A sala do Museu do Jardim-Escola João de Deus recebia os convidados que chegavam em grupos, abraçando as autoras, reencontrando velhos conhecidos. A mulher chegou sozinha, deu um beijo rápido à amiga, procurando não lhe ocupar muito tempo, 'estas são ocasiões de emoção difícil de gerir', pensou. Lá fora, entre cigarros, contavam-se as últimas novidades da vida de cada um, condensando em poucos minutos, meses e por vezes anos de alguma ausência de reencontros.
- Já começou!
Disse alguém. Apressaram-se lá para dentro.
Os discursos começaram. A mulher, no seu jeito de sempre, observava a sala, as expressões dos presentes, o nervosismo da filha da amiga pela exposição da mãe, a tranquilidade dos pais, os sorrisos de quem lhes queria bem.
Finalmente, a amiga falou. Era ela própria, sem máscaras ou escudos, entranhando finalmente o papel de autora na pele, reflectindo em cada palavra e gesto aquilo que era, e sobretudo o lugar onde chegara. A mulher comoveu-se. Era bonito ver as amigas crescer e amadurecer no sentido de se tornarem pessoas mais seguras, limpas por dentro, utilizadoras plenas da negação e da afirmação nas suas vidas. Nem todas as pessoas veriam essa oportunidade ou seriam capazes de trabalhar nesse sentido. Crescer, custa, mesmo na idade adulta. Mas é lindo. É aproveitar por duas vezes uma única vida.
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