Confesso que estive bem confortável durante muito tempo.
A água, morna, envolvia-me, criando um leito suave e silencioso onde de tempos a tempos escutava sons difusos em tons cada vez mais reconhecíveis: ela, ele, alguém mais novo, outros. Cresci, alimentado sem esforço, num sono em posições diversas, não raras vezes de cabeça para baixo.
De repente, não sobrava muito espaço: empurrei gentilmente. Tão gentilmente que ela, a princípio, nem reparou. Insisti: tiraram-me a água.
Então, querendo ver-me como já me havia dito tantas vezes, ela ajudou. Odiei a passagem pelo túnel mas vi luz lá fora. Tanta que semicerrei os olhos e chorei.
Mãos firmes ampararam a minha chegada e colocaram-me numa pele que eu reconheci pelo cheiro como sendo a dela. Percebi que ela e ele choravam, fiquei tranquilo. Era verdade, eles amavam-me mesmo, queriam-me de verdade.
Nasci a 25 de Março, sob o signo de Carneiro.
É incrível como um mês depois já posso contar tanta coisa.
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