As mãos estavam sujas. Cheirava a limpo. Ainda havia caixotes cheios agora arrumados num canto do novo espaço porque fazia falta mais uma estante. Com um cansaço que tinha um sabor doce, a mulher recostou-se na cadeira que a acompanhava há cinco anos e recebeu o prazer de ter duas janelas, o ruído da sala ao lado. Era estranho e simultaneamente bom, o ruído. Pessoas a trabalhar, a falar, a comentar um sem-fim de coisas com ela, fumar um cigarro acompanhada à janela, rir muito, escutar a música dos outros. Há precisamente cinco anos entrara num escritório em Santos, agora apercebia-se: o seu ciclo de silêncio e solidão que se iniciara naquele bairro, tão necessário na altura, acabara. Estes iam ser anos cheios, pensou.
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