Olhou para o miúdo. O semblante era de adulto, sério. O que tens, perguntou-lhe. Ele respondeu que se sentia meio triste. Ela quis saber porquê. As pessoas andam todas chateadas, mãe. As pessoas andam todas chateadas, pensou ela, que grande verdade e que grande merda que isto tenha de passar para eles. As pessoas pequeninas não precisam de levar com estas coisas. É o mundo dos adultos que lhes deveria estar reservado para mais tarde. Um mundo tão cáustico, hoje em dia, que nem sequer lhes damos a benesse de passarem incólumes por entre as gotas da desesperança. Achou que devia fazer alguma coisa. No elevador, abraçou-o com beijos: nós não estamos chateados e eu adoro estar contigo. Havia mais gente no compartimento. Reparou numa velhinha de conto de fadas que olhava fixamente para eles. A senhora sorriu e disse ao miúdo: sabe bem, não sabe? A frase desfez a nostalgia dele num sorriso. As portas abriram-se e a idade dela avançou.
Antes de sair fez uma festa na pele dele: muitas felicidades para os dois; dá gosto assistir a tanta ternura. Tinhas razão, mãe, voltou a criança sem deixar de sorrir, há pessoas que não estão chateadas. É verdade, pensou ela. E são deste mundo.
2 comentários:
Amiga, eu não estou!! :-)
Parece impossível que com tanto conhecimento adquirido ao longo da vida, esquecemos com tanta facilidade o bom que é ser criança. Afortunados os que as têm para nos lembrarem.
Como estão a mãe e o Vicente ? Espero que bem. Tenho a certeza que sim!
Bjs grandes para todos.
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