segunda-feira, 30 de março de 2009

Mudanças


Adoro a mudança da hora.

Adoro porque os dias ficam maiores.

Adoro porque é sinal de Primavera
... e depois de Verão.

Adoro porque deixa de ser de noite.

Adoro porque no fundo também adoro mudanças.

E este ano adoro ainda mais porque já falo no plural numa das coisas mais especiais da vida.

sábado, 28 de março de 2009

This is (also) why he could

O primeiro Presidente dos Estados Unidos da América que se atreve a ser entrevistado por Jay Leno. Uma lição de simplicidade, sentido de humor, oportunidade e, acima de tudo, comunicação. Vale a pena ver.

http://www.youtube.com/watch?v=OksxlpGhgX8

sexta-feira, 27 de março de 2009

Paixão

- Mãe, já sou irmão!

Disse o meu filho mais velho, do outro lado do telefone, ao saber da notícia do nascimento do irmão. Depois, veio vê-lo. E superando todas as minhas expectativas, apaixonou-se. Com 12 anos, ficou apaixonado por um irmão de dias, sem conseguir esperar pelo momento seguinte de o ver, sem ter vontade de sair do lado dele, ajudando em tudo. Nem uma ponta de ciúme. Nem um assombro de inveja. É preciso ser maduro. Muito pouco egoísta. Verdadeiramente seguro.
Obrigada meu Deus, mais uma vez.

E foi

Aconteceu: no dia 25 de Março, às 04.29h da manhã, nascia um príncipe, chamado Vicente. O meu marido escreveu a todos os que nos querem bem uma das mensagens mais bonitas da sua vida. E, tal como ele disse, o mundo nunca mais será igual. Obrigada, meu Deus.

terça-feira, 24 de março de 2009

Será?

Finalmente chega um dia em que nos sentimos a flutuar, absolutamente em paz, como se tivéssemos desenvolvido uma carapaça doce contra qualquer aborrecimento ou preocupação. Esses dias geralmente anunciam uma surpresa. Trazem consigo aquilo que alterará para sempre as nossas vidas, algo que nos encherá de orgulho e de uma imensa vontade de cuidar.
Acho que este dia chegou. Se assim for não andarei por aqui durante algum tempo, um tempo curto, no entanto. Fiquem felizes por mim. 

segunda-feira, 23 de março de 2009

A voz rouca


Voltei a ouvir Bebo y Cigala em "Lágrimas Negras". Como sempre, arrepiei-me, comovi-me e cantei por cima de quase todas as canções. Quase todas; porque esta deixa-me sempre calada. Não há versão mais sensual. O Caetano que me desculpe mas não há. É que ser sensual, romântico e profundamente homem é difícil. Só mesmo com a atitude e voz rouca de Diego El Cigala acompanhada pelas raízes cubanas de um Bebo Valdés.

domingo, 22 de março de 2009

Mimos

Hoje de manhã tinha uma mensagem no telemóvel

"Encomenda entregue! No portão. Bjs"

Uma grande amiga, linda por dentro e por fora, foi à pastelaria, comprou croissants para ela, e ainda se deu ao trabalho de se lembrar de nós, comprar mais uns quantos e fazer a surpresa de os deixar no portão, fresquinhos, para o nosso pequeno almoço de domingo.

A lágrima instalou-se no canto do olho, caiu e assim agradeceu.
As coisas simples são mesmo as mais bonitas.

sábado, 21 de março de 2009

Até as crianças sabem


Que maravilha. É 21 de Março. Chegou a Primavera: muda a hora-os dias são mais compridos-os romances andam no ar-e depois chega o Verão. Que ma-ra-vi-lha.

Abstinência da religião católica

Na opinião do papa, a melhor protecção contra a sida não é o uso do preservativo mas sim a abstinência sexual. Semelhante barbaridade e irresponsabilidade devia dar direito a despedimento com justíssima causa.
Como diz um amigo meu, devia haver um preservativo que nos protegesse contra este papa. Mas, já que não há, vivam as religiões alternativas que aceitam a realidade da condição humana, considerando o sexo como algo maravilhoso e sagrado.
 
Tenho a esperança que, um dia, ao deparar-se com a abstinência generalizada da religião católica, o seu supremo representante tenha a iluminação divina de compreender que vive num mundo de seres de carne e osso (onde também moram alguns anjos mas são raros e têm orgãos genitais), pode ser que se permita apaixonar-se, pode ser que experimente fazer amor (sem ter que ser às escondidas) e finalmente faça a revolução dentro da Santa Madre Igreja por finalmente perceber que, quando é bom, o sexo tem muito de paraíso; quando é mau, imposto ou traz doenças ocultas, é um verdadeiro inferno.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Santos do Restelo

- E quando é que esse rapagão vai nascer?

