Sentada no avião, a mulher apertou o cinto de segurança, engoliu as culpas e decidiu que aqueles quatro dias, mesmo se vividos em conjunto com outras pessoas, seriam para ela e só para ela. Os dias passaram, quilómetros de conversas sucediam-se de forma interminável mas ela conseguia, conseguia reflectir em simultâneo, despejar a cabeça, fazer uma viragem que era no fundo uma nova viagem dentro de si mesma. As religiões do dia eram apenas os momentos em que ao telefone matava a saudade do marido e dos filhos; tudo o resto era liberdade para dentro, mesmo se ao sabor dos cuidados dos outros ou dos destinos dos outros. Na última manhã, ao despertar, compreendeu que aquela fora mesmo uma viagem muito além da distância física: era a primeira vez que vivera o direito de se ausentar e que as culpas não eram disfarçadas mas antes banidas. Pela primeira vez, considerou-se uma boa mãe e uma boa companheira pelo simples facto de se permitir o seu próprio espaço. Essa era uma enorme vitória.
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