quinta-feira, 6 de outubro de 2011

um pouco mais acima



Desligou o telefone e um travo amargo emergiu. Sentiu-se parva, muito parva, uma perfeita tonta. Os sinais tinham lá estado, cada vez mais patentes, em cada ocasião mais presentes, ela tinha-os visto e não quisera saber. Desta vez, tinha ligado com saudades, o motivo era um sonho com a amiga sempre ocupada, como se fosse preciso um sonho para contactar quem se gosta. A amiga respondera em jeito blasée, enchera a linha telefónica com as suas mil ocupações, viagens e sucessos. Do lado de cá, a mulher foi ficando pequena, diminuída, estreita, minúscula, até se tornar insignificante nas palavras da outra. Desligou então o telefone e ficou triste. Deixou-se viver a mágoa, olhou-a de todos os lados, limpou-se dela e finalmente concluiu a mesma verdade que aprendia de cada vez que tinha desgostos de amizade: às vezes é preciso deslocar certas pessoas para uma prateleira mais acima, mais longe do coração. A simples constatação, ajudou. Respirou fundo e seguiu a sua vida sem mais amargura. E com menos uma ilusão.

(A ilustração maravilhosa é de Yusuke Yamada. Obrigada, querida A.R.)

2 comentários:

Anónimo disse...

as amigas não têm esses efeitos...em vez de prateleira sugiro um armazém alugado onde apenas vás muito de vez em quando...
beijos Alexandra
Carlota

Hacker maker (Vicente) disse...

lol... acho que tens razão. Um beijo grande e obrigada!