Era tarde. Muito tarde.
O peixe-maldoso segredou-lhe ao ouvido "és a culpada de todos os males do mundo."
Deitada na cama, sentiu a angústia ascender e depositar-se no peito trazendo um peso de pedra que a quis sufocar.
Levantou-se. Sem fazer barulho, atravessou o corredor, entrou na cozinha, fechou a porta, sentou-se e acompanhou o cigarro com uma chávena de bebida de soja. Ela não podia deixar que o sufoco se instalasse.
Tentou desanuviar a mente. A imagem apareceu-lhe, bem clara: dias antes, voltando do colégio com o filho mais velho ele dissera-lhe
- Mãe, sabes a coisa mais triste que pode acontecer a uma pessoa?
- Diz.
- Não ter auto-estima.
Na cozinha, de madrugada, ela voltou a sorrir, como fizera naquele dia. E então, abriu o portátil e escreveu um texto longo sobre o respeito a si própria. Acabou-o com uma frase que recebera muitas vezes em versão sms: nunca se esqueça que é especial.
Vendo-a voltar ao quarto e adormecer, o peixe-bom suspirou de alívio.
1 comentário:
querida és ++, nunca deixas a alma no tinteiro nem a esperança no caixote do lixo amarfanhada pelo quotidiano se adivinhares quem eu sou dou-te outro beijo
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