A mulher saíu do colégio despedaçada. Era contra todas as previsões. Mãe experiente, deixara outra criança há muitos anos atrás com a mesma idade noutra escola, passara pelas angústias, pelo aguentar estóico diante do filho, pelo choro sem controle mais tarde no banco do carro sem-ninguém-ver. Por tudo isto pensara que agora seria diferente. Fizera tudo como sabia: preparara o miúdo fazendo do momento uma festa, convencendo-se a si mesma que estaria preparada. Esquecera contudo a diferença dos anos, a diferença das crianças, a rapidez com que a nossa alma se prepara para ficar apenas com o bom e o bonito, esquecera o mais elementar: preparar-se, proteger-se. Deixou o filho mais novo em prantos, chorados bem alto, saiu sem derramar uma lágrima, vertendo todas lá fora, sentindo-se desprotegida, sem rede. Repetindo o clássico, sentou-se num carro que não era o mesmo de há onze anos atrás, encostou a cabeça ao volante e chorou como se lhe arrancassem a vida. Sentia-se ridícula por dentro por conhecer o óbvio e ser capaz de o repetir. A primeira onda passou. Enxugou a cara, engatou a mudança e arrancou, uma reunião às dez horas esperava-a.
Cinco minutos depois o telefone tocou.
- A., sou a Margarida. Estou dentro da sala com o seu filho. Já passou tudo, ele está óptimo.
A mulher aguçou o ouvido: do lado de lá ouviam-se apenas vozes de crianças satisfeitas. Agradeceu com quantas vezes podia e respirou de alívio. 'Ainda há gente muito boa, gente que trabalha com sensibilidade', pensou. Uma segunda onda veio e chorou de novo.
Os adultos também precisam de colo.
1 comentário:
Senti o mesmo quando te deixei na escola pela primeira vez.Mas tu já conseguias reprimir o que depois choravas.Um abraço, caçula.
Enviar um comentário