Passavam poucos minutos das três da tarde. A mulher recebeu o telefonema, as águas tinham rebentado, o bebé estava prestes a nascer. Arrumou o caderno e o computador na mala de forma apressada, claro que se esqueceu do carregador, e seguiu, cozinhando a angústia de mais um dia de trabalho pela metade, numa semana de cinco este já era o terceiro. Sem saber como iria completar tudo que tinha pela frente (e que tanta falta lhe fazia) acelerou pelas ruas da cidade como se as dores e o parto fossem dela.
Ao chegar a casa percebeu a preocupação da mãe e o receio de quem iria sê-lo pela primeira vez. Uma calma súbita envolveu-a: chamou o taxi, cronometrou os tempos entre contracções, deu força á futura avó e segurança à miúda. O carro chegou e foram-se embora entre sorrisos, boas sortes e promessas de telefonemas assim que a criança chegasse. Fechou a porta, sentou-se na mesa e dispôs-se a trabalhar enquanto o seu bebé dormia. A angústia do tempo limitado apertou-a: de repente sentiu-se muito sozinha.
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