quinta-feira, 5 de julho de 2012

em boas mãos

Eram perto das nove da noite quando a médica recebeu a criança, acompanhada da mãe e do pai. Com o carinho do costume, observou o rapazinho da cabeça aos pés, diagnosticou uma virose chata, o miúdo entre risos, estetoscópios transformados em auscultadores do coração, instrumentos de observação dos ouvidos metamorfoseados em contadores de namoradas,  espátulas de garganta recriados enquanto objectos de cócegas. Os pais foram descansando a preocupação, objectivando as dúvidas com a segurança rara de quem sabe estar em muito boas mãos. À saída, a mãe comentou: 

- É incrível como a conheço desde os tempos do meu filho mais velho e mantém essa boa disposição mesmo a esta hora da noite.

Com um sorriso do tamanho do mundo, a medica respondeu:

- Mas não é suposto...? Eu estou a fazer exactamente aquilo de que gosto!

Era uma grande sorte, pensou a mãe. Ainda existem médicos assim.

Sem comentários: