quinta-feira, 4 de agosto de 2011

o que nos pode valer

Pernas e braços ficaram de súbito demasiado grandes. A penugem da infância explode agora em fios mais grossos, insubordinados, em lugares nunca antes imaginados. A voz altera-se, tal como o cabelo. De repente, o espelho existe, reflectindo uma figura, uma cara, servindo como teste de expressões, esgares, trejeitos que possam ser úteis no social da coca-cola. As opiniões definitivas tomam forma, o silêncio é o recato da individualidade, o mistério impõe-se, faz parte. A família fica em segundo plano (mas é o porto de abrigo jamais confessado para os momentos difíceis), qualquer frase a mais uma revelação desnecessária, a exposição que não se quer. Conheceram-nos miúdos, desconheçam-nos agora, não somos mais aqueles que julgavam ter na mão, parece ser a regra. O mundo comprime-se nos vinte centímetros em redor e nos micronésimos de segundos onde poderá ser possível captar a atenção mas apenas se se tiver a velocidade e a gentileza de um beija-flor ou a contundência de um supersónico.
Adolescência. Complexa, difícil e insondável. Valha-nos apenas a memória da nossa para conseguir lá chegar. Sem isso, nada feito.

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