sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O Avô João


Tenho uma imensa pena de não ter conhecido o meu Avô João. A minha avó Rosa, bem vestida e penteada, e certamente ainda a dançar lá nos céus, que me desculpe. Mas quem eu tenho verdadeira pena de não ter conhecido foi esse homem de cabelo preto azeviche e olhos verdes, chamado João das Dôres Quadros. Pelas histórias que tenho ouvido, sobretudo do meu pai e da querida tia Fernanda, só podia ser um homem extraordinário, dotado de um enorme sentido de humor e com uma visão para lá do horizonte mais próximo; não fosse ele oficial da Marinha, navegante de muitos mares. Além disso, a sua extensa prole é, na maioria dos casos, uma prova real do quanto ele devia ser invulgar. O meu pai é um belíssimo e original exemplo. Mas haviam mais. Havia o tio João, redondo como o planeta Terra, em cujo estômago cabia uma dúzia de ovos e um frango assado ao pequeno almoço, devidamente acompanhados de leite com café, e em cuja garganta moravam mil histórias e gargalhadas, regadas com um brilho nos olhos que iluminava qualquer um. Havia a tia Manuela, que parecia uma rainha das de Inglaterra, que me deixava muda; no fundo, acreditava que ela pertencia a um conto infantil e que apenas vinha emprestada para nos provar que os príncipes e princesas existiam. Havia a sensacional tia Fernanda, de quem já falei e que me ocuparia o resto da página. E finalmente, havia o mais novo, antes do meu pai, o tio Afonso, o meu tio preferido entre os homens por ser a aventura na pele, nos olhos, nos lábios e nos relatos que vinham de todos eles. Cada um deles, tenho a certeza, trouxe um bocadinho deste homem incrível que era o meu Avô. E aqueles que viemos depois, espero que tenhamos herdado pelo menos um ínfimo desse espírito tão especial. Acredito que sim. Por alguma razão, e através desta esta coisa tão moderna que é o Facebook, a família Quadros parece ter ensandecido na descoberta uns dos outros, como se, mais uma vez, ressuscitássemos o seu gene de viajante, adaptando-o ao século XXI. Quem sabe se não é ele lá em cima, numa tempestade de mar de uma dimensão que ainda não podemos imaginar, que agita todas estas águas para que o encontremos de novo, nem que seja ás partes, reunindo vários bocadinhos de cada vez.


(Nota importante: a família da foto não é a da minha família. Poderia ser mas apenas em número; modéstia à parte, nós somos muito mais bonitos)

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