A mulher entrou nos números sem receios. Era uma nova aventura, aquela. Sempre achara que não sabia o suficiente, não era capaz, numa atitude quase blasée de quem durante muito tempo não tivera que se preocupar com coisas comezinhas como a do fazer das contas. Depois os tempos tinham mudado. Vieram as crises, os medos, a sobre-responsabilidade, um sobre-respeito que nunca antes tivera. A sua tão querida sensação de independência desaparecera, tinha-se tornado num ser dependente às ordens do senhor das decisões do mundo. Mas ontem tudo mudara. De repente dera por si a olhar sem medos para os números frios, primos ou não primos, procurando dar-lhes a volta. E, nesse momento, uma ideia surgiu. Incrédula, apercebeu-se: tinha tido uma ideia matemática, era possível ter uma ideia matemática. Telefonou de imediato para a instituição financeira. Do lado de lá da linha escutou como a gerente a reforçava, dava o seu apoio, 'sim,faz todo o sentido, amanhã dou-lhe uma resposta, sem falta'. Quando desligou o telefone, a sensação de liberdade e independência tinham regressado em pleno. 'Como tenho andado enganada', pensou, 'ninguém manda na minha vida, muito menos os números'. A matemática é tudo menos imune a uma boa ideia.
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