Na televisão, os medos do mundo ameaçavam, procurando cumprir a tarefa diária de agitar o ser humano, deixá-lo sem acção, bloquear. Irritada, pegou no comando e tirou o som. Tudo ficava muito diferente sem as palavras, bastante ridículo até, poderia dobrar-se com vozes de um qualquer discurso, até de amor. Não contente com isso, a mulher desligou também a imagem.
Sentada no sofá, escutou o silêncio, o som de uma pausa merecida. Por momentos, reviu todos os instantes daquele dia passado a correr, sentiu-se plena. Era certo que alguma vez já fora mais rica em substâncias materiais, clara e abundantemente mais rica. Mas agora sabia como oferecer mais riqueza a si mesma por saber de forma exacta onde se encontrava o seu centro, a sua voz, e respeitá-la. Tinha-lhe custado muitos anos chegar ali; por ironia, e em contrapartida, custara muito pouco daquilo que compra as coisas materiais. Nesse momento, o filho mais velho desceu e deu-lhe um beijo de boa noite. Ela olhou para ele e agradeceu mais outra riqueza que apenas se compra com saúde e respeito e que nos devolve mais riqueza quando a ajudamos a rechear-se de amor por si mesma. A mulher deixou-se estar e saboreou.
5 comentários:
Que talento minha amiga!
Um bj para ti xxH
obrigada querida.
e que saudades tuas!
Se há coisas deliciosas na vida, uma delas é seguramente receber um beijo espontâneo de um filho. O amor incondicional de pais e filhos é algo que, para além de natural, tem que ser conquistado todos os dias.
Amiga do lado, têm tamanha ternura as tuas palavras! Nunca me cansam, nunca me cansam, nunca me cansam...
Que alegria ter-vos por perto.
Um beijo a todos os que me mimam todos os dias lendo-me.
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