Uma das características do crescimento reside na nossa capacidade de arrumação. Por outras palavras, em aprender a classificar aqueles que conhecemos em prateleiras. Infelizmente para muitos, cada vez mais felizmente para mim, é mesmo assim.
Na adolescência, temos um saco imenso onde cabem todos os conhecidos a que com facilidade chamamos de amigos. A maturidade, e para nosso próprio bem, ensina-nos a comprar rapidamente um martelo, pregos e prateleiras de madeira que, contudo devem ser de espessuras diferentes. Naquela que fica mais ao nosso alcance, estão todos aqueles que nos apoiam, que nos mimam ou simplesmente nos querem bem. Um pouco mais acima, ficam as pessoas com quem apenas partilhamos algumas coisas por sabermos que não serão capazes de ser mais do que isso, mas que ainda nos querem bem. Num terceiro nível, estão os amigos dos copos, da saídas à noite com gargalhada fácil, aqueles que não temos toda a certeza mas ainda sabemos não serem capazes de nos querer menos bem. Na última de todas, estão os indesejáveis. Pessoas com a maledicência na ponta da língua, plenas de vontade de fazer da nossa vida um circo público, gente medíocre que não interessa a ninguém. Invariavelmente, esta é a prateleira mais cheia e por isso deve ser também a de menos espessura e material menos nobre: é que destes seres não precisamos para nada. Portanto, é muito bom ver quando o contraplacado se parte e todos eles caem directa e justamente no lixo.
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