Era segunda-feira.
Era a primeira segunda-feira de muitas segundas, terças, quartas, quintas, sextas, sábados e domingos em que acordava sentindo-se em paz. Nos minutos que lhe restavam antes do despertador tocar de novo, antes de ter de se levantar para erguer a vida à sua volta, reflectiu no motivo. A resposta surgiu naturalmente, sem demoras, sem esforços desnecessários. Aquela paz tinha um nome: assumir responsabilidades. Por momentos, num flashback meteórico, reviu o passado recente e reviu-se nas múltiplas vezes em que roubara a sua paz e roubara a dos outros por não assumir o que era seu e entregar de bandeja ao outro o que realmente lhe pertencia. O que fizera a diferença era apenas isso. Ela dera A César o que era de César. E, ao fazê-lo, ficara apenas com a sua parte, nada mais lhe pesava nos ombros. Isso era bom, era perder lastro.
O despertador tocou.
Restavam-lhe cinco minutos antes da casa acordar. Foram suficientes para mais um bocadinho consigo, para pensar em silêncio só mais um pouco. Pensar que quando somos miúdos queremos ser adultos, sem qualquer noção das responsabilidades; quando chegamos à idade adulta, brincamos aos adultos, na verdade nunca quisemos deixar de ser crianças, só que com isso magoamos meio mundo. Na infância, apontar o dedo e atribuir culpas é obra de um momento, no seguinte passa e continuamos amigos para sempre. Na maturidade, actos repetidos desses desgastam, quebram e muitas vezes matam.
Os cinco minutos tinham passado. Levantou-se serena e pegou no seu novo saco de responsabilidades com imenso prazer.
2 comentários:
bonito.
mas...
... e isso tudo antes de por um pé no chão...
... eu cá para mim faria rachundrestlsigeaslmkjbxdbrodbitazsq e já seria uma sorte.
tem dias, papi ; )
Obrigada e um beijo
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