quinta-feira, 11 de julho de 2013

não serviu de nada

O miúdo, contrariado, gritava em prantos, como se estivesse no São Carlos a querer chegar com o seu drama á última fila. As lágrimas saltavam dos olhos como nos desenhos animados, a voz saia num volume semelhante ao máximo da televisão. A mãe, teimosa, quisera cortar-lhe o cabelo perante a ameaça saltitante dos pequenos seres diminutos que por vezes povoam a cabeça dos mais pequenos e se contagiam aos mais velhos (a mãe sabe porque já passou demasiadas vezes por isso). Com a máquina na mão, foi-lhe cortando o cabelo, os gritos transformando-se cada vez mais em berros, cada vez mais estridentes. A mãe foi elevando o tom de voz e, no limite do desespero, dois tabefes espalmaram-se na criança.
Não serviu de nada, o miúdo insistiu e gritou ainda mais alto, a vizinhança toda certamente pensou em violência doméstica ou outras brutalidades.
Não serviu de nada, apenas para que a mãe que sou eu, hoje se sinta culpada e tenha vergonha. É que os miúdos têm direito a descontrolar-se e perder todas  as estribeiras; as mães, enquanto adultas que são, têm o dever do controle. E não serve de nada a explicação depois, os abraços ternurentos e o pedido de desculpas pela estupidez de dois açoites. A culpa mantém-se cá e nestas situações torna uma mãe numa criança descontrolada. Esse não é o seu papel nem exemplo nenhum.

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