segunda-feira, 28 de novembro de 2011

lisboa, menos 10 no interior

A mulher adorava observar as pessoas no trânsito. Chamava-lhe uma forma de perder o stress. Olhou para o carro ao lado. Como num filme mudo, o casal gesticulava. O som era desnecessário, as expressões diziam tudo. No automóvel da mulher, a temperatura desceu a níveis impensáveis. As pessoas travam guerras todos os dias, pensou. Aquelas pessoas pela certa tinham-se apaixonado uma pela outra um dia mas agora, apesar de parecerem mudas pela interferência dos vidros, travavam uma batalha feita de maus olhares, esgares de face, gestos bruscos de mão. O ser humano é tão difícil, voltou a pensar ela, as relações são tão difíceis. Um dia amam-se; pouco tempo depois combatem-se, amarfanham-se, anulam-se, detestam-se. Como é possível que não o façam com maior violência com seres com os quais não têm nenhum envolvimento? 
A mulher desviou o olhar, esperou pelo sinal verde do semáforo e imaginou que era um golfinho nadando em águas profundas, maravilhosamente azuis.

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