sexta-feira, 30 de julho de 2010

De volta a casa

Deitou papéis fora. Fechou a agenda e o caderno. Recolheu lápis, canetas e borrachas de volta ao estojo. Por fim, encheu a mala, recostou-se na cadeira temporária onde se sentara nos últimos 20 dias e sentiu a calma a cavalgar por ela dentro. Estava de volta a casa.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

A mão por baixo

Depois de todo aquele tempo, ela finalmente tinha percebido que era impossível. Impossível fazê-lo sentir a gravidade das situações. Impossível esperar que a conhecesse ao ponto de lhe colocar a mão por baixo para não a deixar tropeçar ou que lhe oferecesse o ombro sem que fosse preciso pedir. Sentiu-se então eternamente cansada; como se tivessem aberto um túnel escuro dentro dela do qual aquela parte nunca mais seria capaz de sair. Olhou para ele com um milímetro de esperança: verificou que afinal estava ofendido. Porque ela tinha pedido ajuda.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

O alívio

Não é fácil, sabe? Não é fácil ver tropeçar aqueles que foram os nossos pilares, que nos seguraram nas mãos para conhecermos a mestria de andar e de muitas outras coisas. Não é fácil sentir que é a nossa vez de servir de alicerce, de base, de sustentação, sentir que de súbito a vida se virou ao contrário e os papéis se inverteram. A minha grande força, ridícula ou não, é o optimismo, achar que as coisas têm sempre um sentido, que os senhores, lá em cima, não dormem, e nos enviam estes trabalhos por alguma razão. Recuso-me sempre a encontrar uma que seja negativa; talvez por isso sou mesmo ridícula ou talvez essa seja mesmo a minha forma de defesa de uma realidade que não é fácil de ver. Mas é nesse ponto que estou agora, percebe? No ponto de me desviar das sensações que não quero, dos pensamentos que me assustam, e encontrar um motivo cor-de-rosa para todo este processo, ou melhor, para esta fase (fase é uma palavra melhor, as fases geralmente passam, os processos culminam). Acho que já compreendi: esta é uma forma de retribuição de muitos anos de trabalhos e cuidados. Quem sabe a maioridade absoluta é uma volta à infância como forma de recebermos aquilo que demos. Faz sentido. Vê? Já encontrei uma explicação. O alívio começa a crescer devagarinho. Que grande alívio.

terça-feira, 27 de julho de 2010

As dores de crescimento dos pais

Os pais também crescem. Crescem e quando de repente damos conta estão cheios de dores de crescimento. A diferença é que as deles são mais intensas e o corpo de repente fica cansado de tanto crescer. Nessa altura, voltamos a sentir-nos pequeninos. Como quando nos perdemos deles e receamos nunca mais os voltar a encontrar.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Gostava de ser luz

Há um brilho que é próprio das verdadeiras estrelas que por alguma razão se transformaram em seres humanos. É um brilho que não se apaga com o passar dos anos ou com o andar da vida; antes, acentua-se, por ser verdadeiro, por se tornar mais transparente uma vez que se vai despindo da máscara do exterior. A minha mãe tem esse brilho. Por isso me custa tanto vê-la triste. Hoje é um daqueles dias em que gostava de ser luz pronta a ser injectada.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Bonito

Deitei-me às quatro da manhã, depois de uma noitada de trabalho como não fazia há muito tempo. A energia não se compara à dos 20 anos, nem à dos 30 mas é bom voltar estar em equipa e ver uma ideia a tomar forma, esticar, perder as dores de crescimento e ficar bonita.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Esvaziar a despensa

Marcou um almoço, teve outro, pôs uma parte dos assuntos em pratos limpos dizendo o que queria ou o que lhe ia na alma e a vida encarregou-se de reformular o resto como a vida sempre faz, fazendo um switch perfeito nas roldanas do céu. Sentia-se uma mulher de sorte por ser capaz de entender algumas das maquinações universais, mas sobrava-lhe o amargo de boca que irá resolver amanhã, sabendo que, mais uma vez, não poderá ter expectativas nem desejar que o mundo seja perfeito. Afinal, as pessoas têm as suas próprias visões das histórias e apenas ficarão nas nossas se assim estiver determinado. 'O mais importante,' pensou, tentando vencer a sua impaciência, '...é nunca deixar a despensa com coisas a apodrecer.'

terça-feira, 20 de julho de 2010

O verbo

Perdi os Pearl Jam, a Norah Jones e, tristeza das tristezas, o meu adorado Prince. Tentam compensar-me dizendo que as filas eram intermináveis, que o pó se infiltrou por todos os lados e poros das camisolas; não quero nem saber. Encare-se o facto: perdi o Prince. Ando queixosa, eu sei, mas esta foi a maior perda de todas as da música deste ano. Além disso, tenho perdido também dias de escrita aqui e também ali, por razões que roçam o meu cansaço e a preguiça militante que se instala quando os dias se perdem na sua maioria por questões e teimosias inúteis. Não há nada que me canse mais que perder tempo com diarreias do foro egocêntrico e mental dos outros.
Hoje é um novo dia. Sem Prince na alma e com o verbo perder na ponta dos dedos para que se esfume, se evapore e perca o verbo definitivamente.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Seja como for


Mais um concerto que perdi. Juro que para o ano vou a todas. Seja como for.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

0-0

Deu uma cambalhota, fez uma surpresa, não deu importância a coisas menores. Resultado: 0-0. Amanhã é outro dia, pensou, sentindo-se frustrada.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Too late, darling



Não vou vê-los no dia 10 e tenho pena. Muita pena mesmo. É no que dá chegar atrasada.

Engole mais esta

Entre papéis, ideias e imagens, a mulher deu pelo calendário percebendo que tinham passado três dias sem que tivesse escrito uma linha sequer. O sentimentozinho de culpa mordeu-a, a ela, a disciplinada, que antes fizera gala do tempo que se torna elástico quando um homem muito bem quer. 'Engole mais esta', pensou. Os senhores lá de cima sorriram.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Mudar de contexto

Mudar de ritmo, mudar de vida, de posição, nem que seja por momentos, sabe bem. São mudanças que nos colocam no sítio certo, que nos tiram do mesmo lugar ou que desmistificam muitas coisas do passado, por resolver. Esta semana, mudo de contexto. É estranho, e divertido também. Sobretudo para mim que aprecio a falta de rotina.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Roubo ao blog da Patrícia Reis

Bernardo Soares

A vida é uma viagem, experimental, feita involuntariamente. É uma viagem do espírito através da matéria, e, como é o espírito que viaja, é nele que se vive.

Abandono

Ontem abandonei um livro que estava a ler e troquei-o por outro. Eu sei que é um dos direitos do leitor (como diz Daniel Pennac no seu maravilhoso livrinho 'Como um romance') mas custa-me sempre. Fico com aquela sensação de infidelidade de que não gosto. Ridículo? Talvez. Vale-me sempre a desculpa de que há sempre um livro melhor para ler e que não terei anos para os ler a todos. Venha o próximo.