quarta-feira, 14 de março de 2012

verborreia

Sentada à mesa com os dois filhos, ela aproveitava o contacto com os dois, na refeição do dia possível em conjunto. Na sua família, as refeições sempre tinham sido algo importante. Eram os momentos de partilha, do acertar de agulhas. Com os seus pais e irmãos, ela tivera o privilégio do almoço e jantar diários. Nestes tempos mais modernos e na cidade, apenas o segundo era praticável sendo por isso para ela, sagrado.
O miúdo mais velho contou como correra o teste de História, descrevendo as perguntas e a forma das suas respostas. Orgulhosa, ela ouvia, o miúdo mais novo brincando com a sopa mas atento ao discurso do irmão. O adolescente fez uma pausa e então a criança de quase três anos discursou, elaborando um parágrafo enorme, incompreensível, na sonoridade imitando as palavras do irmão. Riram os três. Quando o jantar terminou, os miúdos concordaram que ela não iria fazer mais nada e arrumaram os pratos. A mulher comoveu-se de tanta plenitude.