terça-feira, 21 de junho de 2011

blip

O anfiteatro estava cheio. À chegada, todos foram gentilmente obrigados a colocar as suas malas e telemóveis à frente, dirigindo-se depois para as suas cadeiras, apenas com uma caneta na mão. Os professores fizeram a contagem dos alunos, distribuíram as provas e o exame começou. A mulher levou por instinto a mão ao peito: a sensação era a mesma. Mas a dúvida instalou-se: teria a sua memória preservado as suas qualidades ou estaria emperrada pelo tempo, enferrujada pela falta de uso da tarefa de estudante? A leitura do exame fez com que, em poucos segundos, um silêncio absolutamente surdo se instalasse em volta dela, como se o halo de William James se fechasse em torno dos problemas, das questões, da atenção.
Uma hora e meia depois, entregou a sua prova. Apenas ao sair, quando se confrontou com o telemóvel, as caras frescas das raparigas e o carro novo "da-família" que a esperava no parque, compreendeu que deixara de ter dezanove anos e regressara aos quarenta e seis. 'Muitas vezes, tempo e espaço contraem-se num blip', pensou. Que viagem.

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