segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

a palavra

A mulher passava a vida a apregoar que nunca ficava doente. A realidade era essa. Diziam-lhe que comia pouco, que estava magra (ou mesmo demasiado magra), que não dormia nem descansava o suficiente, 'um dia ainda apanhas uma anemia', agoiravam. É certo que andava mais cansada, um filho adolescente e outro de dois anos e meio saem do pêlo e sobretudo da pele das mães, que querem que vos diga, é um facto, os sonos eram curtos e demasiado ligeiros mas de cada vez que fazia análises, radiografias e quejandos, estava sempre tudo perfeito. 
Contudo, o mês era Janeiro e o ano, 2012. Culpa dos Maias, do signo dela, do buraco do ozono, de uma partida dos Deuses ou tão simplesmente do frio, a realidade é que o novo mês entrou e ela foi brindada com acessos de tosse, dores de garganta e estados mais ou menos febris. Vinte e três dias depois resolveu por fim dar parte de fraca e fez o que toda  a gente fazia: consultou um médico. Uma vez mais, o sangue dela era lindo e vaticinava o melhor, os pulmões (apesar dos cigarros) apresentavam-se pujantes e saudáveis. Calcanhar de Aquiles era mesmo a garganta, vermelha até mais não poder e responsável pela rinofaringite cujos sintomas a tinham levado à prostração e irritação, e daí à consulta.
Foi à farmácia e, lá em cima, no céu, os Senhores sorriram. A mulher, também: ia tratar de si e voltaria a ser a mesma. Era um alívio. Ela sabia que era uma doente insuportável. A palavra doença tinha de lutar todos os dias para não ser arrancada à força e continuar a fazer parte do dicionário dela.

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