Acordou naquele dia, sabendo que iria acabá-lo cansada. No entanto, sentia-se feliz por dentro. Para ela, apesar do esforço e do cuidado que sabia que deveria ter por não estar sozinha, tudo justificava o projecto. Então levantou-se, revestiu o bebé dentro da sua barriga com roupas quentes para o defender do frio, protegeu mais objectos dentro de caixas, recebeu os carregadores com um sorriso nos lábios, acordou o filho inventando uma aventura, teve a secreta esperança de um fim de dia celebrado em conjunto, trocando uns copos quaisquer cheios de vinho de amor, mesmo se sentados entre cartão e pilhas de objectos.
Não foi assim. No final do dia, tinha um escaldão na cara provocado pelo frio intenso do exterior. E outro na alma, muito mais profundo, provocado pelo frio de uma raiva que não era sua. Inspirou oxigénio novo, expirou tudo o que não lhe pertencia, deixou ficar a tristeza sem deixar que a adoecesse, secou a cara e olhou em frente. Pelo menos estava ali. Já não era a primeira vez que tinha de empurrar a vida com a barriga. Só que agora estava consciente. Muito mais segura. Teve a certeza absoluta que nada de mal lhe poderia acontecer.
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