domingo, 22 de setembro de 2013

nas entrelinhas

A mulher decide que vai finalmente escrever a história do anjo, o conto que surgiu como que por magia, empurrado por uma música longa, estranha e triste que tinha feito crescer imagens diante dos seus olhos. Era a história de uma queda e de uma certa ressurreição pela morte. E, afinal, não é sempre? Talvez devamos morrer muitas vezes em vida para poder tornar a ela e vivê-la, a cada vez ultrapassando um degrau ou as pedras da vertente, mais preparados para o que mais vier. Se não, a morte verdadeira, real, não apenas do espírito mas igualmente do corpo, será certa. A mulher não a deseja e por isso vai escrever, vai escrever até lhe doerem as mãos. Ela sabe que, ao fazê-lo, coserá nas entrelinhas a sua própria vida.

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