O homem, com uma segurança que raiava o enervante, disse para a audiência
"Vocês podem querer ser uma de duas coisas nesta existência: podem escolher entre ser vítimas da vida ou donos da vossa própria vida.
No primeiro caso, andarão ao sabor de escolhas que não são vossas e lamentar-se-ão eternamente. Devo dizer-vos que esta é uma escolha muito confortável: não assumimos a responsabilidade de nada e sendo eternos descomprometidos com a nossa própria realidade podemos tranquilamente adoptar uma postura de desgraçados, conquistar a pena de alguns e ter sempre uma razão para mais nada fazer porque afinal 'eu tenho tanto azar'.
No segundo caso, quem faz as escolhas, quem decide como e o que quer viver, são vocês. A vida não vos dobra, antes, dão-lhe a volta. Claro que é menos confortável, está-se mais sozinho (até porque os outros invejam de algum modo quem é dono da sua vida) mas pelo menos vive-se sem que a vida passe por nós de forma amorfa, indiferente, rotineira.
A decisão, por mais que vos pareça incrível, é inteiramente vossa. De mais ninguém."
Eu sei qual é e sempre foi a minha decisão. O que me irrita agora é perceber que também me deixei levar com estas tretas de crise, da depressão colectiva e do desânimo que dão tanto jeito a governantes manipuladores que apenas desejam que a inércia cristalize, que o medo perdure e a revolta abrande. Felizmente, estou de cabeça de fora novamente, saindo da manada, recusando o pânico, esbracejando.
Não quero ser uma vítima da vida, nunca tive feitio para isso.
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