Lá fora, não se fala tanto. Não se queixa tanto. Não se discute tanto. Não. O que há para dizer diz-se, pondo o dedo na ferida, apontando soluções. Em dois artigos no máximo, por jornal. Não se descascam as desgraças até ficarmos exaustos. Não se esticam as infelicidades até nos sentirmos miseráveis. Não se leva o pormenor sórdido ao mínimo denominador comum até termos vontade de fazer as malas e ir embora. Não. Diz-se o que se tem a dizer e o pronto que vem a seguir é anunciar como o país cresce noutros sectores, como se enfrenta a competitividade que vem de outros lados. Deve ser por isso que se vêem pessoas nas ruas com ar satisfeito. Deve ser por isso que continuam a fazer compras e a jantar fora com as famílias. Deve ser por isso que tudo tem um ar arejado e bem arranjado. Deve ser por isso que as ideias continuam a florescer.
Este nosso gene do fado é tramado. Não é o da música. Não. Esse é lindo. É o da miséria e do miserabilismo de que tanta gente se aproveita para nos deitar abaixo, e nós a ver. Graças a Deus tenho outros tantos genes a pular cá dentro. Por isso, volto a dizer: Não. Não á inércia, não ao pessismismo, não ao queixume de café. Há sempre algo a fazer. Exactamente como me disse alguém num destes dias de fim-de-semana prolongado: "sabes, niña, la crisis tambien es mucho lo que hagamos de ella... y lo que dejemos que nos hagan con ella".
1 comentário:
Subscrevo. Crise é quando me cortam a água sem aviso e eu fico sem banho.
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