quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

o fole

A mulher subiu as escadas, pé ante pé, sem querer fazer barulho, o frasco de xarope na mão. Os dois miúdos dormiam. Ao entrar no quarto do mais novo, ouviu a respiração pesada e conteve a angústia. Era menos pesada que antes mas persistia em jeito de fole, como lhe chamara o médico. 
'Maldito fole'
pensou ela, 
'bem que podias estar neste peito em vez de estar nesse pequenino'
Com delicadeza, ergueu o bebé, procurando que ele tomasse o remédio entre sonhos. A criança abriu os olhos, sorriu e lançou-lhe os braços. Rejeitou o xarope por duas vezes e depois desafiou-a com a única troca que o faria ceder: 
'Quero dormir com a mãe.' 
Era contra todas as regras em que acreditava; encolheu os ombros a si mesma e assentiu. O bebé adormeceu rápido, abraçado a ela. E a mulher pensou 
'Que se lixe. Ao menos assim a respiração dele fica mais amparada. E eu fico menos sozinha.'

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