Disse ele, sotaque bem do Brasil, sorriso aberto nuns dentes lindos, pesando as minhas primeiras ameixas deste ano.

- Em breve, em breve...

Respondi.
Paguei a conta e quando dei por mim, já ele carregava os meus sacos em direcção ao carro. Ofereci-lhe um sorriso

- Como é que você se chama? Obrigada por me ajudar...

- Ora, que é que é isso, é um prazer. E a senhora, agora não pode, né? Eu me chamo de Santos.

- Você é mesmo um Santo, é o que é.

Deu uma gargalhada como se não fosse nada. 
São coisas simples como esta que muitas vezes me fazem ganhar o dia.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Língua de fora

Trabalhei até tarde ontem à noite. Dormi mal. Arrastei-me pelas ruas á procura de uns tinteiros. Fiz um print especialíssimo de corrida para chegar ao Porto amanhã, sem falta. Escrevi a minha lista de objectivos. Li um contrato. Entusiasmei-me. Ri à gargalhada. Comovi-me com carinhos de uma editora e de um jornalista. 
Engraçado como as coisas boas também nos deixam exaustos. 

quarta-feira, 18 de março de 2009

Fenómenos engraçados

Eu já tinha ouvido falar n'O Careca. As descrições eram sempre espectaculares
- Ai os croissants do Careca!
- Ai os palmiers do Careca!
Ai o pão, Ai as miniaturas, Ai os sumos de laranja, até que venho viver para o Restelo e dou finalmente de caras com O Careca. Há que reconhecer que o nome tem graça e raça; sobretudo porque não tem rigorosamente nada a ver com pastelaria e, sabendo o complexo que a maioria dos homens tem com a falta de cabelo (pessoalmente, acho verdadeiramente sexy uma cabeça bem desenhada e a descoberto), o senhor que se lembrou dele, no mínimo, tem humor, e tem muita coragem daquela que às vezes não se encontra no cromossoma Y.
Devo confessar que na altura fiquei desconsolada: é um café mais giro ou confortável do que outros? Não. Tem o pão mais maravilhoso ou invulgar do Mundo? Não. O sumo de laranja é tão especial que parece que a fruta foi escolhida a dedo? Não. Tem uns palmiers excelentes? Ah, isso, sim. 
Então expliquem-me lá porque é que três meses depois de viver aqui também já eu sou fan d'O Careca. A rua é amorosa e o ambiente é do mais civilizado que há. Mas não pode ser só isso. Sabem que mais? Acho mesmo que é do nome. Obra de um marketeer inato que não deve sequer ter a noção de que o é. Ainda bem, senão estragava tudo:
- Aumente-se a letra do toldo!

segunda-feira, 16 de março de 2009

O pão

Eu disse que este bebé trazia um pão debaixo do braço. Na altura, achei que era um mas agora sei que o malandrinho tinha outro, bem mais apetitoso, para me fazer a surpresa. Era uma coisa que eu desejava há muito tempo e ele trouxe-a em projecto e na paciência que está a ter para não nascer antes que eu o acabe.
Uma amiga querida disse-me no outro dia que este menino vinha certamente com uma missão especial. Agora tenho a certeza que sim. Por isto e por muitas outras coisas onde ele está a mexer, mesmo antes de saber falar como as pessoas grandes. 

domingo, 15 de março de 2009

O lugar das quimeras

Maria Flores e José d'Almeida expõem na Galeria de são Bento uma colecção maravilhosa de fotografias feitas com a máquina mais simples do mundo, adereços e guarda-roupa inventados e feitos por eles e quase nenhuma manipulação digital. Um trabalho absolutamente invulgar em qualquer parte do mundo e ainda mais em Portugal onde se aposta pouco em ideias inovadoras e talentos que saiam do círculo habitual.
"O lugar das quimeras" vai estar até 28 de Março na Galeria de São Bento, Rua do Machadinho, nº 1, em Lisboa. A não perder.

sábado, 14 de março de 2009

sexta-feira, 13 de março de 2009

Um verdadeiro senhor

"O meu marido? Já te disse que era um senhor. Mas não completamente, incondicionalmente. E sabes porque não o era?... Porque se ofendia. Quando me conheceu... quer dizer, quando conheceu a que eu era na realidade... ficou ofendido e divorciou-se. Aqui, perdeu-se... Mas não era estúpido. Ele sabia que alguém que se deixa ferir pelos outros, e que se ofende, não é um verdadeiro senhor."
 Sándor Márai in A mulher certa


