segunda-feira, 14 de outubro de 2013

sem título

Saudades. Saudades de usar as palavras, agora que aprendeu que são como notas musicais ou cada uma delas a junção de pequenos fragmentos de vibração. Saudades de as escrever criando ligações sensuais, irónicas, mordazes, misteriosas, construindo histórias, impressões de dia.
A mulher não consegue viver sem as palavras, sem as dizer, contar, escolher, repartir ou sacrificar. A relação da mulher com as palavras não tem palavras, quase sempre é curta quando descrita por palavras e tem um efeito dentro dela que equivale a muito pouca coisa passível de ser explicada. Quando uma palavra estala ou explode dentro de si sob a forma de uma imagem antes de ser palavra é quase quase como a forma como os cientistas explicam um deja vu. A mulher conhece a sensação e por isso gosta das palavras. 
Existe apenas uma palavra cuja ressonância a mulher não consegue traduzir. É uma das mais curtas da linguagem universal mas é o eco da beleza mais profunda da existência. Ao ver-se confrontada com ela, a mulher fica muda; aí sim, palavras não chegam. Nunca chegarão, aliás.

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