sexta-feira, 30 de outubro de 2009

She's the one

Na consulta de rotina, a médica olhou para ela e perguntou, pela enésima vez naqueles três anos
- Mercedes, que idade tem? Nunca me lembro... sessenta e quantos...?
A senhora sorriu e disse no sotaque castelhano
- Doutora Margarida, que disparate... são setenta e nove.
A médica louvou-lhe mais uma vez a beleza e a vitalidade, tirou-lhe os medos dizendo que os seus pulmão e meio estavam perfeitamente bem e valiam por dois.

A senhora é a minha mãe. A mais linda de todas. A mais corajosa de todas. E de cada vez que ela sai, contente, destas consultas de incógnita e angústia, fico tão aliviada que até me dá vontade de chorar. De alegria, claro.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Tanta perda

Perguntaram ao Dalai Lama:
"O que mais te surpreende na Humanidade?"

Ele respondeu:
"Os homens... porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde.
E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente, nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido."

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Desculpa esfarrapada

Hoje, acabei a tua compota. Eu sei que os portugueses dizem "doce" mas eu habituei-me a chamar-lhes compotas, a minha infância deu-lhes esse nome. Soa melhor, soa mais diferente, algo mais espesso, que fica na língua e no palato e perdura na memória de um dia. Doce é curto, demasiado rápido.
Ofereceste-me um frasco de abóbora, feito por ti. Acabei-o hoje, fazendo como as crianças, rapando o vidro, lambendo os dedos e a colher. Já tenho saudades de ter outro em casa. Mas tudo isto é uma desculpa esfarrapada porque de quem tenho mesmo saudades é de ti, querida amiga.

Mal-entendidos

Como é possível dizer branco e ser entendido negro? Como é possível dizer importo-me e ser entendido obrigo-te? Como é possível dizer sê tu e ser entendido abdica de ti?
Infelizmente, é. E deixa-me mal. Com vontade de não mais abrir esta boca que muitas vezes se explica por palavras negras numa folha de papel branco.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

O anjo

O miúdo abraçou-se a ela e disse

- Tudo o que tu decidires está bem. Eu estarei sempre ao teu lado.

"Que sorte", pensou ela, "que sorte tão imensa tenho com este anjo que escolheu ser meu filho". Fingiu ser pequenina, deixou-se envolver nos braços dele por alguns minutos. Depois, tomando novamente consciência dos papéis que nunca devem ser invertidos, deu-lhe um beijo na testa e tomou-o nos seus braços num agradecimento profundo.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Virada do avesso

Os arquétipos manifestaram-se. Entre Deusas, múltiplas energias vieram a lume. A mulher gritou, saltou, dançou, chorou as lágrimas que sabia iria chorar e muitas outras que nem imaginava que tinha, de tão profundas; riu, dormiu em sobressaltos acompanhada de ritmos da África e da Ásia, revelou-se para além do imaginável.
Hoje, ao levantar-se da cama, pensou que caía: tinha de reaprender a andar. "Estou a renascer", pensou.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Abre os teus olhos

Como comprimido que se toma a horas certas, mesmo quando não apetece, mesmo quando não há vontade, hoje tomo para mim os objectivos a que me propus quando comecei este blog: uma mulher também foi feita para sorrir; e eu, fui-a com toda a certeza. As rugas que mostro com orgulho nos cantos da boca e esquinas dos olhos não me deixam mentir.

As quintas-feiras importantes da vida

A mulher rodou a chave na porta e encontrou a criança, feliz, nos braços da empregada. Como se não fosse felicidade suficiente, o bebé olhou para a mãe e, com intenção, disse:
- Ma ma ma ma...
Ela ficou com os olhos rasos de lágrimas.
Há quintas-feiras que valem pelo resto dos dias de uma vida.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Vais ver

- Daqui a nada, tens tanta coisa para fazer que nem vais saber para onde te virar. Vais ver.

A minha mãe disse-me isto há dois dias, usando o seu portuñol ternurento. É tão sábia; mesmo quando desconhece o alcance da sua sabedoria. Tem razão: Deus, Buda, o Universo, ou quem quer que seja que está lá em cima, nunca me faltou, e agora, estou à beirinha, beirinha, de ficar atolada em trabalho. Mas chamar-lhe trabalho é curto porque é muito mais generoso que isso: devagarinho, vão sobrando apenas as coisas mais interessantes, aquelas que me obrigam a sair do que sei de trás-para-a-frente e me desafiam a estudar, conhecer e experimentar algo mais. Sempre que isto me aconteceu ao longo da vida (e já não é a primeira, nem a segunda, nem a terceira vez) fiquei grata, percebendo a regra: Ele dá-me, sempre e quando acredito em mim.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Pedra

De repente, é como se naquele dia, naquele momento, tivéssemos calçado umas botas até ao joelho, daquelas com mil atacadores tão complicados que nem ousamos sonhar em as descalçar até chegar a casa, ao final da tarde. E nessas botas, por um buraco diminuto, entrasse uma pedra pequenina que não conseguimos tirar, não sabemos muito bem por onde anda, mas está lá, a chatear, a fazer doer cada centímetro de pele de cada vez que carregamos nela. Ficamos mais lentos, não andamos tão bem, a vida inteira muda: por exemplo, chegamos tarde aos Correios onde deveríamos levantar uma carta da maior importância que teria de ser respondida nesse mesmo dia; ou, pior, chegamos tarde ao colégio e a criança olha para nós com aquela cara que nos parte o coração. Odiamos a pedra mas não a tiramos porque a vergonha de sentar no meio da rua e descalçar a bota tão complicada é maior. Assim, continuamos, atrasando irremediavelmente a nossa vida, culpando a pedra em vez de pensar no simples que seria simplesmente ficar descalços por instantes e retirá-la. Porque é isso que assusta por estúpido que pareça: a exposição de um pé.
Eu adoro andar descalça. Pelo menos sinto tudo o que há para sentir, de bom e de mau; mas sinto. Se piso alguma pedra, é por opção própria. Há pedras muito bonitas na nossa vida.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O silêncio, às vezes

