segunda-feira, 7 de outubro de 2013

by the window

Cinco da manhã. Sem conseguir dormir, a mulher abriu a janela e cruzou os braços no parapeito. Sentiu a presença. Era Seth, como sempre do lado esquerdo.

Tinha a esperança que estivesses aqui, disse ela.

O anjo sorriu:
The word for today is 'dream'. Discuss.

Ela fez uma pausa e depois
Imaginar. Ter uma visão. Olhar para a frente. Aprender com o que se fez ou não fez. Ter a coragem de criar a mudança.

Seth afastou uma madeixa de cabelo da cara dela. Olhos brilhantes como espelhos de rio. O anjo arrepiou-se:
Do you really believe in what you're saying?

Sim e geralmente eu sei, eu sinto. É como se ao ouvir dream me sentisse de facto na plenitude da luz ou no nevoeiro cerrado que encerra um mistério. Adoro essa vibração na palavra. Não gosto de névoa, de nuvens que ensombrem o sol, respondeu.

O anjo viu nos olhos dela uma faísca que conhecia. E então, disse:
Are you ready?

A mulher endireitou-se:
Sabes o que é não ter a menor partícula de dúvida, sabes o que é ver a beleza absoluta a oferecer-se aos teus braços, sabes o que é acabar com a mentira e ter uma semente de verdade nas mãos? Sim, estou pronta. Agora podes partir.

Wait, voltou ele.

Ela deu-lhe um beijo e disse-lhe ao ouvido:
Eu sei que estarás sempre aí. Mesmo que não te volte a ver.

A janela fechou-se.
O anjo ficou triste. Pela primeira vez em mais de trezentos anos, sabia o que era a tristeza, a sensação da possível falta. 
Ao sentir-se mais humano compreendeu que tinha terminado a sua missão. Pairou por uns instantes e depois não resistiu: sem fazer qualquer espécie de ruído, usando os seus dedos hábeis e esguios, reabriu a janela e ordenou à matéria que assim permanecesse, mesmo que a mulher a tornasse a encerrar. Foi apenas um pouco mas o suficiente. 
Seth nunca iria prescindir de vigiar o sono e a respiração tranquila daquela que amava.

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