"Quando fores adulta, compreenderás". Esta frase perseguira-a de forma irritante durante a infância e a adolescência. Com a arrogância própria desses tempos achara todas as razões um exagero; afinal são os adultos quem não entende um caracol acerca do mundo e da vida. Agora, quase trinta anos depois, compreende. Compreende como a vida se torna uma coisa mais fina, mais frágil. Compreende o grau objectivo em que as preocupações se movem e dançam, sem permissão para desvios ou segundas alternativas, em muitos casos. Compreende a mortalidade do ser humano, muito mais próxima e possível, mesmo se de forma metafórica, espiritual ou brutalmente física. Compreende a sensibilidade das relações entre pais e filhos que exige o despir-se de si mesma, afrontar certezas, desdizer-se, repensar-se.
A noite anterior fora a gota. Numa conversa com o miúdo mais velho dera por si com a frase a assomar na boca: "quando fores adulto...", calara-se a tempo. Mas olhara para ele e revira na expressão dele a sua, muitos anos atrás. Algumas coisas mantinham-se apesar das mudanças dos séculos. De alguma maneira, isso era um conforto.
Sem comentários:
Enviar um comentário