Às vezes, o silêncio pesa, dói, amachuca, amarfanha, cria ferida e pus. Outras vezes, de tão ruidoso, ensurdece e angustia.
O erro está em pensar que é ele que faz tudo isto. Não é. É a sua ausência no nosso interior que perturba.
O verdadeiro silêncio significa paz. Não há melhor medida para a avaliar dentro de nós.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Lizita

Ontem esqueci-me do teu aniversário. Desculpa, sinto-me mal. É a primeira vez nos mais de vinte anos que nos conhecemos. Deve ser por ter a cabeça a mil, por não conseguir ter espaço para mais nada, por não me conseguir desfocar desta decisão de vida que tem apenas dois sentidos, um dos quais terei de escolher.
Desculpa querida prima, muito querida amiga que vejo pouco ultimamente mas que sei que está sempre onde quer que eu precise.
Um beijo enorme e o desejo profundo que fiques comigo nem que seja no coração por muitos e longos anos.

Como eu te percebo

Amo as Palavras

Amo as Palavras
Não, não amo as palavras
Amo os símbolos.

A lua é talvez um planeta,
mas a lua que eu amo,
nimbada de luar,
é a lua inventada,
algo de branco, puro,
inacessível,
algo para cantar
quando o silêncio, a noite, a solidão,
são lágrimas de sangue que o Poeta
se recusa a chorar.
Fernanda de Castro
(1900-1994)

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Era uma vez um génio



Era uma vez um génio que concedia desejos. Ela pediu-lhe:
- Por momentos, só por momentos, deixa-me ser avião e voar para um sítio tranquilo, meigo e cheio de paz.
- Mais alguma coisa...? 
- Sim. Transforma os meus filhos em malinhas pequeninas para eu levar no porão.
Ele obedeceu.


Os génios de verdade deste mundo chamam-se tempo. Por isso concedem desejos um pouco mais devagar.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Frases maravilhosas de filmes maravilhosos



Denys: I'm with you because I choose to be with you. I don't want to live someone else's idea of how to live. Don't ask me to do that. I don't want to find out one day that I'm at the end of someone else's life.
Robert Redford in Out of Africa

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Porque hoje não me apetece falar



(obrigada Filipinha por me teres feito descobrir isto)

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Podiam emprestar-nos a disciplina

O Instituto Espanhol Giner de los Rios, colégio do meu filho mais velho, tem duas disciplinas no 8º ano chamadas Tecnología e Cidadania. Na primeira, os alunos montam e desmontam computadores para verem na realidade que bichos são aquelas coisas por dentro, têm projectos trimestrais onde devem saber serrar e cortar madeira, pregar, colar e pintar de maneira a dar-lhe uma estrutura definida e funcional. Na segunda, os alunos aprendem as regras de ser bom cidadão, incluindo todos os direitos, deveres e muitas outras coisas. É uma disciplina sujeita a uma avaliação tão rigorosa quanto as restantes (aliás, no "Espanhol" não se passa de ano com negativas mesmo que sejam temas complementares) e é-lhe dada tanta importância que não se limita ao 8º ano mas estende-se até ao 11º, creio eu.
Confesso que não conheço os programas portugueses mas sei que no Instituto estes temas são abordados com tanto interesse que os miúdos saem das aulas a discuti-los e a questionarem-se. Parece-me um bom princípio. Era bom que nos emprestassem a disciplina. É que a nós, portugueses, faz-nos muita falta.  

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Mais um TED a não perder



Depois disto é impossível não gostar de música clássica. Não é o meu caso mas agora,finalmente, vou passar todos os meus CD's para o iPod. Prometo.

Melhor que isto só a minha mãe ou que esplêndida maneira de começar a a semana



(desculpa lá o roubo, Patrícia)

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Teen

O miúdo mais velho fez treze anos no dia 4. 
Como o tempo passa. E mesmo passando, ele preserva a doçura que trouxe desde o nascimento, a maturidade acrescida que sempre teve (quem dera a muitos homens adultos), a tranquilidade que herdou sabe Deus de quem.
Achei que devia marcar este dia, mais do que com a minha lágrima no canto do olho e os agradecimentos de todos os anos. 
Peguei no molho de chaves de casa, fiz uma cópia, coloquei-o no porta-chaves novinho em folha. O meu filho merece toda a confiança do mundo.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Quantos são?!

Dei dois berros aos senhores do Clix e apressaram-se a melhorar o serviço. Levantei a voz dizendo que me ía embora da Zon e fiquei com internet mais rápida, televisão com maior qualidade e telefone com chamadas ilimitadas, pagando menos. Reclamei com a EDP e devolveram-me o custo de duas facturas.
Eu não costumo falar alto. Aliás, os meus pais sempre me ensinaram que era mais bonito falar em tom suave. Se calhar, com esta idade, estou a perder a educação. Mas que às vezes resulta,  ah lá isso resulta.