terça-feira, 22 de maio de 2012

democratização da arte

(JR, New York City)

Alguns amigos não percebem por que gosto de grafittis e arte urbana. O facto é que gosto. Não gosto dos 'te amo mara' pespegados sem critério numa parede qualquer. Mas adoro manifestações como as de JR e do nosso Vihls enchendo as superfícies das cidades com um pouco mais de humanidade. Agredir a nossa visão? Não me venham com disparates. E alguns anúncios publicitários que se vêem por aí? Ou os edifícios degradados? São mais bonitos? Não, apenas 'temos que levar com eles' porque nos habituámos a que fazem parte ou, pior, porque não podemos contestar. Lamento. Essa não é a minha praça. Gosto de arte urbana, sim. Gosto da coragem desta gente, da sua independência, do seu 'estar-se nas tintas' por não fazerem parte de um círculo intelectualóide qualquer. Gosto que encham as ruas por que passo, adoro ser surpreendida por novas manifestações e sobretudo agrada-me o conceito de 'arte na rua', ao alcance de todos. A arte urbana é a forma mais democrática de arte que existe, em todos os aspectos. Para quem não sabe, os primeiros 'artistas' foram os dos murais revolucionários, como forma de protesto e exigência de mudança. Ora isso é muito mais que sujar paredes. Esses murais, na época considerados um ultraje, hoje são expostos em muitos museus, tal como nos anos setenta se tentaram introduzir muitos artistas do spray em galerias de arte, marchandizá-los, porque se começou a compreender o dom e o impacto, e a máquina começou a esticar os braços e a querer agarrá-los com a cenoura do sucesso. A beleza é que eles nem quiseram saber disso. Quiseram e querem apenas respeito e liberdade. Neste mundo, por vezes tão apático e amorfo, eu pelo menos gosto de saber que ainda existem pessoas com vontade de intervir, sem agredir ninguém, usando tão somente o seu talento à vista de todos e sem cobrar nada por isso. Não é lindo? Pois claro que é.

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