segunda-feira, 21 de março de 2011

a mão pequenina

Ainda o despertador não tinha tocado e já fizera a lista do que não ia conseguir fazer, do indispensável que era aquela manhã perdida. A mulher decidiu então abrir os olhos para começar o dia cansada, cheia de angústia. O toque de uma mão pequenina no rosto fê-la deixar-se ficar. Uma festa prolongada, depois outra e ainda mais outra. Abriu os olhos: o bebé fitava-a com olhos de quem tinha visto o desespero escondido atrás das pálpebras. Eram olhos de uma ternura crescida, compreensiva, sem as palavras que estragam tanto o discurso e os actos dos adultos. A angústia da mulher começou a ceder. Abriram as janelas juntos, tomaram o pequeno almoço partilhando torradas, o bebé acompanhou-a ao Banco e ao Supermercado, desarmando todos com a sua simpatia. Quando deu por ela era uma da tarde, tinha resolvido muitos mais assuntos do que imaginara e no lugar da angústia e do cansaço tinha um calor reconfortante que se instalara no peito. Deixou o bebé em casa, cheia de saudades. Ao vê-lo despedir-se à janela, sempre a sorrir, prometeu a si mesma que nunca mais veria como perdida uma manhã daquelas. Ele não merecia. Ela, também não.

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