Os verdadeiros senhores não se ofendem, de facto. Sobretudo com coisas sem importância. Ou mesmo com nada. Têm a segurança de não precisar de se defender a todo o custo e a toda e qualquer hora.
Li este livro no Verão passado e o conteúdo deste trecho marcou-me. Tanto que há dias em que me lembro dele, palavra por palavra. 

quinta-feira, 12 de março de 2009

O lado piroso

Todos temos um lado piroso. Não vale a pena dourar a pílula e chamar-lhe kitsch. É mesmo o nosso lado piroso. O meu, confesso que se manifesta nestes dias ensolarados, quando tenho o privilégio de almoçar junto ao rio e agradeço a todas as alminhas o facto de viver em Lisboa. Muito poucas cidades têm esta luz e umas águas que nunca são iguais. Mais dois clichées. O que é que querem? Não há pessoas perfeitas. E eu não sou certamente uma candidata.

(PS: Eu sei que até a foto é pirosa, ok?)

quarta-feira, 11 de março de 2009

E se
















E se um dia fosse possível? 
Regredir no tempo, voltar atrás, fazer o caminho inverso, entrar novamente na cavidade quente e húmida, receber alimento pela barriga, ouvir sons em eco, filtrados pela derme de outrem e apenas boiar no líquido transparente e inodoro...
Não sei se muitos não voltaríamos. Nem que fosse pela experiência. Ou pela tranquilidade.

Vou mergulhar no meu casulo imaginário.
Só por um instante, não façam barulho.
Até logo à tarde.

terça-feira, 10 de março de 2009

O jarro

Dois jarros brancos e enormes esticam os seus pescoços verdes no meu jardim. Enganaram-me: ao olhar pela vidraça da sala, pensei que uma pomba, grande e branca, estava pousada na relva. Achei que estava demasiado quieta; depois, descobri mais outra. Mas não eram: são jarros. Jarros vaidosos, cheios de Primavera.

segunda-feira, 9 de março de 2009

O chicote

Quando eles eram pequenos e até terem consciência absoluta do todo, ela usava sempre a mesma estratégia de vitimização. Não que fosse consciente, não; isso seria colocá-la a um nível de manipulação do qual ela não seria capaz. O padrão da vítima era o que melhor conseguia fazer para chamar a atenção sobre si, a forma mais veemente da luta possível numa época em que as separações ficavam dentro de casa e os divórcios eram uma vergonha. Os filhos sofreram com isso e durante muitos anos coabitaram numa dualidade extremamente difícil.
A mais nova cresceu, voou para longe. Apenas aí teve uma consciência mais real da natureza das coisas, de quanto a tinha afectado aquela coexistência de antagonismos, do chicote que havia crescido dentro dela que muitas vezes lhe provocava desconfiança na presença de um compromisso com alguém. Revolveu as entranhas, visitou sem medo os espectros do passado e decidiu para si mesma que nunca faria o mesmo: mais depressa tomaria outro caminho, por doloroso que fosse.
A vida, contudo, encarregou-se de lhe trocar as voltas ou, talvez, de a pôr à prova. Um abanão, mal dado e pouco justo, serviu para olhar para si nos últimos tempos, como se ejectada por uma cadeira de piloto a jacto para o céu, observando o seu corpo a reagir cá em baixo. Era um facto: a filha estava a repetir aquilo que tantas vezes vira, com que tanto sofrera e que tanto criticara depois. A visão custou-lhe como ferro em brasa na língua. Engoliu em seco, agradeceu a tomada de consciência e obrigou-se a cumprir o que há algum tempo atrás prometera a si mesma: "tenho o direito de ser amada e respeitada mas, antes de mais, tenho o dever de me amar e respeitar"
Pegou imaginariamente no chicote e sacudiu a vergonha, deixando na pele marcas suficientes como para não mais se esquecer de não repetir. 
Um vício só nos trama se não formos capazes de o abandonar.

domingo, 8 de março de 2009

Amigos de Alex

Ontem dei um jantar lá em casa. Aliás, sendo completamente justa, deram-me um jantar; eu só assei batatas e carne com imensas especiarias, mostarda e mel. Os meus amigos fizeram o resto, ou seja, trataram-me como convidada: ofereceram-me a cadeira para não estar de pé muito tempo, obrigaram-me a permanecer na mesa enquanto retiravam os pratos e arrumavam a loiça na máquina, enxotaram-me carinhosamente da cozinha no momento de fazer o café. Para além disso (que já não seria pouco) ainda tiveram tempo para atenções e gestos delicados, elogios e piscadelas de olho de quem percebe os momentos em que nos sentimos menos bem.
Talvez não saibam o quão agradecida estou. É que nesta fase, que parece quase uma pré-adolescência de tanta hormona à solta, confesso que estou bem mais tonta: estes carinhos enfiam-se-me na pele como agulhas pequeninas e delicadas que colocam tudo numa outra perspectiva, obrigando-me até a ver o que não quero, nem que seja por comparação.
Só espero ter sido capaz de demonstrar o quanto me fizeram bem. Mas se não foi assim, primeiro peço desculpa e segundo aqui fica este texto, bem merecido para todos eles.

