Antigamente, quando as pessoas morriam, ninguém explicava a uma criança o que acontecia depois. Era estranha, a coisa. Por um lado, e por causa da nossa educação judaico-cristã, obrigavam-nos a acreditar que, depois de fechar os olhos pela última vez, todos ascenderíamos magicamente em direcção ao céu (isto, claro, se nos portássemos bem) e que isso era muito bom, sendo que melhor ainda era ficar por lá. Mas quando a morte realmente chegava, a família inteira desfazia-se em lágrimas e tristeza; e não era raro usarem o negro como cor única durante meses ou anos, como se tivessem culpa ou fosse castigo. Como é natural, as crianças cresciam temendo a morte e acumulavam sérias dúvidas sobre se a ascensão para o imenso azul seria assim tão boa...
Sei que tive medo durante muito tempo. E quando o meu filho nasceu, perguntei-me muitas vezes como deveria abordar este assunto para que não herdasse os mesmos temores. Nessa altura, alguém (que tenho a imensa pena de não me lembrar quem para lhe agradecer por toda a eternidade, na terra e no céu) me contou a versão que costumava contar aos pequeninos lá de casa: "quando morremos, cada um de nós transforma-se numa estrela e assim pode ver os que estão cá em baixo, todos os dias". Achei lindo. E por isso, desde esse dia senti-me reconfortada como se fosse uma criança.
As estrelas-almas-pessoas dão muito jeito. Para mim é mesmo bonito. E se alguém achar lamechas, olha, temos pena.
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