Três chaves entraram na fechadura, uma de cada vez. As mãos dos respectivos donos rodavam-nas com mais ou menos jeito, mais ou menos agressividade, mais ou menos paciência. As duas mulheres e o homem decidiram beber um café na pastelaria da frente. Colocaram diversas hipóteses, entre elas a dos bombeiros que ficou logo fora de questão, a polícia viria a seguir, que escandaleira no Principe, riram em conjunto. Fizeram-se telefonemas, mil e uma histórias de terror ou de sexo circularam nas cabeças de todos sobre a razão de uma porta absolutamente inviolável, até que uma das mulheres resolveu pedir ajuda ao Senhor Leal, o dono da pastelaria. Prontamente, o senhor tirou da cartola outro senhor, o das obras lá ao lado, que veio com ar profissional mas desesperançado. Subiram todos a escada pela enésima vez, o senhor (das obras) afirmando a sua falta de fé, a mulher da ideia alentando-o a ser o salvador do dia. Fosse como fosse, ele rodou a primeira chave, sem sucesso. Experimentou uma segunda. Voltou a experimentar a primeira, sacudiu a porta para trás e para diante. Por fim, deu um pequeno jeito à chave e a porta abriu-se. As mulheres bateram palmas como crianças contentes. O senhor explicou o acontecimento com uma razão lógica, retirou importância à ajuda, e desceu, meio orgulhoso, meio envergonhado com os semblantes de alívio e os agradecimentos de todos. A última frase que disse foi 'tenham uma boa semana'. As mulheres não disseram nada mas piscaram os olhos uma à outra: o anjo do dia tinha sido descoberto.
Sem comentários:
Enviar um comentário