O Presidente disse-me:
- Alex, ouvi dizer que o teu pai tem problemas de coração.
Respondi...
- Sim, acabei de saber que vai ter de ser operado de urgência para colocação de dois by-pass.
- Que chatice.
Disse o Presidente. E acrescentou:
- Esta tarde temos de rever a apresentação e sem hora para terminar.
O meu pai ia ser operado a coração aberto dois dias depois. Nesse mesmo dia, e à mesma hora eu, Directora-Geral Criativa de uma conhecida multinacional, iria fazer uma apresentação de uma imensa responsabilidade que poderia permitir à empresa ganhar a conta de uma reconhecida marca nacional. As palavras do Presidente deixaram-me gelada. Mais, senti-me um número, vazia de conteúdo, isenta de qualquer cuidado. Aquele homem estava-se literalmente nas tintas para o estado das minhas emoções; não era humano ao ponto de me dispensar da reunião nem suficientemente inteligente para sequer considerar se eu estaria em condições para apresentar o que quer que fosse.
O que é demais, é demais, pensei. Então, tomei a minha decisão, aguardando apenas pelo momento de ganhar o concurso para a concretizar. Dois meses depois, a marca era da multinacional e, às oito horas da noite, marquei reunião com o Presidente. Tive então o prazer de dar um chuto num ordenado maravilhoso, acabar com uma carreira que todos achavam "fulgurante", virar costas ao mundo das grandes companhias internacionais.
Viver doze horas por dia entre pessoas sem alma não era para mim. Continua a não ser e por isso defendo todos os dias aquelas que são para mim as verdadeiras prioridades da vida. Por isso ontem desmarquei uma série de reuniões. Por isso também ontem não escrevi aqui. É que a minha mãe veio fazer a sua revisão médica relativa ao cancro que sofreu há três anos atrás. E se há coisa que não volto a fazer na vida é não estar ao lado dos meus quando eles mais precisam. Nem que seja para ouvir boas notícias como felizmente foi o caso. Como se costuma dizer, não há mesmo dinheiro que as pague.
1 comentário:
É por tu seres assim que eu gosto de ti!!
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