A mulher ouviu a pergunta da amiga e pressentiu a resposta da senhora do café:
Eu não tenho marido, não sou casada. Tenho apenas um pai.
A senhora era consumida de magra, o sorriso, fácil, um tudo-nada subserviente, o olhar tristonho, a postura, sofrida.
À saída, a mulher agarrou no braço da amiga e contou as misérias de uma personagem vítima de um progenitor atroz, soprado de mau, insatisfeito com tudo, uma casa escura que nunca deixaria outra herança que a de uma vida escrava...
A amiga sorriu e disse
Não consegues ouvir nada sem inventar uma história, pois não?
Riram as duas e a cidade continuou o seu caminho, escondendo percursos bons, outros tramados, alguns reais, outros imaginados, ainda assim todos fazendo parte desta coisa equilibrada no seu desequilíbrio chamada existência.
Sem comentários:
Enviar um comentário