ser capaz. Este ano, nasceu o meu segundo filho. Nesse momento preocupei-me: seria realmente capaz de amar os dois de igual maneira e intensidade? Hoje sei que sim. O amor é deveras infinito. E em mim, graças a Deus, muito mais duradoiro que os ressentimentos, as raivas ou o despeito. Não há lugar para o ódio no meu coração. Mas tenho a capacidade de amar muito para além do que alguma vez imaginei. Mais um ensinamento que recebo destes seres pequeninos que lá no alto nos escolhem, confiando que seremos capazes de o fazer e nada mais.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Os cuidados do Rebocho

No escritório, tenho duas orquídeas e uma árvore japonesa de mais de um metro de altura a que dei carinhosamente o nome de Golias. Desde o nascimento do meu filho mais novo, todas estas plantas têm sobrevivido, e muito bem, graças aos cuidados do Senhor Rebocho, o ajuda-a-todos lá do pátio. Como se esta ajuda de mais de quatro meses não bastasse, este nosso anjo da guarda ainda me enviou hoje uma mensagem a demonstrar a sua preocupação por ir de férias na segunda quinzena deste mês e assim "as plantinhas ficarem sem quem cuide delas"...
Ainda dizem que não há gente boa neste mundo.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A espera doce

São quatro e meia da tarde. O telemóvel toca.

- Alexa...

- Sim, João...

- Ligaram da Revista "Os Meus Livros". Na edição de Setembro vai ser publicada a primeira recensão do teu livro.

Um arrepio percorre-me. Não é medo mas antes nervoseira. É bom. É sinal de que, pelo menos, fui lida. Agora, resta apenas aguentar a espera doce que antecede sempre todo e qualquer desafio a que sou submetida.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A volta

É bom regressar, sentindo o nosso cheiro nas coisas por nós escolhidas, reencontrando em casa o espaço que criámos para viver connosco. Mais ainda quando a serenidade que nos é própria está de volta e a paz se instala definitivamente no nosso interior. Nada nem ninguém nos dá mais segurança que o reencontro com nós próprios. Essa sim, é a verdadeira felicidade.