sábado, 7 de março de 2009

what a wonderful day

O sol brilha no jardim. Amendoeiras explodem em flor em cada recanto. Os pássaros parecem ter recuperado a voz. Encontro a primeira joaninha deste ano pousada numa folha como se brincasse às escondidas com os meus cães. E, contudo, não me sinto da mesma forma. Por que razão ainda deixo que me estraguem as manhãs? Prometo que vou criar mais um calo. 

sexta-feira, 6 de março de 2009

O protector

- Precisas de alguma coisa, mãe?
...

- Vou-te contar o que diz aqui no livro, mãe.
...

- Está para breve, não está mãe?

O miúdo de 12 anos, embora inquieto, comporta-se como um adulto dedicado. Sinto a sua fragilidade perante esta nova situação; irrito-me com a minha impotência para lhe retirar a ansiedade e um papel que ele não tem que desempenhar. 
Mas, ao mesmo tempo, é lindo de se ver. E muito aconchegante. 
Hoje vou enchê-lo (ainda mais) de beijos quando chegar.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Deixar-se estar

sem fazer nada 
sem ter pressa 
demorando saborosamente cada minuto
dormir acordados sonhando o desejável
ajeitar um pormenor
beijar com bocadinhos de lábios um fio de cabelo brilhante
encostar a língua a um vidro molhado por fora
aproveitar instantes de diálogo connosco
ser oportunistas no silêncio dos pensamentos
e depois sorrir para dentro

que bom é flutuar e finalmente pousar nos bicos dos pés.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Anjos na Terra

Entrou nas urgências e deu o nome. Uma enfermeira, mulher feita, de aspecto vigoroso (só podia mesmo chamar-se Amélia) aproximou-se e disse

- Ouvi que é a A., não é? A Doutora disse-me para a receber; vou já tratar de si.

Amélia olhou para ela, observou a mala kingsize e reforçou com o ar duro-terno de quem já viu muita coisa

- Não a quero de pé. E pouse-me essa mala no chão; só espero que não esteja pesada.

A paciente sorriu, sentindo-se reconfortada com o tom de comando.
Depois, não esperou nem dez minutos. Quando deu por si já estava de CTG na barriga, identificando pulsações e comportamento do ser que tinha lá dentro. A enfermeira percebeu a existência de contracções, deitou-a numa maca e pespegou-lhe com frasco e meio de soro

- Para ver se esse bebé se acalma.

Depois veio a médica, com o mesmo sorriso de sempre, o profissionalismo que lhe conhecia há mais de 12 anos. Virou-a do avesso com ternura e mãos firmes, e finalmente mandou-a ter juízo e descansar

- Para ver se esse rapazinho aguenta mais uma semana e a leva para um hotel de cinco estrelas.

Saiu bem disposta, segura e a desejar encontrar aquela equipa todinha se o miúdo resolvesse sair mais cedo. Mais uma vez não percebia os comentários negativos que muitos faziam da Maternidade. Certo era que ela não fazia o género maricas, sabia ser paciente fácil de médicos e hospitais. Aliás, tinha mesmo tolerância curta para mariquices, reconhecendo à légua o esgotar fácil da sua pachorra diante daqueles a quem tudo dói ou cujas maleitas são sempre piores que as dos outros.
"Que maravilha..."
Pensou,
"Que maravilha descobrir verdadeiros Anjos na Terra."
Existem mesmo. São mais do que se imagina. E ainda por cima são daqueles que tratam de nós sem prometer salvação eterna em troca de bom comportamento.

terça-feira, 3 de março de 2009

Slowdown

A barriga cresceu. Enchi caixotes. Mudei de casa. A barriga cresceu mais. Abri caixas. Disse olá a objectos queridos, adormecidos noutro lado há dois anos. Rearrumei móveis. Montei quartos de fresco. A barriga continuou a crescer. Fiz uma estante para colocar palavras preciosas. Mudei de escritório. 
E a barriga já não pode mais. Dois relógios biológicos começam a dar horas, forçando o metabolismo a abrandar, as pernas a doerem para obrigar a parar, o pulmões a pressionarem o peito para respirar mais devagar e-assim-impor-a-paragem-da-espera-final.
Venha ela porque eu preciso mesmo.