sábado, 20 de setembro de 2008

Bailarina

Tinha 5 anos quando me ensinou a ler. Quando fiz 14, secou-me as lágrimas do primeiro desgosto de Amor. Completei 16 e chamou todos os nomes a um que não me tinha largado o pé e que depois de o ter, me traiu. Aos 19, emprestou-me o seu precioso Mini preto a cair de podre mas cheio de força com que galguei passeios e andei a 80 em terceira, por entre risos de amigas e a excitação da carta tirada há um mês. Aos 26, casei-me pela primeira vez e ela comoveu-se. Aos 32 recebeu o meu filho como se fosse dela e aos 42 voltou a emocionar-se com o meu segundo casamento. 
Eu sei que também me roubou o meu soutien preferido no dia em que eu mais o queria usar; sei que de vez em quando é picuinhas; sei que lhe saltavam os elásticos das meias quando corria, para sua grande irritação e também me lembro que dormia agarrada a mim que nem uma lapa porque tinha sempre muito frio. 
Mas talvez seja por tudo junto que aos 43 anos tenho toda a gratidão do mundo para lhe dar e ainda hoje não consigo contar o quanto gosto dela porque me sabe sempre a pouco. 
50 anos não se fazem todos os dias. Parabéns, bailarina de sonhos.

1 comentário:

chocolate e baunilha disse...

Oh, minha querida, queres que eu me emocione de verdade, ou simplesmente que este tempo de leitura do teu precioso texto, se condense num potencial enorme de energia? As duas coisas, de certeza!...É verdade, dormíamos juntas como na foto, e em sonhos viajávamos de mão dada; ainda hoje, sabemos não nos perder de vista, ignorando a distância.
És verdadeiramente minha irmã.
Obrigada, mana.