quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Imaginarium

Nunca tinha preparado uma viagem com tanta antecedência. Sobretudo uma viagem imaginária. Fazia muitas, era certo; mas geralmente as de sonho eram de outro género, mais profissionais, mais daquele tipo da ambição pura que não envolve os mais próximos por ser mais dura ou demasiado alta e por isso mais vulnerável. "Para cair que caia só eu do cimo dos meus sonhos", pensava ela. Desta vez, no entanto, não era assim. Ela queria uma viagem com todos os que não conseguia deixar de abraçar por um minuto que fosse. À distância de mais de seis meses, planeou-a. Sem saber o destino, ou sequer se importar com ele, escolheu vôos, preferiu aquele local em vez do outro, definiu a cor da areia, o tipo de fauna e flora, a intensidade do calor. Depois, fazendo mais uma coisa até esse momento impensável na sua vida, partilhou o seu imaginarium com ele. Ele sorriu e apenas disse ""eu sei onde vamos". Descreveu o lugar que ela já conhecia na sua mente e, afinal, na realidade também; fez com que se arrepiasse. Ela, a viajante indomável, o espírito sempre em fuga, os pés eternamente sem raízes, não tinha sido capaz de vislumbrar o que lhe ia na alma. Ele, sim. Alguém lhe dissera em certa ocasião para ter cuidado com o que desejava muito porque não raras vezes se tornava realidade. Só que desta vez, ela não sabia. Mas ele, sim. Tinha descoberto o lugar onde ela queria voltar. Com ele. Com eles. Para o vestir na pele de todos e perpetuar a sua magia por todo o sempre.

1 comentário:

Anónimo disse...

Fiquei cabisbaixo,meditabundo,invejoso, recalcitrante,alarmado com a pobreza das minhas letras.Porem isso tudo já passou,ficou só e cá bem atarrachado o orgulho de te ler.